Ele trocou a PM de São Paulo por arte nas ladeiras de Olinda
Léris Oliveira se descreve como cubista e, há 20 anos, é pintor no sítio histórico de Olinda, onde vivencia sua arte
Da rotina corrida de patrulhas pelas ruas da capital paulista para o andar sem pressa e curioso pelas ladeiras de Olinda. A vida de Léris Oliveira é daquelas que mudaram da água para o vinho. Era policial militar em São Paulo e decidiu largar tudo “para viver da arte”, como define. O que certamente é a utopia de muitos, se tornou um sonho concretizado para o, agora, artista plástico.
Profissão iniciada com os traços desconexos dos oito anos de idade. Todo o treino, entretanto, foi útil. Naquela época, mesmo sem saber, plantava a semente que culminou com a transformação do hobbie de infância em profissão. Mudança que tem Pernambuco como cenário e Olinda como protagonista. Ainda como PM do estado de São Paulo, costumava visitar o irmão que mora no Recife, no bairro de Boa Viagem. Logo no primeiro encontro com o estado, se encantou.
“Sempre fiquei muito admirado e inspirado pelo maracatu, pelo frevo, pelos caboclinhos e, ao pisar em Pernambuco, eu pude ver e sentir tudo isso de perto”. Se Pernambuco o encantou, ao conhecer Olinda, ficou apaixonado. Daquelas paixões fulminantes, que não o deixou em paz até o mergulho de cabeça.
E assim foi feito. Em 1996, decidiu trocar a pistola pelo pincel. As rondas, que antes ocupavam a maior parte do expediente de 12 horas – seguido por 36 de descanso -, agora são realizadas somente pelos bares da Cidade Alta.
Em seus trabalhos, pinta uma Olinda cubista em telas de tamanhos variados. “Olinda, para mim, é uma paixão como eu nunca tive em minha vida”, resume.
Não é modesto ao mencionar as inspirações para as suas obras, Cândido Portinari e Pablo Picasso surgem rapidamente ao ser questionado. Mira alto para acertar o mais alto possível. Nas telas, retrata as ruas, os bares e as pessoas da cidade que o encantou e onde vive.
O ateliê é também moradia. Ambos no hostel Cantos dos Artistas, a 200 metros dos Quatro Cantos. Lá cria e é visto pelos turistas. Das vendas e de aulas particulares de pintura, tira o seu sustento. “Não penso em ficar rico. Faço a minha arte num lugar que me faz sentir a pessoa mais feliz do mundo”, relata satisfeito.
São duas décadas de Olinda. Tempo suficiente para se sentir parte da cidade. As ruas e ladeiras já têm um pouco de Lério. E a arte de Lério é toda de Olinda. “Quando me criou, papai do céu errou o lugar, ele fez um olindense nascer em São Paulo”.
João Vitor Pascoal
Repórter
João é estagiário do Diario desde 2014, a maior parte do tempo para a editoria de Política, antes de fazer parte do projeto CuriosaMente, da editoria de dados do jornal.
Hesiodo Goes
Fotógrafo
Hesíodo integra a equipe de fotografia do Diario desde 2015. É admirador das artes e não perde a oportunidade de fazer das ladeiras de Olinda, cenário de seus ensaios.