A casa amarela que batizou Casa Amarela

por

Hoje farmácia, imóvel era ponto de referência quando região ainda fazia parte de um grande engenho. Protegido, imóvel só pode ter a cor amarela para preservar tradição

 

No cruzamento entre a rua Padre Lemos e a Estrada do Arraial, um dos mais movimentados do bairro de Casa Amarela, transeuntes passam apressados, tomando ruas e calçadas estreitas. Entre casa lotérica, feira, lojinhas, ambulantes e o imponente mercado público, fica uma farmácia de paredes amarelas facilmente despercebidas entre a paisagem urbana. Poucos sabem que é aquele o imóvel responsável por dar nome ao bairro recifense.

Sentado confortavelmente ao lado de uma barraca na mesma calçada da “casa amarela” de Casa Amarela, João Joaquim, 56, trabalha há 30 anos. Viu o imóvel virar armazém, antes de tornar-se as drogarias Guararapes, Big Ben e a atual, Preço Certo. “Parece que essa foi a primeira casa construída aqui. Ela sempre foi amarela e nunca foi pintada de outra cor. Algumas pessoas param para perguntar, tiram foto e os idosos comentam que aqui na frente passava o bonde”, comenta. Poucos, de fato, sabem sequer que o tal imóvel existiu.

Mayra Couto/ DP

A "Casa amarela"

casa amarela

Rua Padre Lemos, 109 – Casa Amarela – Recife/PE
Hoje, uma farmácia “Preço Certo”

Mayra Couto/ DP

A aposentada Marta Maria de Lima, 61, frequenta o bairro e o mercado público há mais de 50 anos e nunca tinha ouvido a história até ouvir a narrativa, de memória, de Eliton Gomes, 65, de quem costuma comprar tecidos. “Essa farmácia não pode ser pintada de outra cor. Ela deu origem ao nome do bairro. Naquela época, as pessoas marcavam de se encontrar naquela casa. Era tudo mato ao redor e ela servia como ponto de referência”, conta o homem que nasceu e cresceu no bairro.

Entre os que se arriscam a contar a história da casa amarela, diferentes versões nasciam: “Só existia ela aqui no arraial. Ela era a casa-grande do engenho. Por isso, é estrada do arraial. Todo casarão tem que ter um arraial”, afirma Luiz Carlos Pereira, 52, que também tem uma loja no mercado público. Entretanto o jornalista, escritor e pesquisador da cultura pernambucana Leonardo Dantas explica que algumas partes da história não são bem assim: “Casa Amarela nunca teve engenho. Aquela região fazia parte do Engenho Monteiro. A casa amarela era uma residência urbana próxima à feira”, afirma.

Mayra Couto/DP
“Sempre pintavam aquela casa de amarelo e ela era um ponto de referência importante por ser uma das paradas do trem maxambomba. Ou seja, o trem ajudou a nomear o local e ele não é o único. Como o bairro cortado por trilhos de trem que cruzavam a região perto da Avenida Norte ficou conhecido como Encruzilhada”
Leonardo Dantas
Historiador

 

A farmácia é referência para quem conhece a história da região, como conta Manoel Paulino,49, gerente do local: “Às vezes, estudantes e professores vem aqui, tiram foto e contam a história. A gente explica que ela é tombada, que não podemos mexer na fachada e que ela sempre tem que ser pintada de amarelo”, explica.

Mayra Couto

Mayra Couto

Repórter

Mayra é estudante de jornalismo da Aeso – Faculdades Integradas Barros Melo.