Oficina de Brinquedos: eles trazem a boneca amada de volta em oito dias

Empresa conserta de carrinhos e bonecas antigas a brinquedos adultos, há 13 anos, no Recife

Não há crise nas lojas de brinquedos no Natal. No Brasil, há seis anos não há grandes demissões em fábricas do ramo e desde 2010 nenhuma delas foi fechada, de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos. Mas nos dias seguintes ao 24 de dezembro, as crianças utilizam os brinquedos com tanta vontade que uma enorme quantidade de bonecos, videogames e carrinhos de controle remoto são danificados. O fenômeno é conhecido entre as oficinas de conserto autorizadas como “ressaca” e acontece também depois do dias das crianças, em outubro.

No Recife, uma das alternativas para reaver os brinquedos quebrados durante a ressaca é levar até a Oficina dos Brinquedos, aberta há treze anos e consertando desde eletrônicos de alta tecnologia até bonecas com mais de quarenta anos de idade. “A quebra logo após as datas comemorativas é comum principalmente em relação aos meninos. Eles são muito aventureiros, querem levar a brincadeira a um nível mais alto de diversão. Na última ressaca, um garoto sentou em cima do carrinho de controle remoto para dirigir. Não deu outra: o carrinho parecia ter sido atropelado. Precisamos trocar todo a ‘lataria’ do veículo”, lembra um dos sócios, Ivanildo Félix.

Oficina de brinquedos. Créditos: Paulo Trigueiro/DP.

Em 2015, a oficina recebeu mais de 1,6 mil clientes até o Natal. Pouco antes das datas comemorativas, o movimento também aumenta. Os clientes levam brinquedos antigos para conserto antes de doarem a creches ou ONGs. Um cachorro de pelúcia que o aposentado José Lima barros, 74, comprou para o neto no Natal de 2014, por exemplo, precisou passar pelos técnicos para ser utilizado nas festas do ano seguinte. “Minha família liga para mim assim que um brinquedo quebra para que eu leve na oficina”, conta. “Acho engraçado que, na minha época, nós mesmos consertávamos nossos brinquedos. Meu presente de Natal preferido foi um carrinho de rolimã”.

Boneca de 27 anos precisa de reparos. Créditos: Paulo Trigueiro/DP.

Recebendo os clientes no balcão junto com Félix, o sócio Luciano Quirino gosta de perceber a relação de afeto entre os donos e os seus brinquedos. Para algumas crianças, é preciso estabelecer uma noção de que os bonecos estão doentes e precisam de um médico que cuide deles. “Se não fizermos isso, muitos não conseguem se desfazer. Vemos meninas se abraçarem às bonecas chorando, se despedindo. Isso toca a gente e dá mais vontade de fazer o trabalho”, conta.

Cura e cuidado

Alguns casos ficam marcados para os “doutores”. “Certa vez fomos olhar o circuito de uma boneca que havia parado de falar e o dono não deixou. Pegou com muito carinho, tirou a roupa e, só então, pudemos olhar o que estava errado. Ele confessou que ela era a filha dele com a esposa. Tinha entrado em depressão porque a família tinha lhe deixado e a boneca foi a cura para a doença. Achamos a história estranha, mas percebemos na hora o quanto ela era importante para ele. A boneca saiu daqui falando todas as 27 frases programadas pela fábrica”, lembra Quirino, orgulhoso.

brinquedos consertados em 2015 até o Natal

dias é o prazo máximo para conserto dos brinquedos

mínimo de clientes por dia durante a ressaca

Todo tipo de brinquedo chega para ser consertado. Bonecas são restauradas e peças de acrílico que não são mais vendidas são fabricadas por Quirino, Félix e outros três empregados. Circuitos antigos são reparados e os novos, que utilizam a nanotecnologia, trocados. Mas o brinquedo mais estranho que já chegou na Oficina, de acordo com os donos, foi um “brinquedo adulto”. “Uma mulher chegou com ele, dizendo que era o controle que fazia uma boneca funcionar. Achei estranho, mas claro que não falei nada. Procurei no Google e encontrei. Realmente era preciso conhecer para saber que era um vibrador. Consertamos e entregamos, porque cada um brinca com o que quiser”, conta Félix.

Luciano Quirino. créditos: Paulo Trigueiro/DP.
Ivanildo Félix. créditos: Paulo Trigueiro/DP.

Os brinquedos mais marcantes que passaram pela Oficina:

Boneca: Bebê Bate Palminha

Boneco: Max Steel

Rádio-Controle: Maximus Car

Pelúcia: Pluto Passeio

Veículo elétrico: Camaro

Jogo: Genius da Estrela

A Oficina dos Brinquedos funciona na rua Diogo Álvares, na Torre. O telefone é o (81) 3445-7940.

Paulo Trigueiro

Paulo Trigueiro

Repórter

Paulo é jornalista e psicólogo. Escreve para o Diario desde 2013 e integra a equipe de dados do jornal desde novembro de 2015, no projeto CuriosaMente. Entre os vários brinquedos que lembra com carinho na infância, a guitarra que ganhou em troca de uma viagem à Disney é o que mais marcou e “brinca” até hoje.