A calçada da fama de Pernambuco: os artistas, patrimônios vivos, que talvez você não conheça
Dos 36 indivíduos e grupos eleitos para o título de Patrimônio Vivo, 27 seguem levando o nome e a cultura de Pernambuco estado afora
Em vida, representar um estado. Do trabalho de suas mãos ou do som de sua voz, traduzir uma filosofia que não se consegue descrever bem além do nome: pernambucanidade. É pela produção – e manutenção – dos ritos populares e da tradição locais que um punhado de artistas se transformam em Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco. É quando obra e autor se fundem, largando mão da condição de ser apenas indivíduo para se tornar história em construção.
Por ano, são três vagas preenchidas pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). É o que preconiza o decreto que instituiu a lista, em 2002. Atualmente são 24 pessoas – nove delas receberam o título em vida, mas já faleceram – e 12 grupos culturais agraciados com essa titulação, totalizando 36. Desse total, dois terços estão fora da capital pernambucana, abrindo espaço para representação do interior do estado da Zona da Mata ao Sertão.
São artesãos, músicos, pintores, cordelistas, xilogravuristas, grupos de maracatu, agremiações de carnaval, entre outros, que dedicaram a existência quase inteira para a arte. Com o título de Patrimônio Vivo garantem reconhecimento, apesar de muitos deles ainda serem desconhecidos do grande público.
Patrimônios de Pernambuco
Pessoas
Grupos
In memorian
Total
Patrimônio, sim. Reconhecimento, nem sempre. Desistir, jamais…
“Foi no dia 06 de janeiro de 2006”. O artesão Zé do Carmo, natural de Goiana memorizou com cuidado a data em que recebeu do então governador Jarbas Vasconcelos o título de Patrimônio Vivo. Herdou a profissão dos pais, Joana Izabel de Assunção e Manuel de Souza dos Santos.
Começou cedo, com apenas 7 anos, em 1940, comercializando esculturas de agricultores, carregadores de açúcar e demais trabalhadores esculpidos em barro. Após a morte da mãe, consolidou as esculturas de anjos como marca registrada. Em suas mãos as figuras angelicais ganhavam contornos nordestinos.
Atualmente, por motivos de saúde, o artesanato está suspenso da vida de Zé do Carmo. De acordo com ele, o uso contínuo de tinta óleo ao longo da vida acabou afetando os seus pulmões. Além disso, os olhos foram acometidos por catarata e glaucoma. “Eu recebo cerca de R$ 1.100 por mês do governo por ser um patrimônio vivo. Fora isso, fico esperando alguém vir aqui em minha casa pra comprar alguma obra minha”.
A sua luta agora é para manter viva a própria história. Afirma que há cerca de três meses representantes da Fundarpe estiveram em sua residência com a possibilidade de transformar o local em um museu onde ficaria todo o seu acervo. “Espero que realmente esse projeto saia do papel para que tudo que fiz em vida continue”, afirma Zé do Carmo.
Grupos Patrimônios Vivos
- Teatro Experimental de Arte
- Euterpina Juvenil Nazarena
- Maracatu Leão Coroado
- Maracatu Estrela de Ouro
- Maracatu Estrela Brilhante
- Caboclinho 7 Flexas
- Clube Indígena Canindé
- Confraria do Rosário
- Euterpina de Timbaúba
- Homem da Meia-Noite
- Banda Revoltosa
- Banda Musical Curica
Banda Filarmônica
Cidade: Nazaré da Mata
Fundação 01/01/1888
Titulação: 2010
Teve como primeiro presidente o Major Abílio Clementino Bezerra. “Euterpina Comercial Juvenil Nazarena”, foi o seu nome primitivo, por ter sido fundada por jovens do comércio local. Depois adotou o de Euterpina Juvenil Nazarena.
Maracatu de baque virado
Fundação: 08/12/1863
Cidade: Olinda
Titulação: 2005
É um dos mais antigos maracatu do Brasil, sendo um Ponto de Cultura do Ministério da Cultura. Atualmente, a liderança do Leão Coroado é do Babalorixá Afonso Gomes de Aguiar Filho, dono de um terreiro em Águas Compridas, em Olinda, local onde hoje está localizada a sede do maracatu.
Maracatu de baque solto
Fundação: 01/01/1966
Cidade: Aliança
Titulação: 2011
Criado no Sítio Chã de Camará, em Aliança, tem como mentor, o Mestre Batista e outros moradores do sítio. Durante as festas e sambadas no terreiro do Estrela de Ouro foram formados vários mestres como Manoel Salustiano, Luiz Paixão, Biu Roque e Zé Duda. É famoso pelo encontro de Maracatus Rurais promovidos nas segundas e terças-feiras de carnaval.
Maracatu de Baque Virado
Fundação: Provavelmente 1824
Cidade: Igarassu
Titulação: 2009
Desde 1730, nos municípios de Itamaracá e Igarassu eram praticados danças e ritmos nagôs, Contudo, de acordo com a antiga matriarca do Estrela Brilhante, Dona Mariú, conta que o maracatu passou para seus pais em 1824.Atualmente, a matriarca do grupo é Dona Olga, filha de Dona Mariú.
