Primeira banda transexual da Índia, 6 Pack Band polemiza e obriga país a lidar com preconceitos

A Índia está sendo colocada frente a frente com alguns de seus maiores preconceitos. A 6 Pack Band, formada por seis mulheres transexuais, já conta com mais de 1,7 milhão de acessos no clipe do single Hum Hain Happy, um cover de Pharell Williams, lançado no dia 6 de janeiro, para coincidir com o Dia da República da Índia. O vídeo mostra uma sociedade tolerante com as pessoas transgêneras.

As coreografias do grupo – composto por Komal Jagtap, Bhavika Patil, Fida Khan, Chandrika Suvarnakar, Asha Jagtap e Ravina Jagtap – remetem a gestos da cultura hijra, como são chamadas as transexuais na Índia, majoritariamente estigmatizadas no país. “Quando andamos nas ruas, as pessoas nos agridem verbalmente. Elas alertam as crianças a ficar longe. Meu guru dizia: ‘Olha, nós somos hijras. As pessoas riem de nós, mas você nunca deve mostrar a sua dor”, comentou Komal Jagtap ao The Guardian.

Komal Jagtap, aliás, saiu de casa no ano de 1999, com apenas oito anos de idade, por não suportar a pressão familiar acerca de sua identidade de gênero. “Meu irmão e minha irmã me diziam: ‘Você deve usar calças e camisas e tudo vai ficar bem’, mas eu respondia: ‘Isso não é quem eu sou’. Da primeira vez que me viram vestindo um sari (vestido feminino indiano), minha família disse: ‘não tente nos ver mais, você está morto para nós'”, contou Jagtap, que foi acolhida por uma comunidade transgênera, liderada por um guru igualmente transsexual.

Cantora desde a juventude, a vida de Komal mudou quando o produtor Ashish Patil, da Y Films, um braço jovem de Bollywood, decidiu lançar a primeira banda transgênera da Índia. Após passar por uma peneira de 100 candidatas, foi selecionada, com as cinco companheiras, para compor a banda. “Com a 6 Pack Band, já provei ao mundo que eu posso fazer alguma coisa. Podem me chamar de nomes, se quiserem. Tenho orgulho de ser chamada de hijra. Sou uma cantora da 6 Pack Band. Hoje, eu sou alguém”, comentou.

A comunidade transgênera da Índia inclui 1,9 milhão de pessoas. Em 2014, a Suprema Corte do país determinou que as pessoas transexuais, categorizadas como “terceiro sexo”, tinham direitos iguais aos demais cidadãos perante a lei.