Tabu ou arte? O prazer da suspensão corporal

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Considerada tanto arte quanto tabu, a prática libera endorfina no cérebro, que gera boas sensações nos praticantes, mas especialistas recomendam cautela

Seja para alcançar elevação espiritual e autoconhecimento ou para testar limites de corpo e mente, a suspensão corporal incomoda os mais (e também os nem tão) sensíveis ao primeiro olhar. Apesar disso, “a dor é leve”, garante Rafael Silva, um dos dois profissionais que realizam o procedimento no Recife. Em resumo, a pessoa fica pendurada por ganchos sob a pele por períodos de até 30 minutos.

A intervenção pode ser feita nas costas, nos joelhos, braços, no abdômen ou em mais de uma dessas partes ao mesmo tempo. “Hoje, quem pratica mais é o pessoal que já é da minha área, que gosta mesmo dessa coisa da modificação corporal”, explica Rafael, que realiza a modalidade há oito anos. A primeira experiência não poderia ter melhor cobaia: ele mesmo. “Foi uma experiência muito legal, consegui testar meus limites. É como se você subisse uma montanha, chegasse no topo até ficar quase sem oxigênio e quase acabasse a resistência, e depois recuperasse tudo”, compara o body piercing.

Ele trata o experimento como semelhante a seu material de trabalho. “Só que, diferentemente do piercing, o gancho não é algo que fica para sempre. Não é um corpo estranho que não vai sair”, esclarece. Além disso, é preciso ficar longe de álcool, drogas e da má alimentação antes de submeter-se à suspensão, caso contrário, há riscos. Rafael conta que já ocorreu de uma pessoa ter queda de pressão. “Ficou alguns segundos desacordada, mas deu tudo certo. Ela ficou dias se cuidando, mas na véspera bebeu até de madrugada”, explica.

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Preparo

Apesar do impacto visual, a suspensão corporal não requer grandes cuidados nem possui grandes segredos para a realização. O preparo, basicamente, se resume a se manter saudável por 8 dias.

– Dormir ao menos 8 horas por dia
– Não ingerir bebidas alcoólicas
– Não usar drogas
– Ter uma alimentação saudável
OBS: De acordo com o peso da pessoa e com a ingestão de bebida e drogas (independente dos 8 dias) a quantidade de ganchos colocados pode ser maior por conta da sensibilidade da pele.

Antes e depois

– Mesmo processo de higienização para colocar um piercing
– Limpeza com pomada antibacteriana
– Perfuração curta separa a pele da camada de gordura
– Após o final do processo, massagem para remoção do ar para evitar bactéria
– Remoção do excesso de sangue
– A O uso de remédio é opcional
– Não há cuidados especiais com o ferimento. O uso de remédio é opcional.
– O processo deixa uma cicatriz pequena

De acordo com a professora de dermatologia da UFPE, Consuelo Arruda, o procedimento envolve uma grande liberação de endorfina, por conta da dor, e o cérebro entra em estado de transe.

“Há também um grande aumento de adrenalina circulante. É um procedimento que pode gerar riscos à saúde por ser invasivo e que pode levar a complicações como lesões de difícil cicatrização, perfuração de áreas importantes do corpo, infecções e formação de queloides”, explica.

Rafael defende que a experiência ganha mais contornos de prazer do que propriamente de dor: “Visualmente é punk, mas a dor é leve”. O cenário da intervenção é variado, vai do concreto ao verde. “Já fiz na floresta para estar em contato com a natureza, já fiz em balcão, para um efeito visual mais legal”, diz.

Rafael Silva/Cortesia

Origem

De acordo com informações da Aliança Internacional de Suspensão Corporal (ISA), o procedimento teve origem durante um festival hindu denominado Thaipusam. O povo Tamil, originário da Índia e de parte do Sri Lanka, suspendiam seus corpos como parte do Festival Vel Kavadi, usado como forma de adoração ao Deus da Guerra Murugan. A crença era de que a dor fazia com que os adoradores ficassem mais perto das divindades.
Ainda de acordo com a ISA, já no início do século 20, rituais similares era realizados por índios do Oeste e Norte dos Estados Unidos. A prática ganhou um caráter mais experimental nas mãos do artista corporal americano Fakir Musafar, que transformou as intervenções em algo que pendia mais para a arte.

Reprodução/ Wikipedia
João Vitor Pascoal

João Vitor Pascoal

Repórter

João Vitor é estudante de jornalismo da UFPE. Escreve para o Diario desde 2014, com passagem pela editoria de Política. Só é adepto da suspensão corporal no campo da curiosidade – não é de aguentar dor alguma…