Casarão dos Lundgren, o misterioso cartão-postal da cidade do Paulista

Peu Ricardo/DP

O casarão dos Lundgren, no Centro do Paulista, será transformado em instituto sobre a indústria nordestina. A informação é de Nilson Lundgren, 79, neto do líder da família instalada no município no início do século 20, mas ainda não há previsão de conclusão ou abertura ao público.

A casa com tijolos avermelhados aparentes é, para muitos, o coração da cidade. O imóvel teve parte construída há mais de três séculos, como um engenho de cana-de-açúcar, e foi concluído em 1918, em obra da família Lundgren, até hoje proprietária da mansão que carrega a história da urbe e dos bairros fundados no seu entorno.

Logo na entrada está escrito no tapete “casa-grande”, um lembrete que a estrutura já fez parte do Engenho Paulista, ainda que a família afirme nunca ter possuído um. Na casa, habitavam Herman Lundgren, sueco de uma família sem muitas posses que veio como imigrante para o Brasil, a esposa Elizabeth Lundgren, professora dinamarquesa, e os cinco filhos do casal: Herman Júnior, Frederico, Arthur, Alberto e Anita. O casarão ficava em torno das duas fábricas têxteis da família. “A fábrica que era responsável pela fiação e tecelagem dos tecidos ficava localizada onde hoje está o shopping novo da cidade (North Way). Inclusive, ainda tem uma chaminé no terreno, que foi preservada”, conta o neto de Herman, Nilson Lundgren, 79.

 

Construída por engenheiros alemães e ingleses, a mansão recebeu referências também na decoração imponente: “Essa casa me lembra muito a Europa – a cor da madeira, os quadros. Existia uma grande colônia alemã na região, por isso já nos chamaram até de nazistas”, comenta Nilson, que mantém a casa como um grande museu. “A maioria dos móveis é a mesma da época dos meus avós, que preservamos. A mesa de madeira da sala, o telefone, as poltronas verdes, a banheira…”, completa.

Após a morte de Herman, por um grande período de tempo morava um Lundgren por andar – a matriarca, no térreo, e os filhos, cujas esposas viviam em outras residências, sozinhos. Por isso, cada andar possui um tipo de sala, dois quartos e banheiro.

Uma porção da Suécia ao norte da Grande Recife

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O sueco Herman Lundgren migrou para o Brasil, fazendo paradas no Rio de Janeiro e na Bahia, antes de chegar ao Recife, em 1857. “Aqui era o porto mais importante do Brasil, um centro muito importante e, por isso, ele resolveu abrir um negócio no porto. Aproximadamente, onde hoje é o armazém 10”, conta o neto Nilson Lundgren. A loja servia aos navios, de alimentos até lavar roupas. O crescimento o tornou cônsul da Suécia em Pernambuco e o levou a novos negócios, como uma sociedade na fábrica de pólvora Pernambuco Powder Factory, no Cabo de Santo Agostinho, desativada em 2011.

Mas foi ao adquirir sua primeira fábrica de tecidos que a família começou a aumentar a influência local. “Meu tio foi procurar trabalhadores no interior da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Todas as casas aqui ao redor da casa e das fábricas foram construídas para os trabalhadores. Eles precisavam de madeira para gerar energia, por isso, do Centro até Aldeia (Camaragibe) existiam várias plantações de eucalipto. Só em 1957 chegou a energia de Paulo Afonso”, afirma Nilson Lundgren sobre a influência da família no desenvolvimento histórico da própria cidade.

 

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Em 1907, o sueco adquiriu também a Companhia de Tecidos Paulista. Antes dedicada apenas a sacos, que abasteciam o mercado do açúcar, tendo o estado como maior produtor da época, a iniciativa passou a produzir os que viriam a ser carros-chefe do negócio: chita e brim, inclusive com a primeira estamparia da região. Três anos depois, Herman morreu e o filho Frederico assumiu o negócio, que chegou a produzir oito milhões de metros de tecido por mês, segundo Nilson: “A companhia Paulista tornou-se a maior fábrica têxtil da América Latina”.

Em 1918, uma nova fábrica de tecidos foi montada pela família, desta vez na Paraíba. A Companhia de Tecidos Rio Tinto, a 450 km de João Pessoa, não se dedicava à estamparia, mas à produção de brim e tricoline. O sucesso obrigou a família a investir também no ramo de vendas do próprio tecido, o que fez nascer as Casas Pernambucanas, com mais de mil lojas em todo o país. O tino para os negócio continua circulando na família, tanto que, segundo Nilson, a Rio Tinto deve ser reativada até 2018.

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