Garota de 14 anos é congelada para ressuscitação futura

Cryogenics.org/Reprodução

Uma garota britânica de 14 anos foi submetida à criogenia humana – processo de congelamento de um corpo para ser ressuscitado futuramente – após uma longa batalha judicial. A adolescente, cujo nome não foi divulgado, foi diagnosticada com câncer em agosto de 2015 e faleceu em 17 outubro de 2016. Seu corpo foi enviado aos Estados Unidos, onde foi preservado em nitrogênio líquido por cerca de duas semanas e guardado junto com outros 150 a uma temperatura de aproximadamente -196°C. Seus pais, que são divorciados, teriam discordado a respeito da decisão, que custaria 37 mil libras, aproximadamente R$ 154 mil.

Devido à idade, era necessária a aprovação de ambos os pais para que o procedimento fosse autorizado. No entanto, o pai da garota, cuja identidade também não foi revelada e com quem ela passou seis anos sem contato até ser diagnosticada com câncer, foi contrário à decisão. Alguns de seus argumentos apresentados no tribunal foram reproduzidos pelo jornal britânico Daily Mail. “Mesmo que o tratamento dê certo e ela ressuscite em 200 anos, ela não encontrará nenhum parente e poderá não se lembrar de nada e ficará em uma situação desesperadora, já que ela só tem 14 anos e estará nos Estados Unidos”, defendeu. A adolescente teria solicitado à corte que as decisões sobre o seu corpo fossem de responsabilidade de sua mãe, favorável à ideia.

O juiz responsável pelo caso, Peter Jackson, afirma que este é o primeiro caso de uma criança solicitando o procedimento por meios legais no Reino Unido e, muito provavelmente, nos demais países. Ele fez uma visita à adolescente em seu leito de morte, que o chamou de herói após ser comunicada da decisão. Durante o processo, ela enviou uma carta ao tribunal, explicando os seus motivos, no dia 26 de setembro de 2016. A decisão seria proferida 10 dias depois e os detalhes apenas agora foram apresentadas à imprensa.

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A Carta
“Me pediram apra explicar o porquê de uma decisão tão incomum. Eu só tenho 14 anos, não quero morrer, mas sei que vou morrer. Penso que ser criopreservada me dará a chance de ser curada e acordar, mesmo que seja centenas de anos no futuro. Eu não quero ser enterrada. Eu quero viver e viver mais e imagino que no futuro possam encontrar uma cura para meu câncer e me acordar. Eu quero ter essa chance. Esse é meu desejo.”

O primeiro caso de criogenia humana aconteceu em 1967, com o corpo do professor de psicologia da Universidade da Califórnia, doutor James Bedford. O procedimento envolve o resfriamento gradual do corpo, já com sangue e fluidos drenados e substituídos por uma solução anticongelante, entre dois e 15 minutos após a declaração da morte. Após ser resfriado a -130°C, outra substância é injetada para impedir a cristalização nos tecidos do corpo e, então, o corpo é colocado em uma câmara onde é congelado e mantido a -196°C. Em teoria, a ressuscitação é feita, com um “estimulador” de coração e pulmão, além de medicamentos para impedir a deterioração das células no descongelamento.

O processo é bastante controverso, dado que não há nenhum registro de que qualquer mamífero tenha sido reanimado dessa forma. “O diagnóstico para a morte é que ela é irreversível. Para começar, a pessoa já está em um péssimo estado de saúde e não há absolutamente nenhuma evidência científica de que ela pode ser trazida de volta”, disse o especialista em ética medicinal da Newcastle University, Simon Woods, ao jornal britânico BBC News. De acordo com o juiz, o pai da garota teria aceitado a decisão no fim do processo, afirmando que aquele foi o último pedido que sua filha lhe fizera.

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