Professora se retrata por vídeo questionando alfabetização de nordestinos

Professora Flávia Rita / Facebook

Um vídeo da aula de uma professora mineira está causando polêmica nas redes sociais ao levantar questionamentos sobre xenofobia. A gravação mostra a docente, de nome Flávia Rita, afirmando que a professores do Norte e Nordeste não são totalmente alfabetizados e caracterizando as regiões Sul e Sudeste como locais altamente privilegiados. Na gravação, com pouco mais de um minuto, ela fala sobre analfabetismo total e funcional e diz que muitos dos alunos não acreditam nos dados oficiais sobre pessoas que não sabem ler e escrever porque não convivem com elas. “A gente só esbarra com pessoas do nosso meio. Olha o meio em que vocês estão. A realidade é outra. Nós não subimos para o Norte e Nordeste que nem os professores são alfabetizados totalmente, concordam comigo? A gente não saiu do nosso mundo aqui não, altamente privilegiado, Sul e Sudeste. Onde a gente tem um núcleo privilegiadíssimo, com o potencial econômico todo do lado de cá”, afirma a professora durante a aula.

Considerada como referência no ensino de português para concursos, a professora tem mais de 120 mil seguidores nas redes sociais e vai ministrar um aulão presencial de conteúdos gramaticais e redação para prova do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) no próximo domingo (08), no Recife. Com as vagas para o turno da manhã e tarde esgotadas, as aulas serão realizadas no Hotel Manibu, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul da capital.

Pronunciamento nas redes sociais

Poucas horas após divulgação do vídeo, a docente recebeu mais de 20 críticas negativas na página do Facebook. Com diversos comentários a caracterizando como uma pessoa preconceituosa, Flávia Rita resolveu se pronunciar nas redes sociais por meio de um vídeo de 2 minutos em sua fanpage e uma publicação no site profissional. A gravação já conta com 19 mil visualizações e mais de 500 comentários, em menos de 24 horas. Grande parte deles em apoio à profissional. “Tem pessoas que só enxergam o que querem. Sou nordestina e estou ao seu lado”, fala uma das seguidoras.

Alegando que não se deve julgar uma pessoa por conta de uma frase “sem contexto” de apenas 50 segundos, retirada de um vídeo com mais de uma hora de duração e feito no ano de 2013, a professora de redação conta que se baseou em dados estatísticos quando se referiu ao Norte e Nordeste e pediu desculpas pelo mal entendido, se dizendo disposta a repará-lo.

 

Professora Flávia Rita / Facebook

“Os comentários e as avaliações estão limitadas a 50 segundos da minha vida. Trata-se de rotular uma pessoa com 37 anos de vida – e uma história – a partir de uma fala de 50 segundos. Pessoas me chamando de preconceituosa, xenofóbica, me acusando de disseminar o ódio contra nordestinos, até de discípula de Hitler sem me conhecerem minimamente. Uma fala mal colocada por mim não reflete o que eu sou ou meus valores. Eu errei e já me desculpei. Aos juízes da internet que me julgam por 50 segundos sem sequer conhecerem, só posso dizer que, se se propuserem a fazerem uma leitura mais ampla da minha pessoa, talvez vocês mudem de ideia. Não sei ser grossa, desrespeitosa, nem revidar com ofensas. O que eu sei é que não sou preconceituosa e que fui infeliz em uma fala de 50 segundos em um vídeo de março de 2013”, escreveu a professora no post em sua página oficial.

Sobre o curso no Recife, Flávia comenta no vídeo que estará na cidade e pretende contribuir muito para a aprovação dos alunos. “Estarei em recife sábado, terei um dia maravilhoso e abençoado. Tenho certeza que poderei contribuir muito, com muitos que lá estarão”, diz a professora em sua postagem.

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Repercussão entre professores nordestinos

Uma das primeiras pessoas a publicar o vídeo em grupos nas redes sociais foi o professor Ederval Trajano, que ensina em uma escola da zona Oeste do Recife. Para ele, a declaração da docente, acompanhada por uma retratação baseada em dados de uma pesquisa divulgada apenas dois anos após o caso, foi infeliz e só serviu para reforçar estereótipos das duas regiões. “Jamais a questionamos como profissional, questionamos o que ela falou sobre professores do Norte e Nordeste. Ela deveria se retratar não só aos alunos, mas aos professores. Se nós não somos alfabetizados, os nossos estudantes são o quê?”, pontuou Trajano, que há mais de 20 anos se dedica às salas de aula e é conhecido por trazer o cinema para potencializar o aprendizado dos pupilos.