Carregando cruz de 40kg, pernambucano quer ir a pé até os EUA para provar inocência
Paulo Cícero de Lima dedica sua vida a um único objetivo: ser inocentado de uma acusação de latrocínio (roubo seguido de morte), que garante ser injusta, e lhe fez passar 16 anos na cadeia. Natural de Canhotinho, no Agreste de Pernambuco, busca chamar a atenção para o seu caso carregando uma cruz de 40 quilos em peregrinações. A primeira delas, contada pelo CuriosaMente em 2016, tinha como destino Brasília. Ele buscava chamar a atenção do Superior Tribunal Federal para que seu caso fosse reaberto para comprovar a sua inocência. Sem conseguir seu objetivo na primeira caminhada, iniciou a segunda, que vislumbra um destino muito mais distante: Washington, capital dos Estados Unidos. “Se eu não conseguir justiça no Brasil, vou conseguir nos Estados Unidos, onde tem órgãos competentes para isso. Eu não quero meu nome manchado, não posso aceitar isso”, justifica o pernambucano.
A história de Paulo Cícero começou a ganhar os contornos atuais em 1993. Naquele ano, foi acusado de matar uma jovem de 21 anos, na frente de seu filho, em Atibaia, interior de São Paulo – mas sempre alegou inocência. Em 2009, após uma longa batalha jurídica, Paulo foi libertado; porém, não inocentado. E as consequências da prisão – a vida longe da esposa e dos filhos, na época, ainda pequenos, os traumas causados pelo sistema carcerário brasileiro e os estigmas de assassino e ex-presidiário – ainda pesavam em sua vida. Foi assim que, depois de um sonho, resolveu chamar atenção para seu caso, dando início a romaria: em 13/02/2016, ele saiu de Itapevi (SP), aonde mora até hoje com seus parentes, e foi até Brasília, a pé, carregando nos ombros uma a cruz que seria levada até o STF. “Achei que estava louco, mas entendi o que o sonho queria me dizer. Era o início da minha luta por Justiça. Aquelas pessoas que me seguiam em sonho, são todas essas que hoje querem saber a minha história. E acredito que vou conseguir Justiça”, rememora.
Porém, ele parece não ter conseguido realizar o desejo de limpar o próprio nome e provar sua inocência – mesmo tendo, segundo afirma, tendo voltado a Atibaia e reunido por conta própria novas provas e testemunhos. Então, desde agosto de 2016, iniciou uma nova romaria. Em 16/08/2016, saindo mais uma vez de Itapevi e com uma nova cruz, tem o objetivo ainda mais ousado de chegar aos Estados Unidos. Mesmo não possuindo passaporte ou visto para atravessar as fronteiras, ao todo, de sete países (Venezuela, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Honduras, México e os EUA).
A nova jornada de Paulo, incrivelmente mais longa, começou a ser registrada ainda em junho, quando foi criado um perfil em seu nome no Facebook – mas cuja última atualização data de novembro. Antes disso, veículos de comunicação das cidades interioranas já registravam sua peregrinação, como em sua passagem por Bataguassu, no Mato Grosso do Sul, em outubro de 2016. Começaram a surgir, então vídeos dos motoristas que cruzavam as rodovias do estado. Um deles foi postado no Facebook pelo usuário Aldo Loureiro de Almeira, com data de 22/11/2016; nele Paulo diz que sua meta continua sendo chegar à capital norte-americana, mas que pode encerrá-la antes, caso atinja o objetivo de ser inocentado – pois quer voltar logo à companhia dos netos.
É nos comentários desse vídeo, inclusive, que consta a informação de que Paulo teria sido socorrido por uma das pessoas que cruzaram seu caminho em Campo Grande. Ele foi acompanhado ao hospital por Anselmo Abel Arguelho, para investigar a causa das dores no tornozelo de que Paulo vinha se queixando e se tornaria um obstáculo na longa caminhada do pernambucano. Os médicos constataram uma fratura e recomendaram repouso absoluto.
É no final de dezembro que surge a página que reúne esse e mais outros vídeos e fotos da peregrinação de Paulo. É nela que está registrado que, após deixar a cidade, Paulo precisou de nova assistência para tratar seu pé fraturado na cidade de Coxim, a 253km de Campo Grande. Lá, passou por um procedimento cirúrgico e teve o pé engessado. “Eu estava muito concentrado na viagem e só queria andar, andar, andar. Só me recordo que quebrei o pé em Brasília”, diz.
A recomendação de repouso era de mais 30 dias. Impaciente com o longo tempo de repouso, porém, ele partiu mais uma vez, ainda com o pé engessado, rumo ao Mato Grosso. Mas, após mais 351km de caminhada, já na cidade mato-grossense de Rondonópolis, as dores voltaram e ele recebeu um ultimato: parar sua romaria ou agravar seriamente a lesão. Sem escolha, no início de fevereiro, Paulo foi forçado a deixar a cruz na cidade e retornar à Itapevi. Mas Paulo não permaneceu junto de sua família por muito tempo. Já no último dia 03/03/2017, a página registra que ele deixava a cidade para voltar a Rondonópolis, pegar sua cruz e retomar sua caminhada rumo aos Estados Unidos.
Seu percurso passou a ser monitorado pela concessionária Rota do Oeste, responsável pelo trecho da BR-163 entre os municípios do de Itiquira e Sinop. “A rodovia é ambiente para veículos, muitas vezes pesados, o que faz com que os riscos sejam elevados. Ainda assim, cumprimos nosso papel de resguardar a segurança de quem passa pela BR-163 e monitoramos a caminhada de Paulo, realizando sinalização para resguardar a sua saúde e a de quem passa pela via”, afirma o diretor de Operações da Rota do Oeste, Fernando Milléo.
No dia 29 de março de 2017, Paulo chegou à capital Cuiabá. Até aqui, ele dependeu da bondade de completos estranhos para levar adiante sua missão pessoal. Resta saber se ela será o bastante para superar a falta de recursos e os impedimentos físicos e logísticos para que ele possa cumprir seu objetivo de, enfim, ser considerado um homem inocente perante a sociedade.