Usando brinquedo, menina filma próprio abuso para provar o que sofria
Um caso de abuso sexual chocou a cidade de Artigas, no Uruguai. Ali, uma menina de 10 anos era molestada há cerca de um ano pelo pai de sua amiga da mesma idade, que, por vezes, também presenciou as cenas. Achando que os adultos não iriam acreditar nela, caso contasse o que estava acontecendo, a vítima, junto com sua amiga (filha do agressor), decidiu filmar os momentos de abuso para provar que estava sendo estuprada. Segundo a promotora Mariela Nuñez, o criminoso aproveitava os momentos em que a esposa trabalhava para mandar a filha ir ao mercado, e, finalmente, conseguir ficar sozinho com a menina, que tinha as suas partes íntimas tocadas. “A filha disse à vítima que sabia o que seu pai estava fazendo com ela, que tinha muito medo dele e que ninguém acreditaria nelas, motivo pelo qual planejaram filmar tal situação, algo que conseguiram fazer depois de várias iniciativas”, afirmou a promotora em comunicado.
Para registrar as cenas, as garotas fizeram uso de um equipamento eletrônico chamado “ceibalita”, espécie de notebook que o governo uruguaio concede para estudantes do país. Segundo a Justiça, a situação se torna ainda mais dolorosa porque a vítima precisou, voluntariamente, se sujeitar à violência sexual para obter as provas do crime. O vídeo, primeiramente, foi visto por uma tia da vítima e, logo em seguida, chegou ao pai da criança, que denunciou os estupros à polícia. Após investigar o caso, Nuñez comentou sobre a frequência com a qual acontecem. “Esse ato valente deveria servir não apenas para que se faça justiça, mas sim para que toda a sociedade tome consciência de que isso acontece com mais frequência do que acreditamos e que as crianças não mentem, não inventam”, informou durante declaração. O acusado, de 62 anos, identificado pelas iniciais JCSB, era considerado como “um homem respeitador, de classe média”, motivo pelo qual alguns duvidaram dos atos.
Em entrevista à BBC, Andrea Tuana, diretora da El Paso, associação uruguaia de combate à violência doméstica e sexual, falou sobre o tabu que existe na sociedade na hora de se falar sobre abusos do tipo. “Há uma grande quantidade de adultos que admitem ter sofrido abusos na infância e conta que, na época da denúncia, não acreditaram neles. O caso dessa menina demonstra que não acreditamos na palavra das crianças, não as escutamos. O problema é cultural: é não querer aceitar que o abuso sexual existe”, explicou. O agressor foi preso e pode receber uma pena de dois a seis anos de reclusão.