O mundo inteiro, de mão em mão: um raio x dos Correios em Pernambuco
Das empresas centenárias que ainda resistem ao tempo, os Correios são um exemplo de como a tecnologia pode mudar, mas certas demandas permanecem relevantes. Conheça como é a realidade desse “mundo” em Pernambuco
São quase 25 milhões de entregas todos os meses, realizadas pelas mãos de pouco mais de 2 mil carteiros. Em Pernambuco, os Correios desafiam as predições de que morreria de inanição frente às facilidades da internet. Pelo contrário, cresce. Movimenta hoje o dobro de correspondências e entregas que fazia há dez anos. Tanto é que a mudança de endereço do Centro de Cartas e Encomendas deve ocorrer até 2016. Os funcionários do centro logístico da empresa, que hoje atuam numa área de 18 mil metros quadrados no bairro de San Martin, no Recife, devem estar de mudança para Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, em área total quase quatro vezes maior.
De acordo com o gerente de operações dos Correios, Fábio Marinho, a empresa se adequou às mudanças, em especial no que diz respeito às novas formas de comunicação. “Da antiga Telemar, antes movimentávamos 400 mil contas por mês. Hoje, apenas da Tim, são mais de um milhão. Mais de 95% das correspondências no estado são comerciais. O serviço não acaba por conta da internet, mas é reforçado, já que com o ecommerce hoje movimentamos mais encomendas que nunca”, conta. No estado, 25% de tudo que chega tem como destino a Paraíba. É aqui em Pernambuco que são tratadas as correspondências dos dois estados, antes das entregas.
Os Correios em Pernambuco
agências
próprias
franqueadas
comunitárias (postos de atendimento)
funcionários
são carteiros
%
são carteiros
mil correspondências por dia
mil encomendas diariamente
milhões de remessas mensais
Remessas internas (Sedex)
PE – PE
Recife – RMR: R$ 15,90
Recife – Interior: R$ 18,90
SP – PE
São Paulo – RMR:
R$ 63,90
São Paulo – Interior:
R$ 72,90
No meio do caminho tinha um relógio…
São 4,5 metros de diâmetro, a 40m do chão. O relógio no topo do edifício-sede dos Correios no estado, na Avenida Guararapes, data de 1950, quando o prédio foi construído. O ajuste de horário é feito quase diariamente, de forma manual, por uma equipe de engenharia.
Muito tem se investido no maquinário de verificação de endereçamentos e conformidade de correspondências e encomendas, mas ainda há a figura de quem faça o trabalho manualmente. O mais antigo carteiro dos Correios em Pernambuco esbanja preocupação com o destino de cada envelope e caixa que passam por suas mãos. “Às vezes, é uma carta mal encaminhada, tem algum erro, algum número faltando. Cuido para que siga tudo nos conformes porque sei que, do outro lado, pode ter alguém esperando e que precisa receber a informação que está nela”, conta Edézio Barbosa, 73, que hoje carrega nas costas o malote de experiência que soma 47 anos e hoje realiza serviços internos.
“Fui carteiro, supervisor, monitor postal… Hoje sou agente de Correios. Devo pendurar as chuteiras no ano que vem, mas tenho prazer em estar aqui”, diz o pai de sete filhos. E-mail, WhatsApp, fotos publicadas diretamente em redes sociais e outras “ameaças” aos Correios realmente impactaram em alguns serviços. O aerograma e o cartão de natal de envio expresso da empresa sequer existem mais e no que diz respeito a telegramas, os 70 mil envios diários que se chegou a fazer hoje são restritos a 4 mil por mês.
Entre as atualizações estudadas no país, está a substituição do CEP, de oito dígitos, por um de 13 dígitos. Hoje, o código postal revela uma área de abrangência (quadras ou ruas, por exemplo). O novo, em fase de testes no Paraná, inclui bairro, rua e até número do imóvel.
