Mulher recebe diagnóstico de autismo aos 45 anos
Laura James é uma mulher britânica de 45 anos, casada, com quatro filhos já adultos e uma bem-sucedida carreira como jornalista e proprietária de uma agência de comunicação. Apesar disso, ela sentia que não “lidava muito bem com o mundo”, em suas palavras, ou mesmo com outras pessoas – um sentimento com o qual ela conviveu durante décadas. Então, já depois dos 40, Laura descobriu o motivo: ela foi diagnosticada como autista.
Antes, apresentando sintomas físicos como ritmo cardíaco incomum, problemas estomacais diversos e dores nas articulações, ela já havia recebido uma série de diagnósticos errados, de Transtorno de Ansiedade Generalizada até à “má-sorte”. Foi durante um teste para Síndrome de Ehlers-Danlos (uma doença que afeta o tecido conjuntivo) que uma enfermeira percebeu que seus outros sintomas se enquadravam no espectro autista.
Muitos dos sintomas associados ao espectro do autismo são os mais diversos e podem variar com a idade, mas em geral dizem respeito às habilidades de interação e comunicação, como dificuldade em usar ou entender expressões faciais e reconhecer e entender sentimentos. Isso fez com que Laura duvidasse do diagnóstico num primeiro momento, já que ela é justamente uma profissional da comunicação. “Porém, quanto mais eu pesquisava a respeito, mais sentido fazia; como uma luz que ia se acendendo aos poucos na minha cabeça”, afirmou ela ao jornal The Independent.
Hoje, a jornalista prefere se referir a esses sintomas como “traços”, pois considera que alguns lhe são até benéficos; outros, nem tanto. Entre os traços que ela considera bons, estão sua extrema capacidade de concentração e a aptidão para a identificação de tendências e padrões – bem como sua propensão a abordagens lógicas nas mais diversas questões. Entre os traços ruins, está a hiperssensibilidade sensorial: sons, luzes, cheiros e texturas podem perturbá-la intensamente, criando a necessidade de isolamento por um curto período de tempo ou tornando-a extremamente ansiosa.
Para lidar com as dificuldades que esses traços podem trazer, Laura se esforça para se manter fisicamente saudável, com uma rotina leve e a prática de yoga. Além disso, ela recentemente descreveu suas experiências no livro Odd Girl Out: an autistic woman in a neurotypical world (Garota Estranha Revelada: uma mulher autista em um mundo neurotípico, em tradução livre), ainda sem versão em português. Com a obra, ela espera ajudar a desfazer alguns mitos sobre o autismo, como o de que autistas não possuem empatia. “Não poderia ser mais distante da verdade. Muitos autistas dizem que sentem até demais; outros, que acabam buscando soluções práticas que dão a impressão de frieza. Mas os autista que conheci são as pessoas mais gentis, sensíveis e verdadeiras que já conheci”, afirma Laura.
O autismo é uma condição geralmente associada aos homens, mas as estatísticas de proporções dos casos diagnosticados variam muito: existem registros de 4 casos entre homens para um entre mulheres, chegando até a dezesseis casos entre homens para um entre mulheres. Por isso, em 2016, a National Autistic Society da Inglaterra chamou atenção para o fato de que as falhas de diagnóstico para o espectro do autismo em meninas e mulheres precisa ser combatida.