Pernambucanos criam casa flutuante para comunidades ribeirinhas
Alunos de Arquitetura e Urbanismo da UFPE projetaram casa para unir segurança e reciclagem em projeto que será apresentado na China
A única divisão entre as águas do Rio Paratibe e a residência da diarista Lindalva Rocha, há 20 anos, é um muro de tijolos com pouco menos de dois metros de altura. Ela foi uma das 637 pessoas desabrigadas durante as fortes chuvas da Região Metropolitana do Recife em maio de 2016, e só voltou ao local quando o nível da água desceu, dias depois. Pensando em histórias como essa, alunos do departamento de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) projetaram a “casa ideal” para moradores de comunidades ribeirinhas: uma moradia com base flutuante que acompanha o nível da maré, caso as águas subam. A ideia fez tanto sucesso que ganhou premiação internacional e foi apresentada em competição na Universidade de Tsinghua, na China.
O projeto foi pensado, a princípio, para moradores das margens do Rio Capibaribe e consiste em coletar garrafas PET jogadas na água e utilizá-las na base das residências. Levando em consideração que o material tem tempo de decomposição de 100 anos, é quando a prevenção de inundações é unida à reciclagem. “Ninguém limpa. Não tenho condições de ir para um lugar melhor. Enquanto não tiver outro jeito, vou ficar”, afirma Lindalva. Além de precisar sair de casa, ela perdeu parte dos móveis com a chuva, assim como todos os vizinhos. Com a ajuda de amigos, recuperou uma cama e vai em busca do restante. “Agora tenho que trabalhar muito para conseguir tudo de novo”, lembra.
Apesar de o projeto envolver a conscientização ambiental, a ideia principal do grupo é integrar esses moradores à sociedade oferecendo condições dignas para viver e até mesmo dando instruções para auxiliar no processo de construção das casas. “Muita gente que mora na beira do rio hoje é marginalizada. Essa também é uma forma de oferecer casa de qualidade para essas pessoas, fazer elas serem parte do conjunto urbano”, afirma Lalleska Araújo, da equipe que idealizou as casas flutuantes.
metros é a altura estimada da casa
toneladas é o peso estimado da edificação
m² é a altura da residência
m² é a área da casa somada com varanda
Casa flutuante em números
Um banco privado custeou as passagens dos estudantes para Pequim, sede de workshop em que nove projetos de universidades internacionais apresentarão projetos com soluções para problemas do século 21 a potenciais investidores. A casa projetada pelos estudantes tem dois quartos e deve abrigar quatro moradores. Para fazer o imóvel flutuar, são necessárias mais de 2,6 mil garrafas pet, mas o intuito é que ela permaneça na terra o tempo todo. “A casa é flutuante por uma medida de emergência”, lembra Lalleska. As residências poderão ser acopladas a outros módulos, de acordo com a necessidade de cada família. O custo de produção não foi calculado e, por enquanto, o projeto ainda está em uma maquete virtual. A viagem para Pequim é a esperança de tornar a proposta concreta e, no futuro, poder mudar a realidade de comunidades ribeirinhas no estado.
Lorena Barros
Repórter
Karina Morais
Fotógrafa