Para matar a fome de saber: Pernambuco ganha geladeira cheia de livros em comunidades
Projeto que coloca geladeiras repletas de livros em comunidades deve chegar, em abril de 2016, à área vulnerável de Olinda denunciada pelo Diario
“Leia-me enquanto estou quente”, pediu certa vez Lygia Fagundes Telles. A primeira mulher brasileira recomendada ao Prêmio Nobel de Literatura talvez não sabia, mas alguns de seus exemplares seus residem justamente em uma geladeira, acompanhados por títulos de colegas como Dias Gomes, no interior de uma geladeira. Um desses eletrodomésticos será colocado no mês de abril de 2016 num dos pontos feitos praticamente de lixão pela população de Rio Doce, em Olinda, onde o fotógrafo do Diario Peu Ricardo flagrou o tocante momento em que quatro garotos divertiam-se com livros em meio aos resíduos. A história foi publicada no dia 22 de janeiro de 2016 e inspirou a ampliação de um projeto que já espalhou 35 geladeiras literárias pelo estado. “Nos sensibilizamos com o registro e estamos fazendo esta entrega agora em comemoração ao Dia do Livro Infanto Juvenil, que foi comemorado no dia 3 de abril”, afirma Sérgio Santos, coordenador do projeto Geladeira Literária.
Sem registros de depredação ou riscos por cima dos desenhos originais, as geladeiras já são acessadas por mais de 7 mil crianças e jovens e contam com acervo total de 4,2 mil livros, segundo o levantamento do Movimento Social Periferia & Cidadania. Elas são doadas por famílias de onde serão acomodadas. “A ideia é a comunidade participar do projeto, na reutilização de eletrodomésticos que seriam jogados nos lixões e rios”, explica. O experimento, de acordo com Santos, repercute positivamente nas escolas, no que aumenta o interesse dos jovens pela escrita. “Uma doação de escritores pernambucanos trouxe muitos livros locais. Também oferecemos cordéis e xilogravuras”, afirma Sérgio.
O estudante Paulo Henrique Batista, de 12 anos, parece “gente grande” ao falar da importância da geladeira na comunidade em que vive. “É um incentivo para quem deseja um futuro melhor, é minha obrigação estudar e ler”, comenta, segurando um gibi dos Cavaleiros do Zodíaco. O garoto, que grafitou uma das portas da geladeira durante sua inauguração garante que não é o único na escola a pegar livros. “Meus colegas de sala sempre vêm. É bom demais. Quando leio, viajo nas histórias”, sorri. O vizinho, Cleibson Gomes, de 11 anos, foi junto. “Todo mundo gosta. As palavras grandes são mais difíceis, mas acho todos os livros interessantes”, comenta.
Marília Parente
Repórter
Paulo Paiva
Fotógrafo