Adapte-se e morra de comer

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Misturas inusitadas revelam busca por adaptação do paladar regional a pratos considerados tradicionais, criando novidades que geram tanta estranheza quanto explosão de sabores

 

A universalização da culinária já tornou o sushi com cream cheese e a salada com manga alimentos comuns no cardápio local. Nem sempre a junção de ingredientes aceita tão facilmente, especialmente quando resultam em pratos cujas bases parecem antagônicas como coxinha e brigadeiro. Sim, juntos. No Recife, não é preciso muito para se deparar com “invenções”, longe de usuais, em cardápios espalhados pelos quatro cantos da cidade. Sorvete de mostarda? Petit Gateau salgado? Tudo isso está disponível na Região Metropolitana do Recife.

Uma série de motivos resultou nas comidas “não tradicionais” encontradas na cidade hoje: alguns proprietários de restaurantes queriam driblar a crise, outros pensaram em juntar sabores populares para surpreender os clientes, ou o simples desejo de inovar. Precisando encontrar uma solução para a alta no preço do salmão, a empresária e sócia da Blue Temakeria, Daniela Alves, criou o sandushi, como o nome já entrega, um sanduíche feito com os materiais de sushi. “Precisávamos pensar em algo diferente e, pesquisando na internet, vi alguns exemplos de sanduíche de sushi, resolvi tentar. Lançamos três sabores e teve uma saída impressionante. Hoje, temos até mesmo a versão vegana”, afirma. O sandushi é servido com o arroz, frito ou natural no lugar do pão e kani, camarão ou salmão como recheios. A opção vegana conta com um mix de mais de 13 ingredientes, entre eles, quinoa, chia, soja e mandioca.

Blue Temakeria / Divulgação
Boreste Burguer / Divulgação

Considerando a vocação da capital pernambucana quando o assunto são frutos do mar, o gastrônomo André Rodrigues e a sócia Francyelle Gomes decidiram abrir o food truck Boreste Burguer, e, no lugar de utilizar o tradicional hambúrguer bovino ou de frango, decidiram a postar nos feitos de polvo, kani, salmão, siri e lagosta. “Pensamos nesses ingredientes para oferecer um produto que ainda não existisse na região”, lembra Francyelle. Por serem carnes de mais difícil preparo, quase dois anos foram necessários até a textura do hambúrguer, o tipo de acompanhamentos e de molhos serem escolhidos. Hoje, o Boreste traz até mesmo o molho de rapadura com teriyaki como opção. Com tanta inovação, o primeiro desafio foi oferecer o produto aos clientes, mas a aceitação tem sido boa. “Às vezes, as pessoas têm uma certa relutância, um pouco de preconceito – até por não ter o costume de comer os frutos do mar, mas quem dá a cara para bater geralmente aprova”, brinca.

E cabe mesmo aos clientes ditar se o prato fica ou sai do cardápio. No Nez Bistrô, em Casa Forte, o proprietário e as chefs de cozinha decidiram unir o gratin de queijo prima donna e o petit gateau, entrada e sobremesa de maior sucesso da casa, em uma única receita. Assim nasceu o petit gateau de prima donna.

O bolinho crocante é recheado com queijo cremoso e geleia de pimentão. “Já tínhamos feito petit gateau de lagosta e de foie gras, mas não colocamos no cardápio porque seriam entradas muito caras. Pensamos no prima donna e começamos a fazer o teste. Deu muito certo”, lembra o proprietário, Marcelo Valença.

Para a professora do departamento de Hotelaria da Universidade Federal de Pernambuco, Viviane Salazar, a adaptação de comidas é algo natural do ser humano, mas costuma dar mais certo quando é feita por pessoas já conhecidas na área, quase como uma tendência. “Quando os chefs franceses vieram ao Brasil não achavam muitos dos ingredientes europeus e usavam frutas locais. Adaptações costumam dar mais certo com chefs renomados, como foi o caso de Rodrigo Oliveira, do restaurante Mocotó, em São Paulo. Ele criou o dadinho de tapioca (feito com granulados de tapioca e queijo), uma receita simples, não comum na região, que se espalhou pelo Brasil, e chega a ser servida até em casamentos”, explica.

Alhos e bugalhos, às vezes, vão bem

Para quem não concorda com a ideia de “adaptar” os alimentos e defende a preservação da “culinária tradicional”, é bom saber que alguns quitutes considerados “originais” em nossa gastronomia podem não passar de adaptações de receitas europeias. Historiadores defendem que o bolo-de-rolo, patrimônio cultural e imaterial de Pernambuco, por exemplo, seria apenas uma versão abrasileirada de uma receita portuguesa chamada “colchão de noiva” – tipo de pão de ló recheado com nozes. Como as nozes eram de difícil acesso no país, na época da colonização, foram substituídas pelo doce de goiaba, fruta encontrada em abundância no Brasil.

Lentamente, já é possível ver essa adaptação, principalmente de sobremesas, em outros pratos da cidade. “Trabalhamos muito com o petit gateau na versão de goiaba. O bolinho é assado em alta temperatura e servido com sorvete”, afirma a pâtissière e instrutora do Senac Tânia Bastos. As delícias geladas, de fácil adaptação a sabores variados, também já se adaptaram à regionalização.“Algumas casas da cidade trabalham com sorvetes regionais, mel de engenho, rapadura e bolo-de-rolo são sabores clássicos já encontrados em algumas sorveterias daqui”, lembra Tânia.

