Pobreza pode afetar o cérebro, apontam especialistas

Wikimediacommons / Reprodução

Especialistas da neurociência sugerem que as pessoas que vivem em situação de pobreza podem ter o cérebro afetado de várias maneiras. Uma das formas que o cérebro pode ser afetado é a sobrecarga mental. Eldar Shafir é professor de ciência comportamental e políticas públicas da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e compara a preocupação de pagar as contas no final do mês com o fato de guardar na memória uma sequência numérica. “Peça a um grupo de pessoas que memorize uma série de sete dígitos. Conseguem se lembrar da sequência 7, 4, 2, 6, 2, 4, 9? Enquanto você guarda os números em sua memória de curto prazo, tentando não esquecer, sua mente está literalmente cheia. Você tem menos espaço cognitivo para outras coisas”, explica. As informações são da BBC.

Para provar que essa ligação realmente existe, foram feitos vários testes. Em um deles, foi dito a um grupo com pessoas de diversas classes sociais que elas teriam que consertar o carro. A algumas pessoas o professor informou que o reparo iria custar US$ 150 (R$490,00) e a outros que ultrapassaria US$ 1.500 (R$4.000). Ao analisar os resultados finais, Shafir pode notar que as pessoas com classe social mais elevada tiveram desempenho semelhante, independentemente do valor. Já as pessoas mais pobres tiveram melhor desempenho quando o reparo era mais barato.

O mal funcionamento geral foi outra maneira citada por Adina Zeki al Hazzuri, professora da Universidade de Miami que investiga o impacto da sociedade sobre a nossa saúde, através do envelhecimento cerebral. Com o intuito de medir a até qual ponto o baixo rendimento influencia no funcionamento do cérebro, foi feito um estudo com cerca de 3.500 pessoas que tinham entre 18 e 30 anos em 1985, onde eles informaram suas rendas ao longo de duas décadas. “Constatamos que pessoas que viveram em situação de pobreza o tempo todo durante esses 20 anos tiveram resultados muito piores do que aquelas que nunca passaram por essa experiência”, explicou Adina.

O freio ao desenvolvimento é outra maneira como a situação financeira pode afetar o cérebro, dessa vez, das crianças. Katie McLaughlin, professora de psicologia na Universidade de Washington, estuda os primeiros anos de vida das crianças, quando o cérebro tem um maior desenvolvimento. Durante o desenvolvimento da pesquisa, McLaughlin passou a observar como os cérebros de crianças que vivem em condições de vida precária são debilitados, em áreas pobres da Romênia e dos Estados Unidos. “Se pudermos entender como essa forma extrema de pobreza afeta o desenvolvimento do cérebro, talvez possamos aprender algo sobre o que acontece no cérebro de crianças que crescem na pobreza. Os circuitos neurais e as conexões projetadas para processar a informação, se não forem utilizados, desaparecem. Se isso acontecer de forma contínua e em larga escala, contribui para um estreitamento do córtex”, explica McLaughlin.

Para os especialistas, há cada vez mais evidência que associam a pobreza à mudanças no cérebro. “Acho que há cada vez mais evidências para estabelecer a relação entre pobreza e mudanças cerebrais, mas é um campo de estudo relativamente recente “, comenta Charles Nelson, professor de pediatria e neurociência da Universidade de Harvard. As ferramentas para esse tipo de estudo estão cada vez mais sofisticadas, permitindo realizar estudos que não eram possíveis há dez anos atrás, apesar dessa área de pesquisa ser relativamente nova no meio. “O simples fato de não ganhar uma certa quantia de dinheiro não causa nada. É o que está relacionado à ausência de uma certa quantidade de dinheiro que parece causar (danos). Por exemplo, a falta de comida ou o fato de não ter acesso a um bom sistema de saúde ou o estresse elevado na família que pode levar à falta de cuidados”, explica o professor.

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