Homem intersexual é criado como menina e “descobre gene” aos 25 anos
O britânico Joe Holliday só teve sua certidão de nascimento descrita com o sexo masculino com seus atuais 29 anos. Ele foi tratado como “Joella” durante toda sua infância e adolescência. Isso porque ele tem uma condição incomum que, por causa do despreparo médico, custou muito tempo de sua vida. Joe é intersexual. A intersexualidade é um Distúrbio de Diferenciação Sexual (DDS). Na prática, é constatado quando genitais; órgãos reprodutivos ou padrões cromossômicos não se desenvolveram conforme esperado e não se enquadram nas divisões binárias de masculino e feminino. No caso de Holliday, quando ainda estava no útero, seus órgãos genitais não se desenvolveram plenamente e ele tinha uma espécie de “buraco” no abdômen.
Embora seja uma condição rara, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmam que 1,7% da população mundial tem traços intersexuais. Os quais, segundo o NHS – serviço público de saúde britânico, podem ser causados por questões genéticas, diferença entre os genes e a forma como o corpo da pessoa reage aos hormônios sexuais.
O homem que praticamente dormiu como menina e acordou como menino, em entrevista concedida ao jornal britânico BBC, contou que “passou a ser Joella” a partir da data de seu primeiro aniversário. Por orientação de um especialista do centro de referência de saúde infantil em Londres, o Great Ormond Street Hospital, sua mãe trocou toda a lógica de vida da família do dia para a noite, incluindo suas roupas, de azuis para cor-de-rosa. O profissional teria justificado a sugestão por conta da ausência de genitais masculinos e que, cirurgicamente, “correção” seria mais fácil.
Holliday rememorou o período de grande angústia, quando era tratado como garota. Naquele tempo, ele sofreu de ansiedade e depressão. Doenças psicológicas, inclusive, que o levaram a automutilação e até a tentar suicídio. “Durante alguns anos, me sentia em um buraco negro e não sabia por quê”. Foi somente aos 25 anos que, por acaso, ele encontrou um prontuário médico antigo que mostrava que seus cromossomos eram XY. O que significa, geneticamente, que ele é do sexo masculino. Holliday descobriu, também, que seus testículos foram removidos quando ele tinha apenas um ano e meio de idade – apesar de estarem perfeitamente saudáveis.
“Sinto que perdi uma parte enorme da minha vida. Foram 15 anos que passei deprimido, quase recluso”, lamentou Holliday. Entretanto, apesar de todo pesar e descobertas, ele passou a se aceitar e assumir como homem e sua identidade masculina. O hospital responsável por todo o transtorno do homem, até agora, não desenvolveu métodos para lidar com as crianças intersexuais. As famílias não têm acesso a atendimento psicológico e nâo tiveram seus casos devidamente estudados antes de passarem por cirurgias irreversíveis. É o que aponta a apuração da BBC. O Great Ormond Street Hospital, por outro lado, respondeu que os casos foram discutidos com equipes multidisciplinares e que um psicólogo especialista será contratado nas próximas semanas.