Estudante de música cria violão feito de papel pardo

Conservatório de Tatuí/Divulgação

Henrique Pinto, de 33 anos, fabricou um violão utilizando papel pardo, o mesmo usado para saco de pães, que tem a aparência e a sonoridade iguais aos violões de madeira. O instrumento surpreendeu os professores do curso de luteria do Conservatório de Tatuí, em São Paulo, pois as laterais, fundo e tampo são todos feitos com papel e apenas o braço é de madeira.

“É um violão normal para aluno e para estudante. Ele está excelente. Tem o som melhor que alguns instrumentos que nós temos na escola para você ter uma ideia. E a construção que ele fez também é uma coisa que surpreendeu bastante. Ele foi pegando dicas com cada professor, foi assimilando e pondo em prática”, explicou o professor de luteria Edson Lopes ao portal de notícias G1.

Henrique afirmou que a criação foi para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em 2016, mas quem inspirou o projeto foi sua mãe. Quando tinha 13 anos, ele tocava surdo – tambor cilíndrico com som grave – em um grupo de percussão. Porém, ele sentia dores por causa do peso de instrumento, então sua mãe teve a ideia de criar um surdo de papel.

“Eu tocava um surdo de 24 polegadas. Como era muito pesado me dava dor nas costas, eu tinha estatura baixa. E como minha mãe trabalhava com artesanato, era professora de arte, o conhecimento de papel já vinha de muitos anos, ela falou que faria um instrumento de papel. Daí ela fez o instrumento. Ela desenvolveu esse surdo, fez a carcaça de papel. E resolveu muito minhas dores e o som ficou muito interessante. De lá pra cá eu sempre fiquei falando para ela fazer o instrumento de papel, eu sempre acreditei”, contou.

Essa ideia deixou o rapaz intrigado e depois de anos dedicados ao estudo da música, ele entrou no Conservatório para aprender sobre a fabricação de instrumentos de madeira. Durante o curso, a ideia de fazer instrumentos de papel voltou e então ele dedicou dois anos de trabalho ao projeto.

Para montar as laterais, o tampo e o fundo do violão, Henrique usou uma técnica chamada de papietagem, que significa colar folhas de papel umas sobre as outras até formar uma estrutura parecida com uma placa de madeira. “A madeira basicamente é formada de celulose, lignina e alguns outros elementos que se cristalizam durante a formação da árvore para dar estrutura para essa árvore. E dessa mesma madeira vai sair o papel, que é uma composição de celulose e também tem lignina. Embora no papel não tenha todos os elementos da madeira, mas como nesse projeto de papietagem acrescenta-se cola ou material colante, então ela acaba criando uma resistência até interessante. E depois você tem o resultado acústico muito parecido com a madeira”, explicou o professor de luteria Vlamir Ramos.

Por se tratar de uma técnica diferenciada, Henrique acredita que criou um instrumento único no mundo. “Antonio de Torres, que é considerado o ‘pai do violão’, fez um instrumento parecido em 1862, mas ele utilizou uma técnica diferente. Acredito que o meu é o único do mundo, pois a única parte de madeira do violão é o braço”, disse.

Henrique se emocionou ao ouvir o violão ser tocado pelo professor Edson Lopes.  “Agora é o momento da gratidão. Você vê que funcionou todo seu trabalho, todo o esforço. Ouvir é impagável, gratificante demais . Pretendo patentear o produto e estou desenvolvendo novas técnicas. Minha ideia é produzir, fazer para as pessoas uma alternativa. Estamos na era da sustentabilidade, de querer melhorar o mundo. E pode ser que seja o futuro”, concluiu ele.

Veja o vídeo do professor testando o instrumento:

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