Calendário verde de Pernambuco: qual a época de cada fruta?

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Longe dos vales irrigados, chuvas controlam a produção agrícola; confira os meses ideais para colheita de mais de 20 frutos típicos do estado

 

Dona Eunice Brandão sabe quando cada fruta do quintal dela vai nascer. Não por ser vidente, acompanhar temperatura do solo ou fazer contas, mas por causa do desenvolvimento de cada uma das árvores, acompanhadas diariamente por ela, como um hobbie. A aposentada de 72 anos sempre teve hábito de cuidar das plantas frutíferas, mas, desde que se mudou para uma casa de quintal espaçoso no bairro de Areias, Zona Oeste do Recife, trata religiosamente dos dois pés de jambo (um roxo, outro rosa), da aceroleira e do romã. “Quando está assim, dando flor, sei que daqui a pouco fica cheinho”, explica. Mesmo sem nenhum embasamento científico, sabe da ordem: primeiro, as flores, depois, os frutos. O ciclo, tão natural, que permeia os quintais de onde morou desde menina, seja com voluptuosas mangas ou pequenas acerolas, é tão antigo quanto as primeiras histórias da humanidade. Hoje, em um país exportador de quase 800 mil toneladas anuais de frutas, é possível ser “dono do tempo” e fazer quase qualquer uma nascer ao longo do ano. Mas ainda assim, é bom saber quando a natureza dá uma forcinha e torna a época ideal para cada tipo de produção, principalmente no quintal de casa.

O princípio de tudo é a água, como explica o professor da Universidade Federal do Vale São Francisco, Acácio Figueiredo. “A produção natural depende da chuva ou de um açude para molhar, por isso que a região do Vale do São Francisco é tão frutífera”, conta o especialista, do departamento de engenharia agrícola. Após os períodos de chuvas fortes, geralmente entre os meses de março e junho, as plantas adultas florescem. Estas flores são geminadas e viram frutas. “Existem anos em que a chuva é atípica, como foi 2017, isso modifica o resultado”, frisa. No processo até o amadurecimento, assim como em todas as gestações, uma série de fatores influencia na qualidade do produto final. Se está muito quente, o morango não vinga. Se não há luz suficiente, o melão não cresce. Tudo como uma equação”, explica.

Até nas grandes produções do Vale do São Francisco, que têm crescimento induzido para exportação e capacidade para fartura o ano inteiro, existe um período certo no qual a manga, uma das joias do Sertão, dá os “filhos” mais bonitos.

“Costumamos induzi-las no mês de agosto até o mês de dezembro para exportação, principalmente para os Estados Unidos e Europa. É nesse período que ela se desenvolve melhor”, explica Acácio. Primeira do pódio da exportação brasileira, acima do melão (2º lugar) e do limão (3º), ela se apresenta nas mais diversas facetas: tem rosa, espada, até mesmo sem fiapo.

O Calendário das Frutas

A MAIS CONSUMIDA

No Brasil, a banana foi a fruta mais consumida de 2016, segundo dados do IBGE. No mundo, ela fica em segundo lugar, atrás da maçã.

Para quem produz menos, como o engenheiro ambiental Murilo Carvalho, dono de um pequeno jardim de ervas e tomate no próprio apartamento, a indução não é uma oportunidade. Resta analisar e aprender com os erros. “Na metade do ano, o sol está de um lado do meu prédio, na outra, ele está do lado oposto. A luminosidade diminui e o crescimento fica mais complicado”, conta. Para ele, que estudou o desenvolvimento de mudas e desde pequeno teve contato com elas, participar de todos os processos de crescimento de uma vida é um prazer. Assim como para dona Eunice, que mesmo sem diploma de engenheira ou cargo de produtora multinacional, não dispensa a vitamina C das acerolas ou as propriedades medicinais do romã. “Eu uso até a casca”, afirma. Dos jambos, ela até gosta, mas para ela a melhor parte é o tapete roxo que a árvore deixa no quintal de casa antes de fazer nascer e amadurecer novos filhos.

A MAIS ANTIGA

Algumas pesquisas provam que, ao contrário do que a bíblia diz, a maçã não foi a primeira fruta conhecida pelo homem. Segundo a Faculdade de Agricultura de Saralgaon, na Índia, a banana é uma das frutas mais antigas. A árvore mais antiga, por sua vez, se chama Ginkgo biloba. Ela é considerada um “fóssil vivo”, já que sobreviveu à época dos dinossauros.

Lorena Barros

Lorena Barros

Repórter

Lorena é estudante da Universidade Federal de Pernambuco. Ela integra a equipe do CuriosaMente desde maio de 2016.

Nando Chiappetta

Nando Chiappetta

Fotógrafo

Reportagem publicada integralmente no dia 22 de agosto de 2017. Diario de Pernambuco.