40 anos subindo as ladeiras de Olinda
Ronaldo já “levou carreira” de cachorro. “Ele tentou me morder, mas só pegou a calça”, lembra, rindo, como se fosse algo esperado. A cena, clichê de filmes e desenhos animados, ganha contornos admiráveis quando se considera que a área de entrega do olindense era as ladeiras de sua cidade-natal. Aos 62 anos, Ronaldo Xavier Cavalcanti já não carrega a sacola de cartas nas costas, mas continua ganhando as ruas da cidade. Além de serviços internos, sai como ajudante nas entregas dos colegas, agora motorizado. “Tive um infarto há alguns anos e aí a saúde não permite certos esforços. Hoje, as entregas são feitas de carro. Fui de outro tempo”, conta o homem com 40 anos de serviços prestados, integrante do seleto grupo de pessoas com mais de quatro décadas de empresa que ainda saem às ruas.
Entre as coisas mais impressionantes que já foram postadas nos Correios locais estão ossadas humanas e animais vivos, como cobras, além de material de contrabando.
Um dos grandes investimentos na última década no estado foi o Centro Cultural Correios, inaugurado em 2009. Com arquitetura inspirada no classicismo francês, o prédio é o mesmo adquirido em 1921 para receber a antiga sede do Departamento de Correios e Telégrafos.
Os limites (para pessoas físicas)
1. Altura, comprimento e largura não podem superar 200 cm
2. Peso não pode superar 30kg
3. Conteúdo não pode ser biológico: restos mortais, animais (vivos ou mortos) ou plantas
4. Não podem ser transportados materiais inflamáveis, ilegais ou dinheiro
A “ciência” dos selos
Selos são “atestados” de pagamento do serviço postal que valem em todo o mundo. É uma espécie de “certidão”, em que se verifica características de emissão. Edições limitadas ganham valor agregado além do cultural, daí o interesse de colecionadores.
Tipos de selo
Ordinário
É o selo regular, que não tem tiragem ou prazo de comercialização limitados, sem necessariamente apresentar temas culturais.
Comemorativo
Com tiragem e prazo de comercialização limitados, destacam temas socioculturais com repercussão nacional ou internacional.
Especial
Também tem tiragem e prazo de comercialização limitados, mas não estão relacionados a eventos comemorativos e servem para alimentar o hobby de colecionadores
Selos milionários
Brasil foi o segundo país a utilizar selos postais, após a Inglaterra. A série “Olho de Boi” , de 1843, tinha três peças e eram comercializados por 30, 60 e 90 réis. O mais valorizado conjunto de selos dessa série foi comercializado por R$ 2,3 milhões.
Estima-se que um selo de dois centímetros, da Guiana, seja o próximo recordista. Os valores cogitados chegam a 20 milhões de dólares (R$ 68 milhões), depois de exibido ao público no ano passado, pela primeira vez em 28 anos, em Londres, Hong Kong e Nova York. Foi criado em 1856, quando a remessa de selos da Inglaterra atrasou para a então colônia da Guiana e o jornal Royal Gazette precisou encomendar uma remessa especial. Cada um valia um centavo (para uso de jornais). Impresso com tinta preta em papel magenta, ficou tão mal feito que se solicitou que os funcionários dos Correios os assinassem com suas iniciais: ETED, EDW,WHL e CAW (para Dalton,Wight, Lortimer e Watson). No século 20, apenas dois deles foram localizados.Acabaram valorizados depois que o colecionador de Nova York Arthur Hind destruiu uma das cópias para ficar com“a única do mundo”. Desde então, já foi vendido outras três vezes, a última, na Filadélfia, em 1980, já por um milhão de dólares.
Ed Wanderley
Repórter multimídia
Ed é repórter do Diario desde 2010, onde se dedica a reportagens voltadas ao jornalismo investigativo, digital e de dados. Nunca colecionou selos nem lembra a última vez que escreveu uma carta, ainda que seja um admirador delas.