Epidemia da dengue universalizada no estado

Nos últimos oito anos,muito se fez para conter o avanço da doença, mas 2015 apresenta recorde de casos confirmados e exibe altas taxas em alguns municípios

 

“A dengue caiu na rotina das pessoas”. A frase é do infectologista do Hospital Oswaldo Cruz, Vicente Vaz, e resume bem o ano de 2015, recorde absoluto desde o início da contaminação da doença. Em apenas nove meses, já são mais de 35mil pessoas infectadas, margem 20% superior ao maior pico de contaminação pelo mosquito Aedes aegypti, em 2010, com 29 mil casos confirmados. Desta vez, o que chama a atenção é que a doença agora encontra registros simultâneos nas 185 cidades do estado.

A epidemia já havia sido prevista desde o ano passado pela coordenadora do Programa de Controle à Dengue e Chikungunya (transmitida pelo mesmo mosquito) da Secretaria Estadual de Saúde (SES) de Pernambuco, Claudenice Pontes, e se confirmou enquanto epidemia universalizada no estado, chegando a todos os municípios simultaneamente. “Há uma série de motivos para isso. Um deles, e preocupante, é que, diferente do surto de 2012, quando apenas o subtipo viral 4 era transmitido, hoje circulam os quatro subtipos da dengue, aumentando a probabilidade de contração da doença, inclusive por pessoas que já a tiveram”, afirma.

O controle vetorial é muito difícil. Não adianta poder público se a população não colabora”

Claudenice Pontes

Coord. de controle da dengue

A estratégia para enfrentar o mosquito também varia quanto a local, ano e situação. Fernando de Noronha, por exemplo, é, hoje, o local do estado que, historicamente, mais sofreu com a dengue – seguido dos municípios de Quixaba e Afogados da Ingazeira. Nestes locais, o equivalente a um em cada 10 moradores já foi infectado pelo vírus desde 2007. “Em 2012, tivemos em Noronha uma crise do lixo, cujo depósito servia de criadouro. Este ano, o problema são os reservatórios de água com tampas quebradas, que servem para a reprodução do mosquito. Justamente por isso que temos, em cada regional de saúde, uma pessoa especificamente incumbida de traçar estratégias para combater a dengue”, explica Pontes.

Para o infectologista Vicente Vaz, além da simultaneidade dos sorotipos de dengue, as crises ambiental (seca) e política interferem nos resultados. “Em um cenário de temperaturas elevadas e falta d’água, o acúmulo dentro de casa se torna comum, mas muitas vezes, feito sem cuidado – especialmente porque os ovos do mosquito ficam viáveis por até um ano, podendo reagir quando, finalmente, houver chuva. Depois, num cenário de crise, há naturalmente uma descontinuidade das políticas e programas de controle – entre atender pacientes na emergência e o combate de um vetor…”, sugere o profissional. Segundo a SES, no entanto, as verbas referentes ao controle da dengue foram liberadas desde janeiro deste ano e, a priori, os programas estão funcionando dentro da normalidade.

Lembrar nunca é demais

Prevenção que vale ouro!

Políticos e profissionais de saúde concordam claramente em um ponto: não importa a quantidade de campanhas realizadas se a população não mudar seus hábitos. “Como não é uma doença que, hoje, leva muito a óbito, ela acaba sendo enxergada como um pouco banal, mas se persistirmos com esse pensamento, abrimos espaço para outros vírus, como vemos o zika e a chikungunya. Parece até que o mosquito já faz parte do natural, que nos adaptamos a conviver com eles. Não deveríamos”, alerta Claudenice Pontes.

Ed Wanderley

Ed Wanderley

Repórter multimídia

Ed é repórter do Diario desde 2010. Cobre assuntos das mais variadas áreas, incluindo os temas de Direitos Humanos, Saúde, Educação e Segurança Pública. Até o ano de 2015, nunca teve dengue e garante não deixar água limpa parada em casa.