Pais surdos se comunicam com filhos por meio da música
Sentimentos e vibrações de ondas sonoras se misturam numa forma de comunicação que une alunos surdos aos seus pais e filhos
O pai toca teclado enquanto a filha canta. Geralmente são louvores, músicas da evangélica Aline Barros. Na melodia com a qual tem intimidade desde os 19 anos, o turismólogo Gutemberg Laurentino encontra um dos momentos de maior conexão com a filha Rebeca. É como se comunicam. Ele, surdo, 39 anos, ela, enérgica, com apenas 9. É quando o desafio da deficiência estreita os laços dos dois. Esse é o tipo de relação que se repete no Instituto Inclusivo Sons do Silêncio, na Avenida Guararapes, no bairro de Santo Antônio, no Recife, em que alunos trocam as libras para fazer outro tipo de contato com seus filhos ou com seus pais.
Gutemberg começou a tocar teclado na igreja, lendo partituras e a conexão com a filha foi natural, durante os ensaios, motivado pela curiosidade da menina, então com 6 anos. Tentou ensinar algumas notas à filha, que logo ficou com os pequenos dedos doendo e decidiu assumir a função de cantora. “Sinto a música sair da ponta dos meus dedos para meu corpo inteiro”, completa.
Flávio Vasconcelos, 29, é outro pai na turma de Carlinhos. Mas, enquanto Milena, de 8 meses, ainda não consegue entender com clareza as produções dele, o estudante de aviação mostra o desenvolvimento ao próprio pai, que é músico e tentou ensiná-lo a tocar violão desde a infância.
Entre os problemas na comunicação que fizeram Flávio desistir e a nova chance para a música em sua vida, passaram-se 17 anos. Hoje, aprende teclado e já teve oportunidade de mostrar os aprendizados ao pai, que ficou satisfeito. “Ele me lembrou de treinar mais, o tempo todo”, brinca.
O encontro dos aprendizes é realizado no Edifício Almare, onde Carlos Alberto, mais conhecido como Carlinhos Lua, que sempre trabalhou com música, passou a acrescentar a experiência em libras ao currículo musical, depois de anos lidando diretamente com deficientes físicos, visuais e auditivos em um órgão público. “Percebi que as pessoas tinham dificuldade de comunicação e consegui fazer um curso de libras”, lembra, acrescentando o desejo de dar ainda mais visibilidade a esses artistas, a partir do incentivo, que deve começar dentro de casa.
Oficialmente, Carlinhos Lua é pai de dois meninos e duas meninas; na prática, toma como filhos vários alunos que cruzam sua vida. Após o envolvimento com as libras, o pedagogo, inclusive, já nem consegue conversar sem gesticular com as mãos. A relação com os aprendizes, assim como os ensinamentos, ultrapassa a barreira da sala de aula. “Às vezes a aula termina, saio para ir no médico ou fazer algo e eles me acompanham. É como uma relação de pai e filho”.
Notas que ajudam a curar
Além de forma de comunicação, a música também pode surgir como tratamento terapêutico para diversas doenças. Segundo especialistas, a complexidade da junção de melodia e letra é capaz de despertar diversas áreas do cérebro do paciente, apresentando um canal de comunicação além das palavras – o que pode ser menos “sério” e intimidante que uma conversa em consultório. A musicoterapia não tem restrição de idade, servindo para iniciativas com fetos ainda no útero ou mesmo com pacientes em estado terminal. No Recife, pode ser encontrada facilmente em instituições como a AACD ou em consultórios particulares.
Esse tipo de tratamento pode ser aplicado em pessoas sem nenhuma patologia, mas também ajuda portadores de síndromes como o autismo a melhorar a relação com o outro e amenizar alguns sintomas. “No caso específico do autismo, a gente percebe o cessamento de alguns comportamentos estereotipados e uma melhor interação, porque na musicoterapia nos utilizamos de uma linguagem que não é verbal, é musical”, afirma a presidente da Associação de Musicoterapia do Nordeste, Luciana Frias.
O tipo de música varia de acordo com a necessidade do paciente, sempre avaliado em conversas nas primeiras consultas, e, dentre muitas formas, pode contar com a operação de instrumentos. “Vai depender de cada um. Já utilizei Metallica com um paciente que gostava de rock e metal e já utilizei louvores com um grupo de pacientes evangélicas”, lembra Luciana.
A musicoterapia pode, inclusive, melhorar as relações pessoais do paciente com a própria família. “A presença dos pais nos trabalhos educacionais e terapêuticos infantis é importante porque a criança tem confiança de que alguém está ajudando e essa relação de pai e filho se estreita”, lembra a musicoterapeuta Gabriela Moura. O tratamento pode ser encaminhado por qualquer tipo de médico ou ser buscado por conta própria.
O tipo de música varia de acordo com a necessidade do paciente, sempre avaliado em conversas nas primeiras consultas, e, dentre muitas formas, pode contar com a operação de instrumentos. “Vai depender de cada um. Já utilizei Metallica com um paciente que gostava de rock e metal e já utilizei louvores com um grupo de pacientes evangélicas”, lembra Luciana.
A musicoterapia pode, inclusive, melhorar as relações pessoais do paciente com a própria família. “A presença dos pais nos trabalhos educacionais e terapêuticos infantis é importante porque a criança tem confiança de que alguém está ajudando e essa relação de pai e filho se estreita”, lembra a musicoterapeuta Gabriela Moura. O tratamento pode ser encaminhado por qualquer tipo de médico ou ser buscado por conta própria.
Como funciona a musicoterapia?
Primeiro contato
Interação com instrumentos
Lorena Barros
Repórter
Peu Ricardo
Fotógrafo
Rafael Martins
Fotógrafo
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