Um Curinga na Cena Musical Pernambucana

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Da cumbia ao forró, o versátil Alexandre Urêa se divide há 12 anos entre os grupos de maior sucesso da cena musical do estado e coleciona histórias

Para o público que acompanha a cena musical pernambucana, alguns grupos são recorrentes na playlist, como a veterana Eddie, que já roda o Brasil há um bom tempo, com 27 anos de carreira e 6 álbuns e a ícone das festas mais dançantes, Academia da Berlinda, com músicas bem humoradas e ritmos locais misturados a latinos. Some a elas grupos mais novatos como Forrólindense e Malícia Champion e, ainda assim, apenas os mais atentos reparam num rosto que se repete em todas elas. Trata-se de Alexandre Urêa, percussionista e cantor, um curinga na cena musical do estado.

Se hoje Urêa é parado e reconhecido ao caminhar pelo Sítio Histórico de Olinda, as coisas eram diferentes no início da década de 1990, quando ainda era Alexandre Barreto. “Olinda é uma cidade que inspira música”, afirma, apontando um dos fortes motivos que serviu de combustível para a carreira. Rodeado por música, “tirava um som” sempre que possível na porta de casa, na Rua de São Bento, próxima à prefeitura da cidade, em instrumentos liberados por seu tio, que possuía um grupo de samba na época, ou batucando em pneus, quando deu os primeiros passos no maracatu.

Paulo Paiva/Esp.Diario

Quem acompanhou o show da banda Eddie no carnaval de Olinda pôde notar que os olhos de Urêa encheram-se de água. Emocionado, era como se estivesse retribuindo a oportunidade de estar ali, naquele momento, a alguém. A pessoa em questão era fácil de identificar, seja pelas diversas homenagens feitas durante a apresentação ou pelo nome gigante que pairava sobre o palco: Erasto Vasconcelos, falecido em 2016.

Alexandre Urêa/Arquivo Pessoal

Irmão do também músico Naná Vasconcelos, Erasto descobriu Urêa tocando no grupo de forró Serra Véio, mudando os rumos de sua carreira o convidá-lo para sua banda. Não levou muito tempo para que ele enxergasse como o músico se encaixava na sonoridade de uma banda amiga, que já estava conquistando um público significativo com uma mistura bem dosada de ritmos locais, a Eddie. Ponte feita, Urêa conta que estava na porta de casa quando Fábio Trummer, vocalista e fundador da Eddie, fez o convite para integrá-la. “Perguntei a Fabinho (Trummer) qual era a banda que ele queria que eu entrasse, ele me disse que era a Eddie e eu disse ‘pô que massa’”, resposta que claramente não definia a empolgação de quem se considerava fã declarado do grupo. Desde então, já são 16 anos como integrante, participando de álbuns icônicos da banda, como o Original Olinda Style (o primeiro com Alexandre na formação, de 2003) e o Carnaval no Inferno (2008). Além desses, ele faz parte do Metropolitano (2006), Veraneio (2011) e o mais recente, intitulado Morte e Vida (2015).

Álbuns com o Eddie

Álbuns com a Academia da Berlinda

Anos em Atividade

Paulo Paiva/Esp.Diario

 Uma década colando corpos num compasso único

 

 

 

O ano de 2017 marca o aniversário de 10 anos do lançamento do álbum Academia da Berlinda, da banda homônima que Alexandre Urêa não apenas participa, mas fez nascer, junto a antigos amigos da infância. Foi o primeiro disco da banda que, há 12 anos, faz os pernambucanos dançarem junto. “Por volta de 2004, eu e meus antigos amigos de colégio estávamos passando uma fase muito Abril Pro Rock, rodinha punk e paulera. Foi nesse momento que apareceu uma vontade de fazer algo para a gente dançar agarradinho”, conta o artista que, inicialmente, juntou os companheiros da época de escola e montou um repertório repleto de Reginaldo Rossi, Beto Barbosa, Alípio Martins, sons latinos como a cumbia colombiana e ritmos pernambucanos. “A gente ficava na secura para poder tocar, principalmente depois do carnaval, quando a demanda é bem menor”, aponta o músico.

O início foi incomum e sempre envolvia muita cerveja. O primeiro evento foi na casa onde uma amiga se hospedava enquanto o proprietário gringo viajava, com todo o dinheiro revertido imediatamente para abastecer a festa de álcool: lotou. “Eu pensei em uma coisa pra dançar juntinho, mas eu tava em cima do palco sem dançar”, brinca o músico, sobre uma das raras frustrações que teve com o projeto. Na festa seguinte, com cerveja comprada em consignação, já viram entrar a primeira graninha no bolso dos músicos. A partir daí, se dedicava à jornada tripla de loteria, portaria e apresentação, nos eventos seguintes, já realizados em local maior, um quintal aconchegante na Rua do Bonfim, pouco antes da banda começar a ganhar outros eventos e festivais como o RecBeat.

O sucesso teve início e outras bandas passaram a pegar carona no estilo, copiando o repertório da Berlinda e, por isso, houve a decisão de começar um trabalhar autoral. O primeiro álbum, produzido por Júnior Areia, ex-baixista da Mundo Livre S/A, trouxe vários nomes já conhecidos em participações: Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi, entra na faixa Envernizado. Fred 04, também da Mundo Livre S/A, participa de Se Ela Gostar. Quem também trabalha no disco é o músico China, intérprete original da canção Ivete, que também integra o álbum e é uma composição de Urêa e sua irmã. Com a repercussão do trabalho, a banda lançou ainda outros dois álbuns: o Olindance (2011), lembrado nos dias atuais por grandes hits dançantes, como as cômicas Fui Humilhado e Cumbia da Praia, e o mais recente, Nada Sem Ela (2016).

Achando pouco, Urêa ainda se envolveu e administra outros dois projetos: o Malícia Champion, em que faz releituras de canções populares do cearense Fagner à francesa Desireless, e o Forrólindense, que interpreta músicas de amigos em ritmo de forró. O próximo passo é um grupo de frevo, junto à irmã, batizado de Bate-Bate com Doce. Tantos compromissos, por certo, exigem comunicação e que se abra mão da prioridade entre um projeto e outro vez por outra. Trabalho dos mais desafiadores, mas que para o filho de um lugar que inspira música, soa mais como uma cumbia bem-humorada…

Academia da Berlinda/Divulgação
Rostand Tiago

Rostand Tiago

Repórter

Rostand é estagiário do Diario de Pernambuco desde janeiro de 2017

Paulo Paiva

Paulo Paiva

Fotógrafo