Recifense roda o mundo buscando fotografar o olhar de minorias
Projeto “Olha Pra Mim” propõe igualdade de gênero, religião e classe a partir da imagem de gente comum, tendo os olhos como patamar de igualdade social
Moradores de rua, pacientes psiquiátricos, pessoas da cracolândia, líderes religiosos, celebridades e drag queens são algumas das pessoas que o fotógrafo Thiago Santos, 26, teve a oportunidade de captar através de suas lentes. Com as fotos feitas no mesmo formato, cor e tamanho, a proposta do projeto é colocar a variedade de gênero, idade, religião e classe em um mesmo patamar de igualdade social. O projeto começou no Recife, cidade natal de Thiago, onde fotografou seus 100 primeiros retratos. Desde então, foram realizados registros em outras três regiões brasileiras e até na Índia.
De acordo com o criador do projeto, o intuito é fazer com que as pessoas, através de seus olhares, sejam reconhecidas pelas mensagens que os olhos transmitem, muitas despercebidas. “Quando coloco a pessoa de frente para a câmera, todas são iguais. Eu tento fazer com que conversemos com os olhares para perceber a história que aquela pessoa tem a contar. Em todo e qualquer momento haverão olhos voltados para todos, e esses olhos contam histórias únicas ”, explica o jovem que, recentemente, foi o fotógrafo convidado para captar a essência de donas de casa que recebiam intervenções em suas residências por meio do programa de TV Decora, do GNT.
De uma conta no Instagram pessoal, em 2014, para uma página oficial do projeto, em 2015, o fotógrafo, hoje com 26 anos, apresenta o projeto ao mundo com o desafio de “congelar histórias”. “’Olha pra mim’ pode até ser uma frase comum em meio aos fotógrafos, mas para Thiago, o olhar que cada pessoa carrega, único, significa mais que um retrato”, disse o profissional que já retratou personagens em lugares como Belém (PA), Santa Maria (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Índia. “É muito comovente fotografar essas pessoas e conhecê-las.
Recife
Belém
Rio de Janeiro
Índia
A realidade é muito diferente para todas. Uma hora fotografo uma pessoa na Cracolândia que não tem noção direito do que está participando, outra, vejo a realidade das comunidades na Índia ou entro em um prédio luxuoso para fazer a fotografia de uma celebridade. Ver essas diferenças e tentar colocá-las de lado é o que me motiva cada vez mais a continuar com o projeto, apesar das dificuldades”.
Uma das primeiras pessoas fotografadas no projeto foi a recifense Tarcila de Oliveira, de 27 anos. “Antes mesmo de trabalhar com o olhar, Thiago tentou achar outras formas de contar a história das pessoas. Porém, o que realmente captou o coração e a essência dele foram os olhos. Ficou muito feliz em participar dessa ideia, que é muito bacana, de trazer as pessoas para um mesmo nível”, comenta.
Hoje, em alguns lugares públicos de São Paulo, onde Thiago vive atualmente, é possível encontrar olhares impressos em lambe-lambe, colados em muros, ruas e postes. Porém, Thiago pretende voltar a cidade natal e espalhar as fotografias pelo Centro Histórico de Olinda e pelo Bairro do Recife, no fim de 2017. “Vou tirar pelo menos três dias para fotografar pessoas no Marco Zero. Quero ter novamente pessoas da minha cidade no projeto, contribuindo para essa causa social”, explica o autor de quase mil fotografias e que diz não pretender parar tão cedo, já que tem sede de contar as histórias da maior quantidade de pessoas que conseguir.
Eduarda Bagesteiro
Repórter
Eduarda é estudante da Universidade Católica de Pernambuco e estagiária do Diario desde março.