A história por trás dos casarões da Rui Barbosa
Sobreviventes do século 19, apenas 14 dos 81 casarões da Estrada dos Manguinhos – que veio a se tornar a Rui Barbosa – permanecem de pé. Conheça a história desses imóveis antigos da capital pernambucana
Por Anamaria Nascimento
Símbolos da opulência das famílias ricas do Recife do século 19, os casarões da Avenida Rui Barbosa, na Zona Norte da cidade, são como peças de um quebra-cabeça que remonta o passado. Endereço preferido dos comerciantes europeus e brasileiros que se instalavam na capital pernambucana em busca de prosperidade, a então Estrada dos Manguinhos atraía endinheirados pela proximidade com o Rio Capibaribe e pela facilidade de acesso aos trens urbanos, que conectavam a região ao Centro.
O arquiteto José Luiz da Mota Menezes acredita que, fora as áreas históricas da cidade, como o Bairro do Recife, a Rui Barbosa é uma das avenidas que mais concentram, hoje, imóveis antigos na capital pernambucana. Da Estrada dos Manguinhos dos ricos comerciantes, porém, restam apenas 14 dos 81 casarões que existiam no início do século 19, de acordo com o levantamento feito na área entre a Avenida Dezessete de Agosto e o Clube Português, na Avenida Rosa e Silva, pelo professor aposentado da UFPE.
A via que corta os bairros da Jaqueira e das Graças equivalia – em status e procura – à Avenida Boa Viagem de hoje, guardadas as devidas proporções. “Era o endereço dos comerciantes mais ricos do Recife. Quando eles chegaram à cidade, encontraram um Centro caótico e quente. Buscaram, então, instalar-se em sítios mais afastados da área central. Por causa dos trens urbanos que passavam na Ponte D’Uchoa, a área foi bastante procurada”, explica.
Raio-x da Rui Barbosa
A famosa avenida teve origem no século 19 e, quando surgiu, se chamava Estrada do Manguinho. Atualmente ela passa pelos bairros da Jaqueira e Graças, começando no cruzamento com as ruas Leonardo Bezerra Cavalcante e Muniz Álvares. Sua extensão vai até o cruzamento com a Avenida Agamenon Magalhães. Ela se conecta à Avenida Parnamirim e forma um binário com a Avenida Rosa e Silva.
Extensão da via em quilômetros
Veículos passam por hora na avenida
Linhas de ônibus trafegam pela Rui Barbosa
História preservada
Hoje, quatro casarões da Rui Barbosa têm proteção especial. O da Academia Pernambucana de Letras é o único tombado pelo Iphan. Os números 36, 1397 e 1599 são Imóveis Especiais de Preservação (IEPs) e contam com proteção municipal. Já o prédio do Museu do Estado de Pernambuco está em processo de tombamento. Além dos imóveis protegidos, a avenida tem duas Zonas Especiais de Preservação (Ponte de Uchôa e Manguinhos), que são porções de território consideradas unidades de conservação. “As intervenções nessas áreas levam em conta não só o imóvel isolado, mas também o entorno”, esclarece a diretora do Departamento de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC), Lorena Veloso.
O prazer do contato com o rio – que tem sido “redescoberto” e estimulado a partir do projeto Parque Capibaribe, cuja primeira etapa está em obras no entorno da Rui Barbosa – já era vivido há 200 anos, quando a maioria dos casarões da via foi construída virada para o rio, mas essa aproximação foi sendo perdida com o tempo. Com o projeto, fruto de uma parceria entre a Prefeitura do Recife e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), espera-se que a convivência e o cuidado dos recifenses com o Capibaribe sejam resgatados.
Afinal, quem foi Rui Barbosa?
Rui Barbosa nasceu na Bahia em 1849 e morreu em 1923. Ele foi um jurista, político, diplomata, escritor, tradutor e orador brasileiro. Formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, tentou várias vezes ser presidente do Brasil, mas não teve sucesso. Rui Barbosa também foi considerado um defensor da igualdade de soberania entre as nações.
Anamaria Nascimento
Repórter
Anamaria Nascimento é formada em Jornalismo, especialista em Direitos Humanos e mestranda em Ciências da Linguagem. Integra a equipe da editoria Local do Diario de Pernambuco desde 2011.