Alunos da rede pública desenvolvem invenções que são alternativas de mercado para sociedade
Estudantes da rede pública estadual desenvolvem projetos de pequeno porte para solucionar problemas do cotidiano da comunidade onde vivem. As ideias surgem durante os debates das disciplinas em sala de aula, como biologia, matemática e física. Depois da teoria, os alunos se dedicam ao exercício prático, investigando o percurso tradicional da ciência. Nesse processo, alguns deles conseguiram, por exemplo, criar bicicletas que conseguem produzir energia elétrica, ou até mesmo produzir, no laboratório escolar, lâmpadas de LED. Tudo isso é pensado dentro do projeto de ensino integral e interdisciplinar. O professor de mecânica Teodorino Neto, orientador de um desses projetos, revela que essa tendência é muito importante na formação cidadã dos alunos. “Eles começam a buscar uma formação conectados com a população, não reduzindo o ensino a sala de aula, mas ampliando para a comunidade onde vivem. Essa conexão é muito importante”, pontua o professor.
Acendendo uma ideia
Já pensou o bairro onde você mora ser abastecido por luz de LED produzida por estudantes da escola da própria comunidade? Essa é a intenção dos alunos do Ensino Médio da Escola Alfredo Freyre, em Água Fria, Zona Norte do Recife. Desde 2013, o professor de física Carlos Humberto, em parceria com a professora de Biologia Maria Daniele, atua com os estudantes em um projeto de sustentabilidade e criatividade chamado Acenda essa ideia. O propósito deles é recolher material de lâmpadas que não estão sendo utilizadas na casa dos moradores e transformá-lo no instrumento adequado para a criação de lâmpadas LED.
E quem coloca a mão na massa são os alunos, a exemplo de Aramis Felipe, estudante do terceiro ano do ensino médio e futuro engenheiro eletricista. Foi ele quem apresentou toda a engrenagem em que a equipe cria as novas lâmpadas. “Eu sempre gostei muito de matemática e física, e aqui no laboratório tenho esse contato com a prática daquilo que eu aprendo na sala de aula. Eu consigo visualizar bem toda a parte teórica aqui no laboratório”, explicou o estudante.
De acordo com a professora Maria Daniele, o projeto envolve duas etapas: a primeira tenta sensibilizar os alunos para a questão da preservação do meio ambiente e da sustentabilidade, na qual eles recolhem, na vizinhança da escola, o material da lâmpada elétrica não utilizado pelos moradores. A segunda consiste no desenvolvimento das novas lâmpadas, em que, com o apoio do professor, aplicam os ensinamentos da aula de física. “Tudo muito bem planejado e colocando em prática o conceito da interdisciplinaridade”, acrescenta a professora.
O professor Carlos Humberto lamenta que o projeto não possa avançar para uma fase mais complexa em virtude de questões estruturais e econômicas. “Não temos, por exemplo, um parceiro para descartar o bulbo, que é o item comum a todas lâmpadas e bastante poluente. Ele precisa de um descarte especial. E também não temos recursos suficientes para avançar no projeto, que beneficiaria muita gente. Mas hoje, nossa principal queixa é a falta de um parceiro para descartar o nosso lixo de forma correta”, aponta.
Como funciona
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Energia que vem da pedalada
Em Palmares, na Mata Sul do estado, estudantes do curso de mecânica da Escola Técnica desenvolveram um projeto em que a energia é gerada a partir de uma simples pedalada. O processo é simples: eles recolhem bicicletas velhas e instalam o motor que vai gerar a energia. Até o momento, é apenas uma experiência. Mas já serve de inspiração para futuras ações. No roteiro do professor Teodorico Neto, orientador do projeto, a ideia é de que o sistema ajude trabalhadores rurais da cidade que sofrem com a falta de energia elétrica e até mesmo estabelecimentos comerciais, como as academias, que usam bastante as famosas bicicletas ergométricas.
“Nós temos uma rede muito defasada, com quedas constantes e que prejudicam nossos eletrônicos. Esse projeto pode servir como sistema complementar nas residências”. Segundo o professor, a cada 8h pedaladas é possível gerar 1h de energia. “Nossa proposta era pensar um método simples e inovador de armazenar energia, de facilitar inclusive a vida de quem não tem acesso à energia elétrica”.
Estudantes conectados
Em Bezerros, no Agreste do estado, seis alunos da turma de Manutenção e suporte da Escola Técnica Estadual, resolveram prestar um serviço para quem iria ao 25° Festival de Inverno de Garanhuns. Eles montaram um aplicativo que reunia todas as informações da festa, como as atrações, os endereços e os números de emergência. O aplicativo foi adotado pela Secretaria de Cultura e se transformou no instrumento oficial do festival.
De acordo com o professor Paulo Henrique, coordenador do curso, a experiência com Garanhuns foi resultado de um processo longo. “Iniciamos esse projeto em outros momentos, como no carnaval de Bezerros, onde testamos pela primeira vez”.
Downloads do aplicativo para o FIG
Downloads do aplicativo para o carnaval de Bezerros
O sucesso foi absoluto e o governo do estado resolveu aplicar a mesma dinâmica para o festival de inverno”. O aplicativo foi desenvolvido em três semanas e os alunos usaram os equipamentos da própria escola. “Isso é um desafio muito interessante. Os alunos estão bastante estimulados com esse projeto”, explica o coordenador, Paulo Henrique.
Afonso Bezerra
Repórter
Afonso é estagiário do Diario há um ano e atualmente escreve para editoria Local do jornal. Ainda procura suas grandes invenções – a lâmpada, nem de LED reaproveitada, não é uma delas…
Hesíodo Goes
Fotógrafo