Deserto do Atacama vira campo de testes para busca de vida em Marte

Pixabay/Reprodução

O deserto do Atacama, no Chile, o mais árido e antigo do planeta, esconde as respostas que poderão revelar os mistérios de Marte, dando pistas para eventuais formas de vida no Planeta Vermelho. O vasto deserto, onde se percorre quilômetros sem avistar nada além de rochas e areia, com temperaturas que podem variar até 40 graus entre o dia e a noite, é um dos lugares mais parecidos com Marte na Terra.

Com uma umidade de 2% a 3%, que a torna uma das zonas mais áridas do mundo, lá se desenvolveram formas extremas de vida que os cientistas acreditam que podem guardar segredos da evolução e da sobrevivência tanto na Terra como em outros planetas, como Marte.

São micro-organismos (arqueas, bactérias e cianobactérias) que desenvolveram adaptações muito específicas para viver em condições extremas: praticamente sem água, com uma altíssima radiação solar e uma presença de nutrientes quase nula.
Sua resistência intriga os pesquisadores, que realizam testes em uma zona conhecida como Estação Yungay, no meio deste deserto de 105.000 km2 no norte do Chile.

“Se conseguimos entender como estes micro-organismos vivem, como obtém umidade, como se adaptam a estas condições, provavelmente em um futuro, quando tivermos informação de formas de vida em outros planetas, tenhamos um correlato aqui na Terra”, diz à AFP a bióloga Cristina Dorador, enquanto quebra pequenas pedras de sal sob um sol inclemente e um vento forte.
E se no lugar mais parecido com Marte na Terra existe vida nestas condições, acredita-se que formas similares poderiam ser encontradas no Planeta Vermelho.

“Se existisse vida lá, provavelmente seria muito similar a esta”, reitera Dorador, acadêmica da Universidade de Antofagasta, que analisa as amostras em um laboratório móvel instalado em uma caminhonete, com a qual percorre zonas áridas em busca de micro-organismos também conhecidos como “extremófilos”.

Bom lugar para praticar 

Marte, um dos planetas mais próximos à Terra, há década chama a atenção dos cientistas – um interesse alimentado também pela ficção científica. O robô Curiosity da Nasa busca há quatro anos diferentes formas de vida em Marte, enviando à Terra imagens da superfície do Planeta Vermelho muito similares às do Atacama, com extensas planícies desertas nas quais só sobressaem formações rochosas em tons de cinza.

Outro robô da Nasa, o Krex-2, completou em fevereiro sua segunda temporada de testes perfurando os solos nas proximidades de Yungay, uma missão em que participam pesquisadores do Chile, França, Estados Unidos e Espanha e que tem previsto se prolongar até 2019. “As condições extremamente secas persistiram no Deserto do Atacama por ao menos 10 a 15 milhões de anos, e possivelmente muito mais. Isto, somado à forte radiação ultravioleta do sol, significa que a escassa vida que existe no Atacama é em forma de micróbios que vivem sob a terra ou nas rochas”, explicou a Nasa em um comunicado.
“Do mesmo modo, se a vida existe ou alguma vez existiu em Marte, a secura da superfície do planeta e a exposição à extensa radiação provavelmente a levaria para baixo da terra. Isso faz com que lugares como o Atacama sejam bons para praticar a busca de vida em Marte”, acrescentou.

Missões tripuladas

“Estudar Marte é, talvez, entender como a vida nasceu na Terra”, um dos grandes mistérios da humanidade, explica à AFP o astrônomo francês Christian Nitschelm, professor de astrofísica da Universidade de Antofagasta. Diferentemente da Terra, Marte é um planeta que parece congelado no tempo, uma espécie de estado bloqueado em uma época do sistema solar, afirma o astrônomo, de modo que eventuais descobertas de vida fóssil poderiam dar pistas sobre a origem do nosso próprio planeta.
Algumas descobertas recentes de vestígios de água e gás metano alimentam as esperanças de encontrar alguma forma de vida, algo que no entanto não foi possível comprovar.
Nitschelm é categórico: “Se não há vida em Marte, é certo que não há vida em outro lugar” do sistema solar.
Desde que a União Soviética enviou, em 1960, uma primeira sonda a Marte, várias expedições de sondas e robôs foram enviadas para desentranhar seus segredos, e apesar de que até agora não se conseguiu os resultados esperados, o interesse da comunidade científica pelo planeta vizinho não diminui. A Nasa anunciou o envio em 2018 de um novo robô, o InSight, e a missão russo-europeia Exomars planeja enviar em 2020 outro robô para perfurar o solo marciano.

Em setembro passado, o então presidente americano, Barack Obama, anunciou sua intenção de enviar humanos ao Planeta Vermelho na década de 2030, uma possibilidade referendada por seu sucessor, Donald Trump, que recentemente definiu como objetivo central da Nasa as missões tripuladas ao espaço distante, com o planeta Marte na mira.

Com informações da AFP

Gostou do conteúdo? Em nossa página tem mais: