Filme pernambucano mistura fantasia e realidade em favelas do Recife

por

“A Princesa do Beco e O Lampião Cromado” traz comunidades da Zona Norte da cidade sob os olhos de uma menina de 10 anos, fugindo do estereótipo que liga favelas à violência

 

Dois reinos, princesas e príncipes, um dragão ameaçando a paz dos personagens e um instrumento mágico capaz de transformar toda briga em passos de dança. A imaginação de Severina, uma menina de 10 anos moradora de um beco às margens do canal do Arruda, retrata as favelas da Zona Norte do Recife como ninguém nunca viu: dentro de um conto de fadas. Misturando a realidade com a fantasia, o filme “A Princesa do Beco e o Lampião Cromado” surge com a proposta de quebrar a relação estereotipada entre a periferia e violência propagados nas notícias e no cinema

Ubira Machado / Divulgação

O filme é dirigido pela catarinense Rita da Silva e pelo norte-americano Kurt Shaw idealizadores do FavelaNews, canal feito para retratar a vida nas favelas do Recife e Olinda com vídeos, história dos moradores e oficinas para crianças e adolescentes. Além de mostrar as periferias da RMR no Brasil e exterior, a película busca retratar as favelas de forma diferente do exibido para o resto da população. “Um dos grandes problemas na relação de periferia com o Centro é que a mídia só quer ver a favela como um campo de violência, um jovem da periferia é conhecido sempre dessa forma, aqui apresentamos a favela como uma brincadeira”, afirma Rita.

No longa, Severina conta a história de duas favelas rivais e do herói Okado, morador do mesmo reino que ela. O rapaz é convidado para interpretar um gangster em uma novela, e durante as pesquisas para seu papel descobre quem é o causador da rivalidade entre os dois reinos: um policial corrupto apelidado de galego, representado na imaginação da criança como um dragão. Tentando resolver o problema, ela se arrisca para conseguir a rabeca mágica que transforma briga em dança, mas enfrenta alguns desafios, pois o instrumento está nas mãos do líder do – até então – reino rival.

Grande parte do elenco é composta por moradores de periferias estreantes na atuação. Um deles é Ellan Alves, de 23 anos, conhecido como Okado, apelido recebido ainda na adolescência, durante aulas de break. Morador da favela do Canal do Arruda, o rapper, educador, breakdancer e agora ator lembra de como a periferia se enxerga nas notícias. “Um dia a gente foi fazer um vídeo em Chão de Estrelas e uma senhora chegou falando ‘não morreu ninguém aqui não’”, recorda. Ele já enxerga os frutos trazidos por essas produções para as favelas. “Antigamente a galera tinha vergonha de dizer que mora na favela, falavam ‘eu moro na comunidade do arruda, atrás do campo do Santa Cruz’, hoje em dia já falam ‘eu moro ali na favela do canal’”, afirma Okado.

Ainda no processo de edição, não há previsão para A Princesa do Beco e O Lampião Cromado ser lançado, mas os diretores pretendem exibir o filme nos cineclubes promovidos pelo FavelaNews e submeter a produção a premiações internacionais, trazendo olhos de fora para as favelas do Recife. Rita e Kurt esperam, também, que o filme seja transmitido nas telas de cinema do Brasil. “A gente quer mostrar o filme em um local como o cinema porque é importante que a periferia ocupe um espaço no qual ela não está presente”, lembra a diretora.

Lorena Barros

Lorena Barros

Repórter

Karina Morais

Karina Morais

Fotógrafa