Jogos digitais incorporam PMs e até ônibus do Recife
Customizações de usuários em games como Euro Truck ou GTA geram divertidos roteiros com design bem pernambucano
Imagine divertir-se controlando o ônibus que você pega todos os dias ou assumir o lugar de um policial, com direito a farda da PM pernambucana e tudo. Cada vez mais comum, a hiperpersonalização do ambiente digital chega com força nos jogos digitais, seja por hobby ou como montagem de portfólios.
O estudante petropolitano, Gustavo Gomes, 21, possui um canal no YouTube, o Acervo Gamer Oficial, há 11 meses. Nele, publica a personalização de mods locais, como são chamadas as modificações feitas nos games, de alguns jogos, mesmo não morando mais em Pernambuco – viveu grande parte da infância em Camaragibe. O jovem atende a pedidos diários dos inscritos no seu canal para que personalize ônibus das cidades: “Tem muitos pedidos do Nordeste, por exemplo, Recife e Teresina. Eu sempre pergunto de onde os usuários são, mas nem sempre eles respondem. Então, utilizo como base os pedidos”, comenta. “Jogos como o Euro Truck 2, em si, já atraem muita gente, mas percebi que as pessoas sentem orgulho de ver sua cidade nos jogos, de ver o ônibus que passa na porta de sua casa”, completa o autor de um dos veículos trajados de “Borborema” no YouTube.
Curiosos como Gustavo levam a prática como hobby, mas um futuro na área não chega a ser descartado, já que existe um mercado de possibilidades para os iniciantes: “O mercado é restritivo, mas pode ser explorado para gerar receita e downloads e esse material pode ser utilizado como portfólio para alguém que esteja ingressando na área”, explica Túlio Garaciolo, pesquisador e produtor do estúdio pernambucano Manifesto Games.
Jogos como Minecraft permitem aos usuários criarem cidades inteiras e possibilitam diversas opções de personalização, mas alguns amantes do game vão além e fazem customizações em áreas que sequer estão “abertas” na rede. “O jogo Grand Theft Auto (GTA), por exemplo, permite ao usuário fazer poucas modificações, mas as pessoas vão lá e mexem no que ‘teoricamente’ não poderiam”, comenta o pesquisador. “Então, quem customiza nessa situação tem uma habilidade diferenciada e um perfil para ingressar na área de jogos. Normalmente, são necessárias ferramentas de hackers para quebrar o jogo”, explica Túlio. Mas essa atividade não aparece ser vista com maus olhos pelas produtoras: “As desenvolvedoras não costumam reclamar. Até porque acaba sendo uma forma de divulgação”.
Parece brincadeira, mas, além de habilidade, é necessário paciência. Mods como os disponibilizados no canal de Gustavo levam entre três e quatro horas para serem finalizados. “Essa é a média, mas em pinturas com mais detalhes já demorei mais de um dia pra finalizar”, conta. Túlio completa: “É bem trabalhoso. Quem cria mods personalizados, muitas vezes, está tendo o mesmo trabalho de quem foi pago para criar aquele jogo”.
Mayra Couto
Repórter