Avião da NASA pousa no Recife
O Recife entrou na rota do Earth Research – 2 (ER-2), avião laboratório da Agência Espacial Norte Americana (NASA), na tarde desta quinta-feira, 29 de setembro de 2016. A aeronave chegou ao Aeroporto por volta das 15h pilotada por Greg Nelson. Em solo, trajando uma roupa especial de 17 quilos, ele destacou o alívio de estar na capital pernambucana. “Na África estava muito frio e aqui temos clima bom e uma umidade agradável. E a constância do clima é muito boa, eu ficava sempre vendo as previsões. Eu estava preso na cadeira ejetora é muito bom movimentar minhas pernas de novo. Poder beber água, ter algo para comer e poder tirar essa roupa”, brincou o piloto da NASA.
A missão da agência tem o objetivo de observar e medir partículas aerossóis, oriundas da fumaça de queimadas e que acabam se misturando com as nuvens. Esse fenômeno afeta diretamente a temperatura terrestre. O estudo possibilitará prever possíveis mudanças climáticas futuras. Para isso, a aeronave viaja a uma altura de aproximadamente 21 quilômetros.
Pilotos
> Há troca de piloto em cada etapa
> Cada piloto fica entre 3 e 4 dias, no mínimo, sem pilotar
> São 8h a 9h sem comer nada
> Em viagens mais longas, o piloto chega desidratado ao destino
O traje é utilizado para manter a temperatura do corpo, por meio de pequenas tubulações de oxigênio líquido, e a pressão do nível do mar, mesmo em altitudes tão extremas. “A temperatura do oxigênio líquido é de 258° abaixo de zero, com a função de esfriar o corpo, por meio de tubulações dentro do traje. Mesmo em temperaturas baixas (por conta da altitude) ele segue com a função de resfriamento. O traje é hermeticamente fechado a temperatura tende a aumentar. Em dez minutos, sem esse sistema ele desmaiaria de calor”, aponta o gerente de segurança operacional da Infraero Fernando Barreto.
Traje
> Mesmo tipo de traje utilizado em ônibus espaciais
> Primeira camada anti-chama
> Mais cinco camadas de nylon
> Última camada de poliester especial permite a passagem do suor e mantém a umidade do traje
> O capacete é fechado uma hora antes do voo
> Em caso de acidente o uniforme inteiro é inflado de oxigênio e a cadeira é ejetada
> A roupa conta com sistema que impede que o piloto afunde caso caia na água
> Um orifício do capacete que permite a entrada de comida e água
> O piloto urina por meio de uma válvula acoplada ao traje
Já na cabine, na altura em que a aeronave voa, a ausência do traje seria ainda mais nociva. “É igual a um mergulho a grande profundida. Se ele tivesse uma descompressão súbita de cabine e estivesse sem esse traje, entre 4 e 10 segundos estaria inconsciente. O pior, porém, é que o sangue e tudo que ele tiver de líquido, quando baixa a pressão gaseifica”, explica Barreto.
No solo, como guia para quem está em viagem, há um segundo piloto da NASA. No Recife, a tarefa ficou a cargo de Dean Neeley, responsável pelo próximo voo da ER-2, com saída do Recife na próxima segunda-feira (03), com destino ao estado norte-americano da Geórgia.”Temos feito esse estudo em várias partes do mundo e como isso afeta as temperaturas na Terra e no Oceano”, explicou. Ele destacou ainda a importância da aeronave pelo apoio prestado a diversos cientistas que colocam seus equipamentos na ER-2, único avião do mundo capaz de atingir uma altura pouco superior a 21 quilômetros.
ER-2
> É o mesmo tipo de avião usado na espionagem pelos EUA. A diferença é que o da NASA é branco e o da CIA é preto
> São cerca de 35 minutos perdendo altitude até o pouso, uma distância de 200 milhas (380 KM)
> É preciso acoplar rodas postiças nas asas para o pouso
> Em solo a turbina é potente
> Em grande altitude conta com apenas 5% da potência do motor
Apesar do que as viagens em grande altitudes sugerem aos leigos, os pilotos não têm como a apreciar as paisagens sobrevoadas pelo ER-2. Eles, na verdade, mal conseguem se mexer. “Ficamos cansados rapidamente. Todos os seus sentidos são levados. Dentro do capacete, todos os meus sentidos ficam limitados. Não posso sentir cheiros, não ouço nada, nas sinto nada, então é bastante desorientador. È algo claustrofóbico, por se tratar de um espaço tão pequeno”, conta Neeley. O piloto da NASA ressalta que são necessárias cerca de 200 horas de voo até o ficar confortável durante a viagem. “Assim que você coloca a roupa pela primeira vez parece impossível pilotar uma aeronave usando aquilo. Nem mesmo um carro eu achei que poderia dirigir”, brinca.
Peso do traje
Custo do traje em milhão
Uma parceria com o Consulado dos Estados Unidos possibilitou a presença de cerca de 40 estudantes de duas escolas ao pouso. Giovana Ballister, 15 anos, aluna do segundo ano do ensino médio da escola da Escola Técnica Estadual Cícero Dias, destacou a “experiência única na vida”. “Eu gostei muito dessa experiência, adoro astronomia e amei a oportunidade. Era algo que eu não teria possibilidade de conhecer. Adorei saber mais como é a roupa deles, achei muito interessante a chegada do avião, foi incrível, uma tarde inesquecível para mim”, afirmou.
Manoela Natore, também de 15 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio do Colégio Madre de Deus, ressaltou a oportunidade única que presenciou. “Achei bem legal, nunca tinha visto nada parecido com isso. Uma aeronave da NASA, já viajei de avião, mas nunca tinha visto pausando assim tão perto”, contou. O laboratório aéreo da NASA já havia pousado no Recife em 23 de agosto deste ano. Na ocasião, ficou três dias até decolar em direção a Namíbia. A aeronave faz parte do Diretório de Missões Científicas da agência, com sede na Califórnia.
João Vitor Pascoal
Repórter
João é repórter do Diario desde 2014. Como estagiário, escreveu para a editoria de Política, antes de compor a equipe de dados, no CuriosaMente.
Paulo Paiva
Fotógrafo
Paulo Paiva é fotógrafo do Diario de Pernambuco