Dinossauro brasileiro teria sido carnívoro, aponta fóssil
Uma pesquisa feita por cientistas brasileiros e alemães descobriu um fato inédito e de extrema importância sobre o dinossauro brasileiro que está entre os mais antigos do mundo. O Saturnalia Tupiniquim, que habitou o que hoje é a região Sul do Brasil há 230 milhões de anos, pode ter sido carnívoro. Os pesquisadores utilizaram uma microtomografia para identificar detalhes dentro do crânio, de cerca de 10cm, do fóssil encontrado. Apesar de ser um dinossauro de pequeno porte, com aproximadamente 1,5 metro de comprimento e com um peso de 10kg, o Saturnalia deriva de uma linhagem conhecida como Sauropodomorpha, a mesma da qual derivam os maiores animais terrestres que já viveram no planeta. São eles os saurópodos herbívoros, com peso de até 90 toneladas e 40m de comprimento.
Estudando o crânio do animal, os cientistas perceberam que o seu cérebro tinha um grande volume de uma região específica do cerebelo (flóculo e paraflóculo), que o diferenciava de seus descendentes. Esses tecidos são responsáveis pelo controle da visão e dos movimentos da cabeça e pescoço, mecanismos executados principalmente para capturar presas pequenas. Isso revelou que a formação cerebral da espécie estudada evidencia que sauropodomorfos já foram predadores. “Devido ao fato do alongamento do pescoço e a redução do crânio representarem marcas registradas do plano corpóreo de saurópodos, os primeiros passos na aquisição dessa morfologia única parecem ter surgido como adaptações para predação, em um cenário evolutivo conhecido como exaptação, ou seja, processo em que uma característica surge com uma certa função, mas passa a ter outra função em um momento distinto da história evolutiva da linhagem”, disse Max Langer, professor da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Universidade Estadual de São Paulo (USP), em entrevista ao portal de notícias Uol.
Reforçando a relevância do estudo, Mario Bronzati, doutorando pelo Programa “Ciência sem Fronteiras” na Ludwig-Maximilians-Universitat (Alemanha), comentou o feito inédito. Muitos detalhes da anatomia do esqueleto pós-craniano (membros, coluna vertebral e cinturas) do Saturnalia já eram conhecidos, mas essa é a primeira vez em que partes de seu crânio foram estudadas, incluindo a reconstituição do cérebro com base em microtomografia computadorizada”, afirmou Bronzati.
Langer, que também participa da pesquisa, anunciou a importância do desenvolvimento da pesquisa, pois se trata de um primeiro passo para entender o comportamento dos primeiros dinossauros. “Estudos futuros certamente trarão mais informações para entender em mais detalhes a evolução da linhagem dos sauropodomorfos, que começou com pequenos animais predadores e posteriormente deu origem aos gigantes herbívoros do passado”, concluiu o cientista. A linhagem do réptil estudado mostra que ela viveu no espaço terrestre durante aproximadamente 170 milhões de anos e foi extinta há cerca de 65 milhões de anos. O resultado do estudo foi publicado pela revista “Scientific Reports”.