Cineclubes pernambucanos levam 7ª arte a municípios de todo o estado há 80 anos
“Não é só pelo entretenimento. É a exibição de filmes para estimular debates e grandes discussões sobre o cinema”. Essa é a definição de cineclubes para a Yanara Galvão, presidente da Federação Pernambucana de Cineclubes. Criada em 2008, a instituição tem por finalidade orientar e garantir apoio aos grupos que surgem por todo estado. Hoje, Pernambuco tem mais de 30 cineclubes cadastrados, boa parte deles com exibições no Recife. No interior, muitas vezes, assumem a função de principal espaço de cinema da cidade. “Sem dúvida, o cineclube é um espaço do livre-pensamento, um lugar onde as pessoas podem interagir com o movimento do mundo através da linguagem do cinema”. explica Yanara.
A criação de um grupo é livre. Não precisa de CNPJ, nem de vínculo com alguma instituição. A única exigência é no plano ideológico. Os grupos precisam estar sintonizados com os princípios éticos que norteiam o movimento cineclubista. São alguns deles: exposição regular, respeito à classificação indicativa e a promoção do debate livre. Em 2013, o engajamento dos integrantes rendeu a criação do Projeto de Lei 15.072, que instituiu o dia 16 de julho como Dia Estadual do Cineclube.
Um desses grupos é o Cineclube Amoeda Digital, cujas exibições são realizadas no Bairro do Recife. Um dos mais longevos da cidade, ele tem como missão exibir filmes estrangeiros que não estão no circuito hegemônico do cinema e promover debates com algum diretor que esteja visitando a cidade. “Essa conversa com os convidados é muito importante. Fortalecer o diálogo e o encontro é uma das nossas missões com esse projeto”, explica Gê Carvalho, curador do Amoeda Digital e organizador do e-book Memória Cineclubista de Pernambuco.
De acordo com Carvalho, os primeiros indícios do movimento cineclubista em Pernambuco estão em 1943, com a criação do Cine-Siri e do Museu Cine Pedro Salgado. “Não temos muitos detalhes sobre quem participava, o estilo das exibições, mas eles tinham uma importância fundamental: havia uma preocupação com a conservação dos filmes. Era uma proposta interessante dos pioneiros”. Um dos marcos para o pesquisador foi a criação da Federação, em 2008. Para ele, a entidade é responsável por oferecer um arcabouço teórico sobre os cineclubes. “Garantiu ao movimento pernambucano um novo patamar de organização, para lidar com editais e leis de incentivo, por exemplo”, pontua.
Os cineclubes, muitas vezes, são a porta de entrada para o mundo do cinema. Quem pensa assim é o crítico de cinema Alexandre Figueirôa. Idealizador de células cinéfilas na Universidade Católica, Figueiroa destaca que os cineclubes são importantes para desbravar novas linguagens do cinema. “eles foram importantes pelos filmes de arte que pude ver e que não passavam nas salas comerciais. Vi também muitos clássicos numa época em que não se tinha a facilidade de hoje de se ver esses filmes por DVD e pela internet”, explica.
anos de movimento cineclubista em Pernambuco
Cini-Siri e Museu Pedro Salgado: mais antigos ainda em atividade
cineclubes cadastrados junto à Federação Pernambucana
Afonso Bezerra
Repórter
Afonso é estagiário do Diario desde 2014. Atualmente escreve para a editoria Local e é amante da sétima arte.