Quem são as mulheres que dão nome às ruas do Recife?

Mártires, engenheiros, médicos, militares. Não é preciso andar muito para encontrar logradouros que carregam nos nomes, reconhecimento a personalidades locais. E, no entanto, menos de 5% das 11,7 mil travessas, ruas e praças da capital pernambucana foram batizadas em função de mulheres – ainda que, segundo o IBGE, em relação à população recifense, elas representem 53% dos habitantes.

Mais que isso. Segundo a única pesquisa pública dedicada ao assunto, realizada em 2012, pela Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, boa parte das “agraciadas” com ruas tinha alguma relação de parentesco com homens de poder, como barões, comendadores, condes e políticos. É o caso da Viscondessa do Livramento, cuja rua fica localizada no bairro do Derby, e a Baronesa de Palmares, de Boa Viagem. Entre as 561 ruas “femininas”, a maioria é de professoras e “donas”, deixando de lado nomes da ciência local e nacional.

Para a professora de comunicação, pesquisadora de gênero, Fernanda Capibaribe, a pequena quantidade de mulheres homenageadas em logradouros é uma questão histórica e não se resume ao Recife. “Na época da nomeação desses espaços, a configuração social determinava que o lugar feminino era o ambiente doméstico, cuidando dos filhos e da casa”, diz. Esse cenário começou a mudar a partir da década de 1960, quando a mulher foi inserida no mercado de trabalho e conquistou espaço na sociedade. O reconhecimento, no caso é um processo lento e gradual.

 

Entre os 561 logradouros com nomes femininos, encontram-se 28 professoras. Para Fernanda, isso ocorre porque grande parte das mulheres foi inserida no mercado através do magistério. Também são encontradas 14 cantoras – estando a maioria localizada nas periferias do Barro e de Afogados. Entre as intérpretes, a mineira Clara Nunes é a mais reconhecida. Em vida, ela foi a primeira brasileira a vender mais de 100 mil discos.

De uma mulher para outra…

Noites Amadas
(Auta de Souza)

 

Ó noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh’alma canta como a sereia,
Vive cantando n’um mar de rosas;

Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

Vós sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua…

Ó noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua!

Agosto de 1898, Macaíba

Céu Kelner

Céu Kelner

Repórter

Céu é estudante de jornalismo pela UFPE. Escreve para o Diario desde 2015, na equipe de Redes Sociais. Desbrava as histórias da cidades pelo passado da maior capital em linha reta do país…