Caminho de futuros tatuadores exige dedicação e paciência
Iniciantes precisam absorver uma série de conhecimentos antes de encarar a pele, seja com máquinas ou à mão livre
Agulhas, tinta, talento e paciência. Ser um tatuador profissional exige muito mais do que um equipamento bom. Mas, para aqueles que desejam ser profissionais em fazer arte na pele, é necessário dedicar um bom tempo para descobrir os caminhos desse ofício. Do manuseio das máquinas até questões de segurança higiênica, o artista necessita ter uma ampla carga de conhecimentos. Mesmo que a profissão não exija graduação, é preciso que sua prática seja feita de forma eficiente e responsável. A quantidade de pessoas fazendo parte desse mercado vem de grande crescimento há alguns anos. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas divulgados em 2014 (última pesquisa do SEBRAE realizada sobre o tema), mostram que o setor cresceu 413% em um período de apenas três anos (2009-2012).
Para Daniel Loureiro, fundador do Recife Tattoo Shop e tatuador há mais de 15 anos, a base de tudo é o desenho. “Se você não começa com uma boa base de desenho, não adianta ir aprender sobre máquinas e agulhas. Tendo uma base de ilustração, há um bom conhecimento da arte em si. A consequência disso é ter facilidade em entender a tatuagem”, afirma.
Ainda segundo Loureiro, o aprendizado dessa arte hoje é muito mais fácil do que há algum tempo. Muito disso se deve ao compartilhamento de cursos e tutoriais via internet e uma maior abertura dos tatuadores profissionais em ensinar as técnicas. “Há uns quinze anos, eu aprendi na ‘tora’ mesmo. Usava uma máquina caseira, feita com agulha de costura e motor de autorama e ia tatuar. Hoje em dia, tem tudo na internet. Guia de equipamento, curso online, é só querer aprender. Além disso, há um sentimento de compartilhar as experiências dos tatuadores mais experientes e fazer a arte avançar”, pontua o tatuador.
Tatuagem no Ocidente
A prática da tatuagem foi difundida no mundo ocidental por meio do marinheiro inglês James Cook, que absorveu essa arte ao entrar em contato com tribos do Taiti. O marinheiro que disseminou o termo tattoo.
Um grande exemplo dessa abertura de profissionais para aprendizes é o do tatuador Nando Zêvê. O experiente artista ministrou uma cadeira sobre a prática da tatuagem na Universidade Federal de Pernambuco em 2016. A cadeira intitulada “Tópicos em Arte 2 – Tatuagem com Nando Zêvê” apresentou noções de biossegurança, história da tatuagem, primeiros socorros, além de um curso prático de tatuagem. Foi principalmente para estudantes de Artes Visuais, com vagas disponíveis para as demais áreas.
Os primeiros passos
Para começar a tatuar, é preciso adquirir uma série de materiais. A escolha deles precisa ser feita de acordo com as especificidades do trabalho de cada tatuador. Segundo Daniel Loureiro, do Recife Tattoo Shop, um investimento inicial entre R$ 900 e R$ 1 mil já seria o suficiente para começar a fazer os primeiros traços. Abaixo uma tabela com alguns desses materiais
Arte sem equipamentos
A tatuadora Hannah Storm enfrentou uma série de dificuldades para iniciar a carreira. Ela conta que sua afeição por ilustração a encaminhou para o interesse em tatuar, mas sentia temor em praticar. “Eu tinha medo, eu pensava que era algo muito difícil, tinha receio de danificar a pele de alguém. Com ajuda de amigos, aprendi a usar a máquina e tatuei o braço do meu ex-namorado”, afirma.
Porém, Storm se sentiu frustrada em seu trabalho com a máquina de tatuar. Mas sem perder a vontade de continuar na arte. Foi então que conheceu e se dedicou a técnica de tatuagem chamada “Hand Poked”. A Hand Poked não utiliza eletricidade nem máquinas, apenas agulha e tinta. O tatuador cria os traços fazendo pequenos pontos na pele. Então surgiu mais uma dificuldade, pois Hannah não achava facilmente meios de aprender essa técnica: “Estudei o Hand Poked sozinha, só conheço um tatuador que utiliza a técnica no Recife, tive que meter a cara e estudar. Ainda há pouco conteúdo em português, a maioria é na língua inglesa, em forma de vídeos e apostilas”.
