Recifense detém maior coleção de Blythes do Nordeste
Pensadas para o público adulto, dolls viraram moda especialmente entre designers, artesãos e fotógrafos, com peças que chegam a R$ 3 mil
Vício nacional que motiva a realização de diversos temáticos, as bonecas japonesas Blythe encontram, no Recife, a maior coleção do Nordeste. O acervo de cerca de 90 peças, em espaço reservado dentro da casa da recifense Sandra Helena Rodrigues, também conhecida pelo nome artístico de Luz SanHelen, chama a atenção de colecionadores. Fabricadas no Japão, elas têm o formato atual desde os anos 2000 e apresentam um toque especial de detalhes, desde os traços do rosto, até os acessórios próprios.
Com muita informação visual, as dolls, como ficaram conhecidas, por possibilitar a customização, atraem artistas, fotógrafos e empresas, formando um elemento da economia criativa, com um mercado criado em torno de si mesmas, que envolve vendedores de peças de customização, cenários, acessórios personalizados , roupas adaptadas e outros produtos que, no Brasil, chegam a R$ 3 mil. As blythes de SanHelen fazem parte de um catálogo que conta com a história de cada boneca e, apesar de declarar abertamente o seu amor pelas dolls hoje, nem sempre foi assim. “Me interessei pelas peças ao me encantar com as fotografias que eram feitas delas e postadas na internet. Comprei a primeira no mercado livre. Quando ela chegou, eu achei horrível, me arrependi por ter gastado tanto dinheiro na aquisição e deixei a peça guardada no armário. Porém, 15 dias depois, resolvi fotografá-las e pude perceber que realmente saem incríveis nas fotografias. Isso me fez gostar bastante e, a partir daí, comecei a pesquisar sobre”, explica a artista que faz questão de dizer que, na infância, teve todas as bonecas que desejava, incluindo um compêndio de “Susies” e que, no futuro, pretende transformar a coleção em um museu para visitação dos interessados.
Com fãs espalhados por todo o território nacional, as dolls, inicialmente, foram confeccionadas por uma empresa norte-americana, na década de 1970, pensadas para o público infantil, porém, os traços fortes do rosto das peças acabaram assustando as crianças e a empresa faliu. Posteriormente, a empresa Takara resolveu relançar o produto, não mais focado no universo infantil, mas, principalmente, em adultos apreciadores de bonecas. Desde então, elas têm sido responsáveis por eventos e encontros temáticos, que possibilitam trocas de peças, exposições fotográficas, venda de bonecas customizadas, assim como de acessórios e cenários. Isso desperta o interesse de pessoas das mais diversas áreas. “Trazer o lúdico para um mercado de compra e venda foi um caminho que o Japão encontrou para superar o contexto da crise mundial. As Blythes, como economia criativa, entra nesse processo como uma opção para reaquecer o mercado”, diz SanHelen, que, além do acervo, também se envolve na promoção de encontros e eventos.
Sendo um exemplo vivo de que as bonecas fazem parte da economia, Madalena Malaquias, uma artesã de 63 anos, decidiu, há dois anos, criar uma loja online para vender os produtos e acessórios que confeccionava para as Blythes. Representando a empresa Duda Linda, Madalena, embora ainda muito nova na área, garante que tem mercado. “Ainda sou novata no mercado, tenho poucos clientes. Mas, ainda assim, vendo de 10 a 15 peças, em torno de R$ 250 a R$ 300 ao mês, utilizando a plataforma de venda Mercado Livre. Meu carro-chefe é o crochê, que me permite executar qualquer tipo de peça: blusas, xales, bandanas, chapéus, biquínis, vestidos, mas as preferidas pelos colecionadores são as toucas e boinas”, afirma.
Coletivo Doll
Para unir pessoas apaixonadas pelas Blythes, Sanhelen criou o Coletivo Doll, que organiza encontros de interessados pelas bonecas. Por meio dele, a maior coleção do Nordeste passará a ser exibida aos poucos, numa espécie de casa-museu.
Onde achar as Blythes?
No Brasil, o principal meio de adquirir as bonecas, bem como os seus acessórios, é através de venda direta entre colecionadores, por meio de plataformas como Mercado Livre ou OLX. Pessoas anunciam Blythes de todos os tipos e estilos, com diversas variações de preço, podendo variar de R$ 1,2 mil a R$ 3 mil, de acordo com a raridade, peças customizadas, roupas, cenários, etc. Vale ressaltar que entre os brasileiros, principalmente, vende-se bonecas Blythes com um custo bem inferior, chamadas de Factories. Elas são bonecas originais que apresentaram alguma falha ou defeito de fabricação e, por isso, ficaram desvalorizadas.
Há quem recorra à coleção como meio de melhorar a si mesma. A advogada Jailde Lemos, 61, por exemplo, conta que, ao conhecê-las e fazer amizades com outros colecionadores, passou a perceber evolução considerável no combate a seu quadro de depressão. “Quando estou em atividade com as blythes eu consigo esquecer a realidade. Saio um pouco do cansaço cotidiano e sou levada a um mundo mais tranquilo e com um cenário mais encantador. Brincar de Blythe alivia a alma”, comentou. Ela frisa que ainda não superou a doença, mas que o mundo lúdico e as relações que criou com outros fãs são uma ótima distração. “Elas são bonecas encantadoras, diferentes, trazem uma energia diferente. Elas cativam. Quando customizadas, podem ter um toque de doçura. Tenho afeição pelas bonecas, inclusive, até nome elas têm, algumas até homenageando pessoas queridas que eu conheço. As bonecas me transportam para outro universo, é uma energia que me ajuda diariamente na luta contra a doença”.
Apesar da prática em torno das Blythes ser uma atividade lúdica, os fãs das dolls garantem que não se trata de uma brincadeira de criança, mas de um jeito adulto de se divertir com elas, como conclui Jailde: “Não nos comportamos como crianças. Somos adultos que têm um gosto em comum pelas bonecas”.
Laís Leon
Repórter
Laís é estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco e escreve para o Diario desde 2016, passando pela editoria de redes sociais antes de integrar a equipe do CuriosaMente.
Shilton Araújo
Fotógrafo
Shilton estuda fotografia na Universidade Católica de Pernambuco e é estagiário de fotojornalismo do Diario desde agosto de 2016.