Florista, há 34 anos, oferece rosas e conselhos, no Centro do Recife
Florista conhecida no Centro, Irmã Miriam vai além dos buquês e se faz consultora de assuntos do coração e diz que há uma flor para cada ocasião
Em meio à agitação do comércio, dos ônibus e dos pedestres, na Avenida Guararapes, Centro do Recife, há o colorido, o aroma das rosas e a gentileza de Miriam Caetano Barbosa, 65 anos, que trabalha na calçada com uma banca de flores há 34 anos, entre o ponto atual e o antigo que era localizado na Rua Matias de Albuquerque. Antes de dedicar-se as flores, a comerciante vendia frutas, verduras e temperos. Com mãos habilidosas, ela chega cedo para retirar as pétalas que estão danificadas e para fazer os laços que irão compor os buquês. Mesmo diante de seus afazeres, a florista mantém os olhos atentos para oferecer uma cadeira para idosos e pessoas com crianças no colo que aguardam a chegada dos ônibus.
A cada frase que fala, irmã Miriam, como é conhecida, faz questão de mencionar sua fé, pois, segundo ela, se não fosse por isso, não estaria mais entre nós. “Você está vendo essas cicatrizes em meu pescoço? Antes eu tinha vergonha, mas hoje não tenho mais. Cerca de 30 anos atrás, eu tentei tirar a minha vida por conta das dificuldades que enfrentei, mas Deus me deu uma nova oportunidade. Hoje, eu preciso espalhar este amor que recebi Dele”, declara.
Além de ser comerciante e mãe de nove filhos, ela também é conselheira, já que, a maioria de seus clientes sempre pedem opiniões de como conquistar ou de como pedir desculpas para a pessoa amada. “Tem alguns maridos que chegam aqui desesperados e me dizem que a esposa está brava. Eu pergunto logo o que ele fez, porque para a mulher estar com raiva alguma bobagem ele deve ter feito. Depois, eu sugiro qual rosa ele deve dar de presente, fico em oração pelo casal e sempre peço para voltar e me contar se tudo ficou bem”, conta.
De acordo com a profissional, a rosa branca significa paz, a cor de rosa é carinho, a amarela é amizade, a vermelha é amor e um buquê composto porto várias cores é amizade. “As flores proporcionam muitos momentos de alegria, mas infelizmente também há os momentos tristes como os sepultamentos”, revela. Depois de mais de três décadas de trabalho, ela nem faz ideia de quantas rosas já vendeu.
Quem vai à banca da irmã Miriam pode comprar uma flor ornamentada por R$ 2,00. “Antes nós vendíamos por R$ 5,00, mas com essa crise, tivemos que baixar o preço”. Através de seu trabalho, no centro do Recife, a florista conseguiu manter sua família e conquistar a casa própria. “Graças a Deus, eu comprei um terreno e construi uma casinha para mim e mais três casas no mesmo lugar para as minhas filhas”, afirma.
Para Miriam, a maior recompensa é ver a felicidade de quem é presenteado com sua mercadoria. “De vez em quando aparece alguns clientes que compravam buquês para suas namoradas e hoje chegam aqui com suas esposas e filhos, e, isso me dá uma alegria enorme de ver que primeiramente Deus e minhas flores contribuíram para isso”, enfatiza.
Atualmente, a comerciante conta com a ajuda de uma das filhas, Daniele Caetano, para aguentar as 12 horas diárias de trabalho de segunda a sábado. “Um dos momentos mais felizes no meu dia é quando vejo minha filha chegando para trabalhar comigo”. Questionada se deseja se aposentar, ela enfatiza: “Vou continuar até quando der, porque ao invés de ficar deitada estou ganhando meu dinheirinho e fazendo novas amizades”.
Aline Ramos
Repórter