Hoje, Hannah possui um estúdio em sociedade na cidade de Olinda, onde há uma média de 40 clientes por mês. Já está tatuando há 7 meses e aconselha: “Não tem segredo para ser tatuador, tem que gostar, estudar e praticar. Se descobrir como artista e descobrir seu estilo é essencial”.
Tatuagem no Idade Média
A tatuagem foi banida pela Igreja Católica na Idade Média por ser considerada uma depredação do templo do Espiríto Santo. Há indícios que essa arte é praticada em diversas civilizações da antiguidade , com registros de até cerca de 5000 mil anos antes de Cristo.
Um dos pioneiros em Pernambuco
Quem já possui uma bagagem considerável em experiência em fazer arte na pele é Henrique Araújo Bezerra, mas conhecido como o Mago, que já está tatuando há 29 anos. Mago era vendedor de sapatos na década de 80, quando seu irmão, Jaymesson, na época morando em São Paulo, o convidou para aprender a tatuar. Mago, na época ainda Henrique, comprou a ideia do irmão e se tornou um dos pioneiros do ofício em Pernambuco. Hoje é dono de um estúdio na Rua do Hospício, onde faz seus traços já populares na Região Metropolitana.
O primeiro trabalho ocorreu aos 17 anos e ele confessa que o resultado não foi muito agradável. “O cara me pediu para tatuar um cavalo e acabou saindo um jumento”, brinca o tatuador, que hoje ri da situação. Além de seu irmão-tutor Jaymesson, outros dois irmãos, Marquinhos e Daniel, também se tornaram tatuadores, atuando em Boa Viagem. A vocação familiar não obteve apoio irrestrito dentro de casa no início. O tatuador conta que seu pai não aceitou o rumo que ele decidiu tomar para a vida, situação que foi revertida quando Mago conseguiu provar que conseguiria se manter por meio de sua arte.
Anestésicos
No Brasil, não é permitido que se venda anestésicos para se tatuar.
Tatuagem no Idade Média
A primeira patente máquina de tatuar surgiu em 1876, feita pelo renomado inventor Thomas Edison. O aparelho era para ser uma caneta elétrica que perfurava o papel, sendo modificada e patenteada em 1891 pelo tatuador Sam O´Reilly para o uso em tatuagens.
A não aceitação da família é reflexo de uma série de preconceitos que os traços na pele carregavam. Porém, Mago sente que o passar do tempo conseguiu reduzir significativamente a discriminação. “Antigamente, tatuagem era marca de marginal ou ladrão. Hoje em dia eu tatuo até doutor’’, relata orgulhoso por sua arte ter vencido algumas barreiras. Quando começou, havia apenas outros três tatuadores no estado, além de seu irmão Marquinhos. Para promover seu pequeno estúdio no começo da carreira, ele conta que passava a madrugada espalhando cartazes pelo centro do Recife com sua esposa Débora.
Nesses 29 anos de profissão, Mago diz procurar sempre evoluir e acompanhar o ritmo das mudanças. Feliz por não ter que encarar mais certos preconceitos sobre sua arte, ele conta como se manter com o número crescente de profissionais na área. “Eu não posso ficar ultrapassado, tenho que melhorar sempre pelos clientes. Hoje tem muito ‘riscador’ por aí, trabalhando até clandestinamente, mas tatuadores são em um número maior’’, aponta. O tatuador ainda demonstra um desejo em espalhar a arte, oferecendo um curso de 1 mês e meio, onde ensina técnicas de desenho e tatuagem em si, além de questões de biossegurança.
Nesses 29 anos de profissão, Mago diz procurar sempre evoluir e acompanhar o ritmo das mudanças. Feliz por não ter que encarar mais certos preconceitos sobre sua arte, ele conta como se manter com o número crescente de profissionais na área. “Eu não posso ficar ultrapassado, tenho que melhorar sempre pelos clientes. Hoje tem muito ‘riscador’ por aí, trabalhando até clandestinamente, mas tatuadores são em um número maior’’, aponta. O tatuador ainda demonstra um desejo em espalhar a arte, oferecendo um curso de 1 mês e meio, onde ensina técnicas de desenho e tatuagem em si, além de questões de biossegurança.
Rostand Tiago
Repórter
Rostand é jornalista estagiário do Diario de Pernambuco desde janeiro de 2017
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