O desafio da educação bilíngue de alunos surdos no Recife

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Ensino em libras e português é oferecido em sete escolas da capital, mas parte dos alunos ainda aprende pelo modelo tradicional

 

No Recife, apenas 116 crianças surdas estão matriculadas na rede municipal de ensino, das cerca de 400 com total deficiência auditiva, entre 0 e 14 anos, apontadas pelo Censo 2010. O levantamento indica ainda cerca de outras mil crianças com grande dificuldade em ouvir. Entre os alunos matriculados, 76 estão inseridos no ensino bilíngue, modalidade ministrada por professores que dominam a língua de sinais. Nesse caso, o aluno é alfabetizado em libras e português, modo de ensino considerado ideal nesses casos.

Luiz Ricardo, 15, é um desses estudantes. Filho de pai taxista e mãe enfermeira, é o único de quatro irmãos com deficiência auditiva. Na prática, ele, que cursa o 8° ano do ensino fundamental, tem a base de seu ensino em libras, isto é, aprende todas as disciplinas, de matemática a história, na linguagem de sinais. “Eu gosto da escola. É importante estudar”, conta, completando com sua predileção por matemática. “Quero ser professor de matemática e ensinar crianças surdas”, planeja. O empecilho, não nega, por enquanto é a língua, para ele, complementar. “Na escola bilíngue aprendo a primeira língua (libras) e a segunda, que é o português. É difícil com o português. Aprendo muitas coisas, mas sinto dificuldade”.

Brenda Alcântara/DP

O conteúdo ensinado a Luiz e seus colegas de sala é transmitido diretamente dos professores para os alunos, sem necessidade de intérpretes, fator que propicia um ganho didático. “Quando há essa mudança de linguagem, na passagem do conteúdo do professor para o intérprete e depois para o aluno, acaba ocorrendo perdas no que é ensinado. O intérprete apenas traduz o que é dito, às vezes sem interpretação”, explica a fonoaudióloga e doutoranda em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco, Izabelly Brayner. Ela ressalta que “a pessoa surda tem o direito de ser bilíngue”, portanto, as salas bilíngues desempenham um papel importante, sobretudo na redução dessa perda de conteúdo, realidade que ainda não chega a todas crianças surdas da capital pernambucana. “O professor com formação bilíngue na linguagem de sinais pode ensinar de forma direta”.

Docente da Escola Municipal Padre Antônio Henrique, no bairro do Derby, Ivanilda Albuquerque, desde 2015, tem dedicação exclusiva às salas criadas bilíngues. Antes da implantação do modelo, relata que os alunos estudavam misturados e os surdos, por vezes, não contavam com o auxílio de intérpretes.

Brenda Alcântara/DP

“Eles eram alunos copistas, ou seja, um que só copia, sem necessariamente aprender o conteúdo”, relata. Atualmente, nas turmas bilíngues, os estudantes aprendem libras e então passam a ler e escrever em português.

Somente na unidade, são cinco professores para todas as disciplinas, em turmas do 6° ao 9° ano, totalizando 44 estudantes. “É de suma importância que o ensino seja realizado assim. Já estou há dois anos e é possível ver a evolução da turma”, afirma a pós-graduada em Libras.

Distribuição das salas

De acordo com a Secretaria de Educação do Recife, a rede municipal tem capacidade para receber todos os estudantes surdos nas salas bilíngues (160 vagas para 116 matriculados), em 16 turmas. Porém, o modelo está disponível em apenas sete escolas, o que leva vários pais a manterem as crianças em unidades próximas às suas residências, tendo acesso ao ensino convencional. A Secretaria aponta ainda que a capital é uma das cinco cidades do Brasil com salas bilíngues, ao lado de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Campina Grande (PB).

Escolas bilíngues do Recife para surdos

Escola Municipal Padre Antonio Henrique

Escola Municipal Padre Antonio Henrique
Rua Viscondessa do Livramento, 290, Derby
Telefone: (81) 3355-3836

Escola Municipal Mário Melo

Escola Municipal Mário Melo
Rua Oliveira Fonseca, 318, Campo Grande

Telefone: (81) 3355-3713

Escola Municipal Rosemar de Macedo

Escola Municipal Rosemar de Macedo
Av. Norte Miguel Arraes de Alencar, 5400 – Casa Amarela

Telefone: (81) 3355-3092

Escola Municipal Vila Santa Luzia

Escola Municipal Vila Santa Luzia
Rua Eliseu Cavalcanti, 52, Cordeiro

Telefone: (81) 3355-3550

Escola Municipal Governador Miguel Arraes de Alencar

Escola Municipal Governador Miguel Arraes de Alencar
Avenida Tapajós, 419, Estância
Telefone: (81) 3355-3686

Escola Municipal Cristiano Cordeiro

Escola Municipal Cristiano Cordeiro
Avenida Santos, s/n, UR-2, Cohab
Telefone: (81) 3355-3796

Escola Municipal Karla Patricia

Escola Municipal Karla Patricia
Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 700, Boa Viagem

Telefone: (81) 3355-4040

João Vitor Pascoal

João Vitor Pascoal

Repórter

João Vitor é jornalista formado pela UFPE. Escreve para o Diario desde 2014, com passagem pela editoria de Política. Não fala libras, mas se esforça para entender…