Na era medieval, vilarejo inglês mutilava seus mortos para impedir seu retorno, afirmam cientistas
Arqueólogos da Universidade de Southampton e da organização Historic England encontraram aquela que pode ser a primeira evidência de que as pessoas, durante a Idade Média, tomavam uma série de precauções com os corpos de seus mortos. Não de higiene – essas medidas só viriam a ser adotadas na Europa poucos séculos depois. Mas para evitar que eles retornassem do além como mortos-vivos, mesmo.
Os achados de dez corpos na vila de Wharram Percy (hoje abandonada), no condado histórico de Yorkshire, na Inglaterra, podem confirmar que certas comunidades acreditavam que os mortos poderiam não ter seu descanso eterno, por causa de atos vis cometidos em vida, tendo seus corpos reanimados por Satã em pessoa. Os únicos registros de práticas semelhantes, até então, eram os “túmulos de vampiros” encontrados no leste europeu, nos quais os cadáveres apresentavam estacas cravadas no peito.
Essas crenças aparecem em vários registros que datam do século XI em diante, como nos escritos do autor medieval William de Newburgh, que narrou a história de um jovem, morto após cometer adultério, vagando por uma vila e “enchendo todas as casas de doenças e morte com seu hálito pestilento”.
As formas de impedir que isso acontecesse podem ser observadas nos dez cadáveres nos túmulos ancestrais de Wharram Percy: fêmures rompidos, cabeças separadas do corpo, vários outros ossos quebrados e apresentando sinais de que os corpos foram queimados.
A equipe de cientistas foi liderada pelo dr. Simon Mays, biólogo da Historic England especialista em esqueletos humanos; ao jornal Daily Mail, ele afirmou que, caso estejam corretos, será a primeira evidência concreta de tais práticas, mostrando como a visão de mundo dos europeus durante a Idade Média era muito distante da que temos hoje. “O mundo era um lugar ameaçador para eles e, sem conhecimento científico, eles se esforçavam para lidar com coisas que hoje vemos como corriqueiras”.
Os autores também acreditam que esses corpos são mesmo evidências dessas práticas – e não inimigos mortos em batalha, por exemplo – porque análises da arcada dentária confirmaram que os restos mortais se assemelham a outros encontrados em túmulos próximos do local da descoberta; Alistair Pike, professor de Ciências Arqueológicas da Universidade de Southampton, explica que isótopos de estrôncio encontrados nos dentes podem refletir a geologia do local no qual um indivíduo viveu durante a infância, quando é formada a dentição. Além disso, sugere que foi uma prática duradoura: os dados sugerem que esses corpos foram enterrados lá ao longo de cerca de 100 anos.