Astrônomos brasileiros descobrem duas novas chuvas de meteoros
A Bramon, um acrônimo em inglês para o grupo de astrônomos amadores Rede Brasileira de Observação de Meteoros, acaba de descobrir duas novas chuvas de meteoros anuais. Os resultados das observações conduzidas pelo grupo foram enviados à União Astronômica Internacional no dia 9 de março de 2017; os dados então foram validados onze dias depois. É a primeira vez que pesquisadores brasileiros descobrem um fenômeno deste tipo.
As chuvas de meteoros são batizadas de acordo com o ponto do céu de onde ela parece emanar – chamado de radiante. Assim, uma foi batizada como Epsilon Gruids, pois seus meteoros emanam da constelação do Grou, com auge por volta do dia 11 de junho. A outra foi chamada de August Caelids, com radiante na constelação do Cinzel; seu ápice acontece aproximadamente no dia 5 do mesmo mês.
Carlos Augusto Di Pietro, um dos coordenadores da Bramon, contou ao blog Mensageiro Sideral que o objetivo da associação é ter uma maior cobertura do céu brasileiro. Para isso, eles contam com 82 estações, em 19 estados – todas mantidas por voluntários. E mais estações estão sendo adicionadas, pois para o cálculo desse tipo de fenômeno, é necessário que a observação seja feita em vários pontos diferentes.
Não é um trabalho fácil: primeiro, é preciso analisar os dados de vários meteoros ao longo dos anos. A observação se dá por meio de câmeras e, quando um objeto em queda é detectado por duas ou mais câmeras em posições diferentes, é possível calcular seu ponto de origem no sistema solar, através de uma triangulação das informações obtidas. Depois disso, é necessário verificar se as órbitas dos meteoros se dão de forma isolada ou em agrupamentos – o que configura uma chuva.
Vários pesquisadores participaram da análise, além de di Pietro, que é de São Paulo. Na Paraíba, o diretor técnico da Bramon, Marcelo Zurita, contou com a participação de Marcos Jerônimo, coordenador do Laboratório de Astronomia da Estação Cabo Branco, nos trabalhos na capital João Pessoa; já Ubiratan Nóbrega e o estudante de Meteorologia Diego Rhamon realizaram análises em Campina Grande; enquanto Lucas Tranquilino, estudante de Administração, realizou os trabalhos em Santa Rita. No Ceará, a equipe contou com Lauriston Trindade, em Maranguape.
Para chegar a essa descoberta, foram analisadas mais de 4 mil órbitas, a partir de um banco de dados de 86 mil registros. Os cálculos da equipe então confirmaram dois grupos de meteoros – um com sete órbitas e o outro com dez – que vinham basicamente da mesma direção, em épocas semelhantes, mas em anos diferentes.
Diante disso, eles concluíram que as chuvas são resultado de detritos deixados no espaço por algum outro corpo: sempre que a órbita da Terra passa por eles, uma parte entra na atmosfera. Descobrir que corpo seria esse é o próximo objetivo da Bramon, que contará com o auxílio de uma outra instituição brasileira particular – a Sonear (também um acrônimo em inglês, para Observatório Austral para Pesquisa de Asteroides Proximos à Terra), que fica na cidade mineira de Oliveira.
Tudo isso com os recursos limitados que envolvem a pesquisa amadora – o que comprova a relevância dessa atividade. Ao Portal Correio, Marcelo Zurita afirmou que “as câmeras que os operadores da Bramon usam custam pouco mais de R$ 200, são como aquelas usadas em circuitos de segurança, só que com algumas especificações diferentes. Isso mostra que é possível se envolver com astronomia mesmo sem ter um alto padrão financeiro; é o que chamamos de ciência cidadã”.
O canal Space Today, dedicado à astronomia, também deu destaque à história: