Resgate de animais abandonados: dedicação do começo ao fim

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O uso das redes sociais para a divulgação de animais que foram colocados para a adoção é recorrente. As plataformas são canais também para chamar atenção aos gatos e cães em estado crítico, necessitando de ajuda. Porém, antes de chegar à internet, é preciso haver cuidado, empenho e dedicação de quem teve o primeiro contato com os bichos.

A estudante universitária Malu Didier tomou uma atitude e agiu. Ao receber uma ligação da mãe desesperada pedindo que ela buscasse uma gatinha na rua de sua casa, não pensou duas vezes. Como já tinha dois gatos resgatados em casa, pegou uma das caixas de transporte dos felinos e ajudou a gatinha, batizada com o nome de Juno.

Malu Didier/Cortesia

O animal foi levado a uma clínica veterinária, passou por exames, tomou vacina e foi submetido à aplicação de vermífugos. Juno foi diagnosticada com sarna notoédrica – normal em gatos de rua. “Quando a resgatamos, deixamos ela de quarentena, sempre longe dos outros gatos, mas também da gente. Foi uma logística complicada, pois não sabíamos se o que ela tinha poderia ser transferido para nós, mas não aconteceu, pois essa sarna não pega em humanos. Agora ela pode ficar solta pela casa e só precisa de mais uma dose da vacina”, explicou.

Malu se empenhou em encontrar uma nova família para Juno. Junto à irmã, criou a campanha “#adoteJuno”, para conseguir um novo lar para a gatinha, mas com critério. “Não vamos exigir muito, mas, se morar em prédio, pelo menos ter o apartamento telado – gato gosta de fugir – e ter disponibilidade para dar atenção a ela. A veterinária disse que ela não vai crescer muito, ela é muito brincalhona e adora colo. Eu já me apeguei a ela, mas não podemos acumular animais em casa”, explicou Malu.  A iniciativa deu resultado: Juno em breve vai para o seu novo lar.

Malu Didier/Cortesia

A forma como Malu conduziu todo o processo, desde o resgate à busca pela adoção, segue um procedimento correto, de acordo com a doutora em Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Vanessa Lima. “Só um clínico da área vai poder dizer ao certo qual é o tratamento que o animal precisa. Em casos mais graves, talvez o animal tenha que ser internado. Além disso, levá-lo para casa direto da rua coloca em risco as pessoas e os outros animais que vivem no espaço”, explicou.

Ela destaca que é preciso haver compromisso a partir do resgate, mesmo em casos mais graves. “Ao tirar um animal da rua, a pessoa se torna responsável. Ela não pode pegá-lo e depois colocar na rua de novo. Também não é possível levar em uma clínica veterinária e simplesmente deixar o animal lá. E o pós-cirúrgico? O animal precisa ser observado e cuidado após qualquer procedimento”, explicou.

Aviso importante

Não se deve permitir que animais de estimação passem o dia caminhando pela rua. O animal se expõe a doenças e as traz para dentro de casa, colocando a sua própria saúde em risco, mas também a saúde de todos aqueles que compartilham o ambiente

Malu Didier/Cortesia

Também há um período de adaptação no qual o animal deve ser observado no novo ambiente e no momento de interação com os outros animais da casa. “Em alguns casos, as pessoas não podem ficar com o gato que resgatam porque ele não se adaptou ao ambiente. Por ser muito arisco ou por não se dar bem com a gente”, corrobora Malu, ressaltando que o apego aos animais resgatados é diferente. “Os resgatados se sentem gratos, eu sinto isso. Minha cadela foi comprada e não é que eu a ame menos, mas é uma relação diferente. Parece que o animal resgatado sabe que você fez um bem a ele. Por isso fica mais difícil de se despedir depois”, contou.

Dedicação integral aos animais

Autointitulada “protetora dos animais”, Thialy Monteiro se dedica há dois anos aos bichos que precisam de ajuda. Os gatos Cadu e Neco estão entre os últimos resgates efetuados por ela. Ambos foram atropelados e lutaram pela vida. Neco está pronto para adoção. Mesmo com os órgãos empurrados para a parte de cima do tórax, com uma cirurgia conseguiu se recuperar bem. Cadu ainda está internado, mas já passou por uma cirurgia para refazer o maxilar.

 

Mandy Oliver/Especial DP

Em casos como esses, encontrar um novo lar para os animais é ainda mais difícil. Já durante o tratamento, os dois exigem enorme dedicação de Thialy. Ela fez campanhas em redes sociais para conseguir manter os animais, mas entende que, ao se responsabilizar por um animal, tem que ficar com ele até a adoção. “Quando vejo um animal saudável, o mínimo que faço é castrar, mas infelizmente não posso ficar com ele. Creio que qualquer um pode ser o anjo de um animal, pode resgatar, acolher.  Eu incentivo, ajudo e compartilho. Quem não tiver coragem ou não puder pegar, pode ajudar financeiramente”, aponta.

Caixa para resgate

  • Toalha
  • Ração
  • Coleira
  • Focinheira

Para Thialy, o novo lar é tão importante, que ela tem um termo de compromisso determinando as responsabilidades do novo tutor do animal. “O termo diz que a pessoa não pode passar o animal para outra, que ela tem que manter a saúde e não pode se mudar sem avisar ao responsável pelo resgate do animal. É para a segurança do animal e para a nossa própria que fazemos isso; caso aconteça alguma coisa, temos um respaldo”, explicou.

Mandy Oliver/Especial DP

Cães, gatos, pombos e até um burro

O professor de inglês Flávio Franca é conhecido no bairro de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, pelos resgates de animais que faz há 20 anos. Como mora na beira-mar, passeia pelo calçadão todos os dias com ração para alimentar os cachorros que moram na praia.

 

Marlon Diego/Especial DP

Cães e gatos são os resgates mais comuns, mas ele já ajudou um filhote de pombo e até de burro. “Uma vez olhei pela janela do meu apartamento e vi uma burrinha andando no calçadão. Desci e a trouxe para casa. Foi difícil descobrir o que ela comia, mas fazendo várias tentativas percebi que ela gostava muito de banana”, relembra. Felizmente, encontrar um lar para a burra não foi tão difícil quanto ele imaginava. Um casal de veterinários estava a procura de um equino para levar para sua granja em Aldeia. “Eles queriam ensinar seus filhos a amar os animais. Eles tinham gato, cachorro, galinha, hamster, só faltava um equino. Transportamos a burrinha em um carro e hoje em dia recebo fotos dela no paraíso, comendo grama na granja enorme que eles tem”, conta Flávio.

Flávio Franca/Cortesia
Flávio Franca/Cortesia

Animal: Cachorro
Principais cuidados: Não levar mordida
Por qual motivo: Há risco de transmissão de raiva
Quem procurar: Veterinário, para exame clínico

Animal: Gato
Principais cuidados: Não levar arranhão
Por qual motivo: Há risco de contrair doença da arranhadura
Quem procurar: Veterinário, para exame clínico

Animais: Aves, equinos e animais aquáticos
Principais cuidados: Ataque de defesa do animal
Quem procurar: Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais (SEDA)

O caso do pombo foi mais recente. O filhote foi deixado com o porteiro do seu prédio. Flávio tirou fotos do filhote e postou nas redes sociais. Em seguida, buscou ajuda de órgãos oficiais como a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), a Secretaria Executiva de Direitos dos Animais (SEDA) e o Centro de Vigilância Animal (CVA) para saber como proceder nos cuidados da ave, mas, ao suspeitar que se tratava de um pombo, Flávio não conseguiu o suporte que precisava. “A questão é que ele estava sendo tratado em casa. Era um filhotinho quando chegou aqui, não tinha penas, ele nem consegue voar ainda. O pombo só pega e transmite doenças na rua, se alimentando e processando a poluição do ambiente”, opina.  

 

Acontece que, para os órgãos oficiais, alguns animais, como os pombos, são um risco à saúde. O gerente do CVA, Jurandir Almeida, explica que eles podem transmitir fungos, além de apresentarem fezes muito ácidas e corrosivas. “Como se tratava de um caso onde a ave era filhote, isso não sinaliza risco a saúde, então nós não interferimos. O papel do CVA é cuidar de situações que coloquem em risco a saúde pública. Se fosse um pombo fazendo ninho em uma caixa de ar-condicionado, por exemplo, nós faríamos uma intervenção. Um animal abandonado não é questão de saúde pública, mas sim de assistência”, explica.

Marlon Diego/Especial DP

Onde procurar ajuda?

Veterinário

Responsável pelo cuidado da saúde do animal. Não resgata animais nem pode fazer atendimentos gratuitos.

Mandy Oliver/Especial DP

Centro de Vigilância Animal (CVA)

Responsável por animais que possam ser um risco a saúde pública. Resgatam animais de grande e pequeno porte.
Faz cerca de 30 resgates por mês.
O Centro de Vigilância Animal (CVA) está analisando a possibilidade de implantação de um curso para que pessoas que fazem resgate de animais aprendam como tratar corretamente os bichos na hora do resgate.
Contato: 3355-7708

Secretaria Especial dos Direitos dos Animais

Responsável pelo cuidado nos tratos com o animal. Não resgatam animais de grande porte. O SEDA recebe denúncias a respeito de maus tratos a animais. O SEDA também presta apoio clínico gratuito.
O órgão atende, em média, 50 chamadas por mês.
“Não podemos manter os animais, pois não temos espaço suficiente, mas organizamos e promovemos feiras de adoção”, explicou o secretário da SEDA Robson Melo.
Contatos: 3355-8639 (central de castração) 3355-8371 (denúncias)

Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH)

Responsável pelo acolhimento e cuidados de animais silvestres. Não resgatam animais de pequeno porte. O CPRH tem como dever identificar, recuperar, reabilitar e destinar os animais que resgata.
O CPRH recebe cerca de 600 animais por mês
“O CPRH também fiscaliza casos de pessoas que mantêm animais silvestres em cativeiro. A recomendação é que, encontrando um animal silvestre, a pessoa entre em contato com as brigadas ambientais do respectivo município”, disse Patrícia Ferreira, da Diretoria de Recursos Florestais e Biodiversidade do CPRH.
Contato: 3182-8905

Paula Paixão

Paula Paixão

Repórter

Paula é estagiária do Diario de Pernambuco desde janeiro de 2017

Marlon Diego

Marlon Diego

Fotógrafo

Mandy Oliver

Mandy Oliver

Fotógrafa