Tecnologia brasileira pode amenizar efeitos da quimioterapia
Os sofrimentos de pacientes em tratamento quimioterápico podem se tornar mais amenos. Essa é a proposta de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de Campinas (Unicamp). Trata-se de uma nanopartícula capaz de facilitar o caminho dos medicamentos aplicados na veia até as células cancerígenas. Esse suporte está em fase de testes laboratoriais.
A tecnologia, chamada de nanopartícula de sílica peguilada, possui uma superfície externa hidrofílica e uma interna hidrofóbica, que mantêm o medicamento em seu interior. Assim, a liberação precoce do remédio durante o transporte pelas veias é evitada, reduzindo efeitos colaterais e diminuindo a concentração necessária da dose. “A viabilidade disso depende de algumas etapas de testes e da aprovação posterior da Anvisa”, afirmou Leandro Carneiro Fonseca, pesquisador e doutorando em Química, ao portal da Band.
Grande parte dos efeitos colaterais presentes na aplicação de medicamentos desse tipo de tratamento ocorre porque os fármacos possuem baixa seletividade, ou seja, atacam tanto as células cancerígenas como as sadias, acarretando uma alta toxidade. Essa toxidade é intensificada por causa das grandes doses aplicadas, já que os fármacos são insolúveis em água (hidrofóbico) e o sangue é um fluido aquoso (por conter aproximadamente 92% de água). Por esse motivo, se faz necessária uma quantidade maior de fármaco, fazendo com que a quantidade certa atinga a célula doente, ainda levando em conta o baixo tempo de circulação do sangue.
A sílica da nanopartícula garante a eficiência do transporte na corrente sanguínea. “É como se a nanopartícula de sílica fosse um carro que transporta de maneira mais eficiente o fármaco até a célula sem que haja um desperdício do mesmo no percurso. Isso ocorre pois o “nanocarro” é solúvel no sangue e seu interior, onde o fármaco está contido, é hidrofóbico, permitindo a elevada retenção do quimioterápico. Dessa forma, é usada uma menor quantidade de fármaco, justamente porque a substância chega na quantidade adequada para o tratamento”, explica Leandro para o Inova Unicamp.
A estrutura ainda possuí o polímero chamado polietilenoglicol, que é capaz de desviar células brancas, evitando assim que as nanopartículas sejam fagocitadas por essas. Assim, a probabilidade das nanopartículas serem detectadas diminui, aumentando o tempo de circulação delas e otimizando o acesso às células cancerígenas. A expectativa é de que em 10 anos os efeitos ruins da quimioterapia sejam bastante amenizados por meio desse método.