Como foram escritos os grandes hits de compositores pernambucanos
Geraldo Azevedo: Pro que der e vier
Feita por partes, Dia Branco começou com uma melodia e um arranjo. Sem letra, foi feita de forma solitária em casa. A sucessão de notas lúgubres vinha embebida no conteúdo do disco triplo All Things Must Pass, lançado por George Harrison, em 1970, logo após o termino dos Beatles. “Eu escutava aquilo o tempo todo, sem parar. Tenho certeza que a música foi muito influenciada por aquele álbum. Na verdade, os Beatles influenciaram o mundo todo, de um jeito ou de outro”, avalia o cantor.
Nando Cordel: Flor com cheiro de censura
Aos 62 anos, Nando Cordel têm mais de mil canções assinadas. O ipojuquense compõe em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias. Com um violão no meio da rua ou utilizando um papel improvisado em um local abarrotado. Quando a inspiração e/ou a necessidade chega, nada impede que o artista anote uma nova obra. E, apesar da grande quantidade de composições, algumas são especiais a ponto de Nando lembrar todos os passos de sua fabricação, mesmo que décadas tenham se passado. Flor de Cheiro, seu primeiro grande sucesso, de 1982, é um exemplo dessas músicas que têm um lugar mais profundo no coração do cantor.
Fred Zero Quatro: Um esquema só
Meu Esquema é, sem dúvida, a canção mais famosa do Mundo Livre S/A. Quem ouve, se sente na praia, de férias, ao lado da pessoa amada. Pois foi justamente nesse contexto que ela surgiu. Depois de uma longa turnê divulgando o álbum Carnaval na Obra (1998), o líder da banda, Fred Zero Quatro, não via a hora de passar um tempo com a mulher, Maria Eduarda. Chegou em casa, em janeiro de 1999, e ficou tempo suficiente apenas para aprontar as malas e partir com ela para a praia de Serrambi, em Ipojuca.
“Ela é meu bloco de carnaval, minha evolução…”
Assim que descarregou o carro e descansou os pés, Fred recebeu uma ligação do produtor Guto Graça Mello, pedindo para ele voltar ao Recife. “Disse: ‘tem um bloco novo aqui, o Guaiamum Treloso, que quer te homenagear’. Mas eu não tinha intenção de voltar e pedi para ele falar para o pessoal que estava em Serrambi, onde outro bloco iria me homenagear. Ele deu uma gaitada na hora, porque sabia que era sério, que eu estava com saudade da galega e não ia voltar”, lembra.
Parceria à distância
Rios, Pontes e Overdrives, composição de Chico Science e Fred Zero Quatro, teve processo de parceria incomum. O nome e refrão da música saiu do título de um texto escrito por Fred sobre o cenário musical do Recife. “O álbum fechado com a gravadora estava com repertório reduzido e, Chico, precisando compor. Ele gostou muito do título e da frase ‘impressionantes esculturas de lama’ e pediu para utilizá-la na canção, me creditando”, explica Fred.
Conde do Brega : Ele faz dele o que quer
Pode acreditar, A Vida é Assim, hit da banda Só Brega, nasceu como uma música de “rock n’ roll pesado”. Antes da banda Só Brega, que estourou no estado em 2004, o conde, autor da canção responsável pelo sucesso, tinha uma banda de “peso”. A transição de rock para brega, de acordo com ele, é fácil e aconteceu durante os ensaios da banda. “A mudança ocorre quando se toca os mesmo “quatro ou cinco acordes” em outro ritmo. A melodia e o arranjo se mantém”, explica.
Alceu Valença: O primeiro hit a gente nunca esquece
No final da década de 1970, ainda sem nenhum grande sucesso de repercussão nacional, Alceu Valença sentia que o mercado da música era incompatível com a arte que produzia. A sensação, aliada à insatisfação com a situação política do país o levou ao autoexílio em Paris. Foi no apartamento que dividia na capital francesa com o guitarrista Paulo Rafael e a empresária na época, Anelisa, que seria escrita a canção que redefiniria a trajetória artística do cantor.
Karina Buhr: Memória fraca X caderninho forte
Karina não lembra o momento em que escreveu quase nenhuma de suas várias músicas. A compositora compulsiva carrega sempre um caderno pequeno com ela. A qualquer momento pode sair alguma coisa, sem querer – ou não -, e ela está sempre preparada. Por isso mesmo, as exceções, as canções que são compostas através de um processo diferente, são as únicas que ela é capaz de recordar. É o caso de Plástico Bolha, uma das canções mais conhecidas da carreira solo de Karina. “Eu estava fazendo faxina na minha casa e a música começou a sair naturalmente. Eu ia cantando, já no ritmo e com a letra, como se ela já existisse. Fiquei cantarolando ela até chegar no dia do ensaio, quando mostrei para os músicos e começamos a trabalhar nela. Acho até que ela nunca chegou a passar pelo caderninho”, comenta. “Elas vêm assim. Eu não sou do tipo que senta com intenção de começar a criar e daí passa a psicografar tudo. Só fiz uma música por encomenda até hoje. O normal é passar muito tempo pensando sobre alguma coisa e, então, a música começa a sair.”
Paulo Trigueiro
Repórter