Fundação: 1973
Cidade:Recife
Ano da Titulação: 2008
A agremiação teve início em um terreiro de Umbanda, na cidade de Maceió. Em 1970, o seu criador, Mestre Alfaiate retornou para Pernambuco e fundou em 1971 o grupo na cidade do Recife, no bairro de Água Fria. O nome da agremiação é uma reverência ao Caboclo 7 Flexas (com x mesmo), uma entidade da Umbanda.
Caboclinhos
Fundação: 05/03/1897
Cidade: Recife
Titulação: 2009
Foi fundado com o nome de Tribo Canindé do Recife, pelos estivadores do Elisbão (Libão) e Eduardo, no bairro de Afogados. Inicialmente tinha o nome de “Príncipe do Rio do Rei Canindé” e era formado apenas por crianças. Em 1910, liderado pelo carnavalesco Manoel Rufino chegou no bairro da Bomba do Hemetério em 1957.
Irmandade Religiosa
Fundação: Porvavelmente em 1777
Cidade: Floresta
Titulação: 2007
Os escravos da Fazenda Grande em Floresta, descendentes de nobres do Congo, aproveitavam o dia 31 de dezembro para coroar um rei e uma rainha, com o intuito de mostrar à população que também tinham origem nobre. Até os dias de hoje, os 36 membros da irmandade mantém um roteiro de celebração, em que o cortejo real segue para a igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Banda Filarmônica
Fundação: 09/02/1928
Cidade: Timbaúba
Titulação: 2012
A Banda Euterpina foi fundada pelo professor José Mendes da Silva, no dia nove de fevereiro de 1928. A criação foi feita em conjunto com parte da população da cidade que gostava de apresentações musicais em locais públicos da cidade. Seu nome tem origem na musa da música, Euterpe, personagem da mitologia grega.
Clube de Frevo
Fundação: 02/02/1932
Cidade: Olinda
Titulação: 2006
Uma das mais antigas agremiações a circular nas ladeiras do Sítio Histórico de Olinda. O Clube Carnavalesco de Alegorias e Crítica o Homem da Meia-Noite é Conhecido pelo boneco gigante do Carnaval pernambucano. A figura, na verdade, um calunga, personagem místico do candomblé, presente em outras tradições como o maracatu nação ou de baque virado.
Banda Filarmônica
Fundação: 09/02/1928
Cidade: Timbaúba
Titulação: 2012
Também conhecida como Sociedade Musical 15 de Novembro, A Banda Revoltosa foi formada por dissidentes de outras duas bandas de Nazaré da Mata. O nome tem origem justamente neste fato. A atitude dos fundadores foi considerada rebelde, e eles chamados de “revoltosos”.
Direitos e Deveres
Uma vez Patrimônio Vivo, a pessoa ou grupo ganha bolsa de incentivo paga pelo governo e tem prioridade na análise de projetos apresentados no Sistema de Incentivo à Cultura. Por outros lado, passam a ter que participar de ações de divulgação dos conhecimentos do artista por programas de ensino organizados pela Secretaria de Cultura.
Escolha de pessoas
- Ser brasileira residente no Estado de Pernambuco há mais de 20 anos
- Ter comprovada participação em atividades culturais há mais de 20 anos
- Estar capacitada a transmitir seus conhecimentos ou suas técnicas
Vagas
- Por ano até 60 pessoas ou grupos podem concorrer ao título e até 3 vagas podem ser preenchidas
Escolha de Grupos
- Estar em atividade há mais de 20 anos
- Ter comprovada participação em atividades culturais há mais de 20 anos
- Estar capacitado a transmitir seus conhecimentos ou suas técnicas
Desempate
- Relevância do trabalho desenvolvido pelo candidato
- Maior idade da pessoa ou antiguidade do grupo
- Maior carência social do candidato
Patrimônios de Pernambuco que faleceram
Até o momento, nove artistas pernambucanos agraciados com o título de Patrimônio Vivo estadual faleceram. Nesses casos a titulação exerce um papel extremamente importante de preservação e perpetuação da memória dos grandes artistas do estado.
Ana das Carrancas (Artesã)
Petrolina, titulada em 2005
Arlindo dos 8 Baixos (Músico)
Recife, titulado em 2012
Camarão (Músico)
Recife, titulado em 2005
Canhoto da Paraíba (Músico)
Recife, titulado em 2005
Fernando Spencer (Cineasta)
Recife, titulado em 2007
João Silva (Músico)
Recife, titulado em 2012
Mestre Nuca (Artesão em cerâmica)
Tracunhaém, titulado em 2005
Mestre Salustiano (Músico)
Olinda, titulado em 2005
Selma do Coco (Cultura Popular)
Olinda, titulada em 2008
João Vitor Pascoal
Repórter
João é repórter estagiário do Diario desde 2013. Não manda bem no artesanato nem na música, então não está muito próximo de integrar a lista de patrimônios vivos do estado…