Projeto de novo Memorial Arcoverde impressiona, mas está longe de sair do papel
Criado na década de 1990, durante o governo Joaquim Francisco, parque ainda não se consolidou junto ao público e projeto de requalificação que daria completa repaginada no local ainda não saiu do papel
Uma área de manguezais que foi aterrada para dar passagem ao encontro de Recife com Olinda é onde se encontra o Parque Memorial Arcoverde. Planejado para ocupar um espaço de 80 hectares, ele completou 21 anos no dia 23 de dezembro de 2015 e seu espaço vai muito além do que muita gente pensa – engloba o Espaço Ciência e o Coqueiral que se estende ao Rio Beberibe e a Praia Del Chiffre . Parte dele é cedido para eventos, como circos temporários, ou para estacionamento, como no carnaval. Apesar de parecer abandonado, o local possui um grande projeto de requalificação, ainda “emperrado”, que poderia torná-lo mais útil e atrativo à população.
Desde a década de 80, o Parque Memorial Arcoverde é motivo de discussão entre paisagistas e governo do estado. Isso porque a ideia de alguns deles era arborizar e transformar a área num grande espaço de convivência e lazer para os moradores da região, que é cercada por espaços culturais e comerciais, porém não há conexão entre eles. Segundo o projeto “Concepção paisagística do Parque Memorial Arcoverde, 2ª etapa”, do arquiteto Luiz Vieira, em 1986, o Acácio Gil Borsoi projetou uma “edificação semienterrada e com teto-jardim, para servir de apoio turístico e de agência eletrônica da Caixa Econômica Federal”. Essa construção seria uma parte do projeto realizado por Roberto Burle Marx e contou com a participação de Luiz Vieira.
Dentro dos 80 hectares do Parque, está o Espaço Ciência, projetado por Luiz Vieira e Marco Antônio Borsoi, inspirados em projeto de Roberto Burle Marx. O local abriga exposições, experimentos e outros meios de interação com o público a partir de cinco temas: Água, Movimento, Percepção, Terra e Espaço. Com 120 mil m² de extensão, hoje é de responsabilidade da Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
O local está sempre garantido nas férias de Gabriel, 10 anos, filho do psicopedagogo e advogado, Márcio Pinto, 44 anos. O menino mora em São Paulo, mas, segundo o pai, ele já havia visitado o espaço outras três vezes. Segundo o psicopedagogo, passear pelo Espaço Ciência é uma experiência fundamental. E lamenta o fato de muitas crianças que moram na cidade ainda não conhecerem o local. “Elas não conhecem isso, seja porque os pais não trazem, não se estimulam a trazer ou porque não conhecem mesmo”.
Já o outro espaço, conhecido por receber circos e outros eventos, foi projetado com o objetivo de inserir práticas esportivas, como quadras, pistas de skates ou cooper. Mas em 2009, com a chegada do Circo du Soleil, o espaço foi deteriorado, inclusive com a derrubada de árvores e asfaltamento do piso.
Para o diretor do Espaço Ciência, Antônio Pavão, esse foi o momento em que as dificuldades se multiplicaram. “O problema que nós temos é que nossa área está relativamente bem cuidada e a outra está abandonada. As pessoas não sabem onde começa e onde termina o Espaço Ciência. Isso compromete e denigre a nossa imagem. A gente vê as pessoas muito suscetíveis a assaltos tudo devido ao abandono que se encontra o parque”, desabafa.
Para a professora de arquitetura e urbanismo da UFPE Ana Rita Carneiro, o local, apesar de não ser tão acessível, é muito importante para as cidades do Recife e de Olinda. “É uma área conflitante porque é um eixo grande metropolitano e não tem um estudo integrado. Ele deve ser mantido mais que nunca, pois é uma área de silêncio entre os municípios, onde você vê um espaço verde e livre. Não tem muito uso por causa da localização, mas tem uma importância fundamental para ver as colinas de Olinda, de um sítio que é Patrimônio da Humanidade”, afirma.
Um parque ainda no mundo dos sonhos
O Parque Memorial Arcoverde teve um novo projeto de requalificação coordenado pelo arquiteto paisagista e professor de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco Luiz Vieira, após as intervenções realizadas para a instalação do Circo du Soleil. “Hoje seria uma área de incentivo aos esportes, com ciclovias, área de educação física e interação com outros espaços. A ideia é que seja integrada a alguma Universidade”, relata.
De acordo com o projeto de Vieira, “o setor Esportivo do projeto original de Roberto Burle Marx foi preservado e recuperado, com algumas modificações na tipologia das quadras, mas resgatando as arquibancadas em talude gramado que se estende pelo espaço verde”. Em relação a parte de baixo do viaduto, no projeto é relatado, que ela foi usada “para abrigar um apoio às atividades esportivas, com a finalidade de propiciar espaços para salas de aula, salão de ginástica, salas de monitores, banheiros e vestiários, além de uma oficina para consertos e aluguel de bicicletas.”
Uma grande praça de estar se estende ao lado do viaduto e pretende atender “as várias atividades de recreação e lazer para atividades de dança, patinação, brincadeiras e ginástica”. Na extremidade final do parque, haverá uma área densamente arborizada, resgatando a área de estar, por meio do uso de tênis-de-mesa e mesas de xadrez, além de um espaço para sentar, passear e relaxar. E de acordo com o projeto, os espaços foram projetados com mobilidade acessível para deficientes físicos. Segundo o arquiteto, o projeto já está encaminhado desde que foi solicitado, porém faltam recursos para sair do papel.
Um dos motivos para que as pessoas desconheçam a dimensão do Parque Memorial Arcoverde é a sua falta de infraestrutura, o que o tornaria atrativo. A frequência das pessoas é cada vez menor porque falta iluminação, manutenção e limpeza das áreas com frequência. Além disso, a localização do Parque Memorial Arcoverde não é das melhores, ele se encontra entre vias que não possuem semáforos, radares de velocidade ou faixas de pedestres. O que dificulta mais ainda o acesso da população ao espaço.
A responsabilidade pela manutenção no parque e na condução do processo de requalificação é da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur). De acordo com o órgão, um levantamento de dados sobre as demandas necessárias já foi realizado, mas a concretização do projeto depende de parcerias com a iniciativa privada, cujas buscas já tiveram início, mas ainda não foram concluídas.
Daniele Alves
Repórter
Daniele é estudante de jornalismo da Aeso-Barros Melo e vive no Recife. Já esteve no Espaço Ciência algumas vezes, mas é admiradora do Memorial Arcoverde que ainda nem nasceu: “parece um sonho”.