Quem é quem na ópera nordestina (e natalina) do Baile do Menino Deus
Obra popular em todo o país, Baile de Menino Deus completa 32 anos e é encenada pela 12ª vez no Marco Zero do Recife, nos dias de Natal
Ao clarão da estrela de uma noite de dezembro, José e Maria embalam o pequeno Cristo ao ouvir batidas à porta. Poderiam ser apenas três reis com oferendas de alto valor, mas são dois Mateus – caras pintadas, jeitos desengonçados e sotaques arrastados, em alto e bom pernambuquês. Os pequenos recortes do teatro pernambucano e nordestino desfazem à força – e à graça – o presépio natalino do imaginário coletivo, em Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal. Há 32 anos, a obra oferece ressignificado à época e ajuda a manter a tradição do Marco Zero do Recife como centro social de grandes temporadas culturais.
“Senhores donos da casa, Jesus, José e Maria; queremos fazer um baile que emende a noite no dia. (…)
Senhores donos da casa, Jesus, José e Maria! Sem vosso consentimento, o baile não principia…”
“Senhores donos da casa, Jesus, José e Maria! O baile aqui não termina, o baile aqui principia.
Do mesmo jeito que o sol se refaz a cada dia, da mesma forma que a lua por quatro vezes se cria”
A obra já foi de tudo. Começou como uma brincadeira no Crato (CE), durante as ceias familiares dos autores e, de uma fita cassete, o material se tornou disco pela fábrica Rozenblit, em 1983. Era o início de uma trajetória que incluiria os teatros e livros até virar a cantata, quase ópera nordestina, que se desenha todos os anos, no Bairro do Recife.
“Tudo foi feito de um modo despretensioso, que nunca imaginei que criaríamos uma obra que se tornaria maior que nós”, afirma o diretor e um dos autores da obra, Ronaldo Correia de Brito. Da primeira versão à atual, foram diminuídos os personagens e textos para abrir espaço para a música, que bebe na fonte do movimento armorial.
“A música dá toda a sustentação ao espetáculo, pela delicadeza contida. Ela realça a poesia do texto”, diz.
Há 12 anos seguidos, o espetáculo é apresentado gratuitamente da antevéspera ao dia de Natal (de 23 a 25 de dezembro), tendo início às 20h. A obra é desprovida dos símbolos mais comerciais ou importados do período, da árvore natalina ao Papai Noel, e foca nos senhores donos de casa, daqueles que saem das coberturas ou do alto dos morros para, de pé, cantar a chegada do Menino Deus, qualquer que seja sua cor, crença ou cidade natal, num baile tão arretado quanto os sonhos de sua plateia…
de palco
altura de cenário
profissionais envolvidos
Os Mateus
(Sóstenes Vidal e Arilson Lopes)
Personagens do reisado, esses palhaços populares conduzem a história e querem convencer José e Maria a dar um grande baile pelo nascimento de Jesus Cristo.
José e Maria
(Isadora Melo e Zé Barbosa)
Pais do Menino Deus, são os que recebem os cantadores e os que têm motivos de sobra para comemorar.
Reis Magos
(Rennê Cabral, Renana Ferreira e Isaac Souza)
Releitura dos três reis que levam presentes a Cristo e, aqui, representam as etnias brasileiras: branco, negro e índio.
Anjo
(Inaê Silva)
Anuncia o nascimento de Cristo e está na Terra sempre em busca de frutas e fitas coloridas, além de trazer boas novas.
Cigana
(Juliana Siqueira)
Do Egito, a morena com cheiro de cravo e canela tenta adivinhar a casa onde nasceu o Cristo.
Jaraguá
(Jáflis Nascimento)
Monstro com pescoço de girafa, personagem do reisado, que se alimenta de crianças e de Mateus.
Zabilin
(José Valdomiro)
Burra que surge de uma reza. Também personagem de reisado, acredita-se ter poderes mágicos.
Ficha técnica
Duração: 1h20
Composição: Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima e músicas de Antônio Madureira
Solistas: Silvério Pessoa , Surama Ramos, Jadiel Gomes e Virgínia Cavalcanti
Trilha Sonora: Maestro José Renato Accioly
Cenário e figurinos: Marcondes Lima e Séphora Silva
Iluminação: Játhyles Miranda
Maquiagem: Gera Cyber
Produção: Carla Valença (Relicário Produções)
Assistência de direção: Quiercles Santana
Texto e direção: Ronaldo Correia de Brito
atores
solistas
instrumentistas
bailarinos
mágico e regente
Ed Wanderley
Repórter multimídia
Ed Wanderley é repórter multimídia do Diario desde 2010. Escreve matérias relacionadas aos Direitos Humanos, com especialidade em dados e online. Em 2015, ganhou mais trabalho de presente – foi um menino apenas “meio” bom…