O milagre de Michele e Maisa
Caso aconteceu no Hospital Memorial Guararapes, em Jaboatão. Michele Santiago, de 27 anos, teve condição rara que atinge uma em cada 100 mil gestantes
Ao chegar no Hospital Memorial Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, grávida e com uma simples dor na cabeça e na nuca, Michele, de 27 anos, não imaginava que só sairia de lá quase um mês depois, com a filha Maísa nos braços e uma história emocionante para contar. Durante uma pré-eclâmpsia ela teve uma parada cardíaca e passou quase 10 minutos sem sinal de vida. Neste momento, os médicos precisaram agir rápido: uma cesariana de emergência foi realizada para a retirada do bebê, também com morte aparente. A partir daí, a eficiência da equipe médica e um pouquinho de sorte foram essenciais para reverter o quadro, até então trágico. “Ouvi o bebê chorando ainda enquanto eu fechava o útero, sinal de que estava vivo. Logo depois, os médicos que estavam ajudando fizeram a desfibrilação e a mãe voltou ao normal”, explica o obstetra Glaucius Nascimento, um dos responsáveis pelo parto de Maisa.
A pré-eclâmpsia grave que acometeu Michele é um quadro de hipertensão durante a gravidez, que atinge uma em casa trinta gestantes. A parada cardíaca que a deixou sem sinal de vida, por sua vez, foi decorrente de uma embolia por líquido amniótico, quando a substância do útero entra na corrente sanguínea da mãe em um caso raríssimo, que ocorre de um a dois em cada cem mil partos. Para o caso terminar de forma positiva, o esforço de todo o hospital foi necessário. Cada minuto era essencial para a vida das duas e o procedimento precisou ser realizado ainda na sala de pré operatório. “Mesmo em momentos de estresse devemos seguir o protocolo. Uma das partes do protocolo é pedir ajuda. Em pouco tempo três pediatras, médicos da UTI, do bloco cirúrgico e anestesistas apareceram para auxiliar na operação”, conta o médico.
Para Michele, que já era mãe de uma menina de cinco anos, a experiência de trazer a filha mais nova ao mundo foi inesperada e quase inacreditável, mas recompensante. “Demorou muito para a minha ficha cair. Não sabia que era tão grave”, afirma. A última lembrança antes de estar entre a vida e a morte é ficar sem ar e vomitar. “Quando acordei na UTI coloquei a mão na barriga e pensei ‘Jesus, o que aconteceu?’. Só me acalmei quando minha mãe explicou que estava tudo bem e disse que minha filha era linda”, lembra Michele. Agora em casa, no bairro de Prazeres, com a filha nos braços, ela deseja lembrar ao seu pequeno milagre como ela nasceu e não perder o contato com um dos responsáveis pela vida de ambas. “Ela vai saber da história todinha. Se continuarmos a falar com ele ela com certeza vai conhecê-lo”, garante.
Para o médico, com mais de 15 anos de profissão, a primeira semana de 2017 marcou um dos casos mais impressionantes da carreira. “A gente vê tanta briga entre pessoas e profissionais, mas naquela hora todo mundo ajudou. Só quem viveu aquele momento pode narrar a história”, fala. Mesmo que atribua à toda a equipe a conquista da vida de Maísa, o doutor Glaucius não deixa de se alegrar com a oportunidade de conseguir tomar as decisões certas a tempo de ajudar mãe e filha em um momento tão importante. “Não quero que uma oportunidade dessa apareça nunca, mas há pessoas que se preparam a vida toda para tomar a decisão correta em um momento como esses”, comemora.
Lorena Barros
Repórter
Lorena é estagiária do Diario desde maio de 2016