O lugar onde as pessoas vivem com parentes mortos dentro de casa
A aparência dos corpos não é das melhores e o cheiro de formol toma conta da casa. A pele, ou o que resta dela, fica com um aspecto cinzento e áspero. Muitas vezes, destruída parcialmente pela ação de insetos. Para as crianças, que ainda não entendem a realidade, não é raro que se diga que aquele corpo que está em casa é um parente que está apenas dormindo.
Para as pessoas que vivem na região de Tana Toraja, que pertence a ilha de Sulawesi, na Indonésia, existe uma tradição muito antiga onde os mortos continuam presentes na vida dos vivos. O ritual é conhecido como ma’nene, ou “purificação dos corpos”. O que acontece é que depois que alguém morre, passam-se meses ou até anos, até que o funeral realmente ocorra. Nesse meio tempo, as famílias guardam os corpos em casa e cuidam deles como se estivessem apenas doentes, lhes levando comida, bebidas e cigarros duas vezes por dia. No canto do quarto, inclusive, há um recipiente para que os “mortos” façam as suas necessidades fisiológicas. Além disto, as famílias que praticam este tipo de ritual, precisam limpar e trocas as roupas dos cadáveres regularmente, assim como nunca deixá-los sozinhos, para que os espíritos não voltem a assombrá-los.
Durante toda a vidas os Torajans trabalham para juntar muito dinheiro, não para gastar em vida, mas sim para planejar um funeral luxuoso. Segundo a crença, nos funerais a alma finalmente larga o corpo e começa seu caminho até Pooya, que é o estágio da vida após a morte. Normalmente é feito uma procissão em torno do vilarejo, com o corpo, familiares, amigos e até sacrifício de animais.
“Este ritual representa a interação social entre os vivos e os mortos. Porém, esses rituais estão desaparecendo lentamente, já que mais de 80% dos Torajans deixaram ser aluk to dolo (a religião dos Torajans) para se tornarem cristãos. Pouco a pouco, as tradições estão mudando”, explica o professor de sociologia, Andy Tandi Lolo, à BBC. Para o resto do mundo tais práticas podem parecer bizarras, mas os princípios por trás delas talvez não sejam muito diferentes de outras culturas.