Onde comer?

Boreste Burguer / Divulgação

HAMBÚRGUERES MARÍTIMOS

Polvo, siri, camarão, salmão, lagosta e kani substituem o tradicional hambúrguer de carne bovina no Boreste Burguer. Os acompanhamentos são pão, alface, repolho refogado no shoyu, pepino, sunomono, cebola defumada, queijo maçaricado e um molho especial.
De R$ 18,90 a R$ 28,90
Onde: Sunset Food Park – Av. Conselheiro Aguiar, n°02, Pina
Horário de funcionamento: 17h às 23h
Burgrill Burguer / Divulgação

PÃO DE CARVÃO

Pão preto pode não ter um visual muito atrativo, mas é uma das opções para quem deseja comer os hambúrgueres da Burgrill Burguer, nos Aflitos. A massa é similar à de um pão brioche comum, mas é pigmentada com carvão ativado, adquirindo uma cor escura. Quem experimentou garante que o gosto é igual ao de pão normal. De R$ 20 a R$ 25
Onde: Avenida Rosa e Silva, 1086, Aflitos (estacionamento do Náutico)
Horário de funcionamento: Terça a sábado, das 18h às 23h e domingo, das 16h às 22h
Thorpe's Brigaderia / Divulgação

COXINHA DE BRIGADEIRO

Uma receita de coxinha feita com massa de brigadeiro e recheio de morango ganhou a internet em 2016. Quem quiser experimentar o quitute sem sujar as mãos cozinhando pode encontrá-lo nas versões de leite Ninho, Oreo e Ovomaltine, na Thorpe’s Brigaderia.
R$ 7
Onde: Rua General Polidoro, 352, loja 10, Várzea
Horário de funcionamento: Segunda a sábado de 12h às 20h e domingo das 13h às 18h
Blue Temakeria / Divulgação

SANDUÍCHE DE SUSHI (SANDUSHI)

Para os amantes da comida japonesa, a Blue Temakeria transformou o sushi tradicional em um hambúrguer, que pode ser recheado com kani, camarão, salmão ou misto (combinação dos três sabores). Tem também a opção vegana. Em todos eles, o arroz substitui o pão e pode ser pedido nos formatos tradicional ou frito. De R$ 12,90 a 18,90
Onde: Rua Dr. José Maria, 299, Encruzilhada ou Rua do Futuro, 314, Graças Horário de funcionamento: Terça a domingo, 11h30 às 16h (Encruzilhada) e 17h às 23h30
Icebode Natal / Facebook

SORVETE DE QUEIJO

Quase todo mundo gosta de queijo e de sorvete, geralmente separados. Pensando nisso, a sorveteria paraense IceBode resolveu juntar os dois em uma mistura com o nome da casa. Além de pedaços de queijo do reino, o sorvete IceBode leva doce de cupuaçu, tipicamente paraense. A partir de R$ 7
Onde: Av. Pres. Castelo Branco, 7667, Candeias, Jaboatão dos Guararapes ou Rua Carlos Pereira Falcão, 121, loja 2-A, Boa Viagem
Horário de funcionamento: Terça a sexta das 15h às 23h e sábado e domingo das 11h às 22h (Candeias) ou todos os dias, das 12h às 22h (Boa Viagem)
Candellabro Pizzaria / Divulgação

PIZZA DE SALPICÃO

Frango, milho, presunto e passas são os adicionais que trazem à pizza da Candellabro uma lembrança de datas comemorativas em família.
De R$ 25,30 a R$ 45,90
Onde: Estr. do Arraial, 3310, Casa Amarela
Horário de funcionamento: Terça a Sábado das 18h à 0h e domingo das 12h à 0h
Ricardo Fernandes / Diário de Pernambuco

SORVETE DE MOSTARDA

A produção artesanal é feita com mostardas Dijon e l’Ancienne e compõe a entradinha de Steak Tartare, um picadinho de filé-mignon com temperos, do Nez Bistrô, em Casa Forte. R$ 39 Onde: Praça de Casa Forte, 314 – Casa Forte Horário de funcionamento: Segunda a quinta, das 18h30 à 0h, sexta das 12h às 16h e das 18h30 à 1h, sábado das 12h às 15h e 18h20 à 1h e domingo das 12h às 15h
Ricardo Fernandes / Diário de Pernambuco

PETIT GATEAU DE QUEIJO PRIMA DONNA

Também no Nez Bistrô, o bolinho de queijo cremoso vem acompanhado de geleia de pimentão, salada de rúcula e torradas artesanais. R$ 38
Onde: Praça de Casa Forte, 314 – Casa Forte
Horário de funcionamento: Segunda a quinta, das 18h30 à 0h, sexta das 12h às 16h e das 18h30 à 1h, sábado das 12h às 15h e 18h20 à 1h e domingo das 12h às 15h
Lorena Barros

Lorena Barros

Repórter

Ricardo Fernandes

Ricardo Fernandes

Fotógrafo