Monumentos de praças do Recife (nem sempre) contam as histórias da cidade…

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Monumentos de figuras históricas e obras de artistas expoentes compõem praças do Recife, mas sofrem com desgastes e falta de atenção do público

 

Em meio a praças, há ocupantes que fazem morada. Silenciosos, dividem espaços, noite e dia, com moradores humanos e animais, sem nunca gritar suas histórias, geralmente entrelaçadas com a da própria metrópole. Vão cedendo ao tempo e ao vandalismo que destrói seus braços, óculos, orelhas, narizes… São estátuas, bustos, instalações, monumentos abstratos e tantas outras formas de representar pessoas que ajudaram a escrever as tortas linhas de um Recife esquecido, que desconhece os tijolos de sua fundação.

“Faz muitos anos que esse ‘homem’ está aí. Não sei quem foi, não”, diz Ana Lúcia Cavalcanti, 55, nascida e criada em Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife. O homem em questão, retratado em um busco, seria o padre suíço Romano Zefferey, um dos expoentes da Ação Católica Operária – que, entre 1948 e 1989, defendiam direitos de trabalhadores e movimentos sindicais, em especial, durante a ditadura militar no Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Belém. “Ele nunca foi daqui de Jardim São Paulo, mas foi para homenagear a Ação Católica que Prefeitura e Governo desapropriaram o terreno que hoje era a praça e estava invadido”, completa Adília, outra moradora do Conjunto Residencial El Salvador, uma das poucas que tem conhecimento do “nascimento” do local. “Hoje está tudo abandonado. As pessoas só lembram no São João e é para soltar bomba na estátua”, reclama.

A capital pernambucana reúne 56 praças dotadas de monumentos. A maior parte deles em concreto ou bronze, confeccionadas na segunda metade do século 20 e em alusão a figuras históricas, ao contraponto de algumas poucas obras de caráter subjetivo e abstrato. Em algumas delas, como a Mano Teodósio, em Apipucos, não há qualquer recurso urbanístico além de seu ocupante inanimado, em um pequeno perímetro que não comportaria mais do que o mesmo, além de uma ou duas árvores.

As obras ainda possuem outras duas características em comum. A primeira, e mais remediável, é a situação de abandono que inspiram, com pedaços faltando – desgastes naturais, mas também frutos de vandalismo -, sujeira acumulada e placas de sinalização pouco legíveis ou inexistentes. O trabalho de manutenção desses monumentos cabe à Emlurb, órgão de limpeza e conservação de espaços públicos da Prefeitura do Recife. De acordo com o diretor executivo de projetos e obras, Ricardo Fausto, o trabalho regular consiste num rodízio de vistoriar, a cada trimestre, um total de 400 monumentos espalhados pelo município, o que significaria que cada obra seria vistoriada, no mínimo, três vezes ao ano – um serviço que custa cerca de R$ 400 mil ao ano, fora outros R$ 600 mil em restaurações. “Pichações são mais fáceis de remover, fazemos com recursos e equipes próprias. Restauros são mais complicados, porque envolvem o próprio artista ou empresa que recupere o monumento, num ano atípico (economicamente), tem sido difícil fazer isso”, afirma.

A segunda característica, e mais difícil de contornar, é a cultura popular, que não inclui na lista de interesses, o conhecimento pela história que as obras representam e suprimem, inclusive, o potencial turístico da região – quando, por outro lado, cidades inteiras constroem roteiros em torno das representações plásticas de seus figurões históricos. Esse ponto, que toca diretamente no que diz respeito à educação, é um outro desafio às administrações públicas, certamente insuperável caso o tal abandono físico de monumentos e entornos não deixarem de ser realidade.

Um passeio por monumentos do Recife

monumentos espalhados pelo Recife

praças recebem obras do gênero

meses é o prazo de inspeção pela EMLURB

Ed Wanderley

Ed Wanderley

Repórter multimídia

Ed é repórter do Diario desde 2010. Cobre áreas ligadas à cidade e aos Direitos Humanos, com ênfase em jornalismo digital, de dados e recursos multimídia. É caçador de placas explicativas sobre ruas, cidades e monumentos e nunca dormiu na praça…

Paulo Paiva

Paulo Paiva

Fotógrafo e videografista

Paulo Paiva é fotógrafo do Diario, diz curtir fotografar praças e não ser acostumado a usar flash em monumentos. Não perde oportunidade de registro nos logradouros e alucina com os “assistentes de produção alados” que buscam milho e batem asa nesses lugares.