Pernambucano carrega cruz por 3 estados em protesto por 16 anos de prisão por crime que não teria cometido

Hélio Montferre/Esp.DP/ DA PRESS

Há um mês, o pernambucano Paulo Cícero de Lima, de 53 anos de idade, carrega uma cruz de 40 kg nas costas. A “via crucis” do homem de Canhotinho, no agreste do estado, já atravessou três estados do país – São Paulo, Minas Gerais e Goiás – até chegar a Brasília, no Distrito Federal. Foi a maneira que o homem encontrou de protestar, após ter ficado preso por 16 anos, por um crime que garante não ter cometido: o homicídio de uma mulher de 21 anos de idade, em 1993, assassinada a marretadas, supostamente na frente de uma criança de quatro anos de idade. Após a acusação, Cícero passou por mais de 14 presídios até ser solto, em 2009.

“Não fiz aquilo. Eu estava passando pelo local e a polícia me pegou. Estava com a roupa suja de sangue de uma galinha que tinha matado. Não quiseram me ouvir”, defendeu-se em entrevista ao repórter Carlos Otávio, do Correio Braziliense. Cícero chegou a Brasília, Distrito Federal, na noite do dia 13 de março, pela BR-040. “Quero que meu processo seja reaberto. Não vou embora enquanto isso não acontecer. Vou tirar essa mancha na minha vida”, argumenta o homem que investigou o crime que o colocou na cadeia.  “Voltei ao local do crime, conversei com as pessoas e muita gente ainda está viva. Me contaram que na verdade o assassinato foi um acerto de contas. O crime foi executado por um homem que ‘se dizia policial, mas não era'”, garante.

Durante a peregrinação, Paulo vem dormindo na rua e recebendo amparo de desconhecidos. “Comi e bebi o que me ofereceram. Passava a noite na beira da pista. Tenho muito a agradecer”, comentou. De acordo com o peregrino, a ideia inusitada de protesto surgiu após um sonho com a Virgem Maria, que intercederia por ele caso topasse carregar uma cruz até a Catedral Metropolitana de Brasília.

“Sou devoto de Maria. Sonhei que se eu carregasse a cruz ela me intercederia por mim. Acredito que quando eu chegar lá (na Catedral), ela vai tocar no coração de alguém para me ajudar”, explica.

Numa extensa carta escrita em seu Facebook, Paulo Cícero conta sua história de vida, divida em quatro capítulos, que vão de sua saída da cidade de Canhotinho, no interior de Pernambuco, aos 15 anos de idade, passam por sua prisão e terminam com um apelo: “não estou atrás de indenização, mas sim de provar para os meus netos e netas que sou um homem que cometi muitos erros, mas não sou um assassino monstruoso cruel”, escreveu.

Reprodução/Facebook

UMA CARTA PARA O MUNDO. EM BUSCA DE JUSTIÇA.Capítulo 1- A última das cartas... Bom dia para todos...O meu nome é...

Publicado por Paulo Cícero de Lima em Sábado, 20 de fevereiro de 2016

Entramos em contato com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que não havia encontrado o processo da prisão de Cícero até o momento.