Apesar da moda, brasileiros desconhecem verdadeiro (e viciante) mundo do Netflix

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Empresa de streaming ainda ensaia presença digital no Brasil, enquanto oferece o triplo de títulos nos Estados Unidos
O mercado de streaming de vídeo chegou para ficar. Ainda em fase de expansão, essa indústria tem no Netflix a empresa que mais tem demonstrado capacidade de universalizar essa forma de entretenimento ao redor do mundo. No Brasil, a chegada da empresa ocorreu em 2011. Quatro anos depois, já são mais de 2,5 milhões de usuários cadastrados. Na América Latina o número é superior aos 4 milhões de pessoas. Até o final do ano, a expectativa é de alcançar a marca de 70 milhões de usuários em todos os continentes. Para efeito de comparação, é como se toda a população das regiões Nordeste e Centro-Oeste fosse usuária do Netflix.

De acordo com o professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Ferraz, o streaming tem conquistado os consumidores por oferecer um serviço de qualidade por preços acessíveis. “Um download pago de um filme, por exemplo, era algo muito caro. Hoje você paga R$ 20 e tem acesso a um acervo muito grande”, aponta o professor. “Do ponto de vista do mercado legalizado, há uma preferência cada vez mais clara pelo streaming”, complementa.

A diversidade de filmes e séries disponíveis fez com que o administrador de redes, Márcio Almeida, 25 anos, optasse pela utilização do Netflix há cerca de um ano. Ele aponta que a relação custo-benefício faz a balança pesar em favor do serviço. “É um preço abaixo do cobrado pelos planos de tv por assinatura e eu tenho flexibilidade de assistir o que eu desejar a qualquer hora em diversos tipos de dispositivos”, aponta. Márcio aponta ainda que o Netflix é mais seguro em comparação a diversos sites de download disponíveis na internet, além de ser mais rápido. “Eu não gasto o tempo para realizar os downloads, já que é necessário apenas escolher o filme ou a série e assistir. Além disso, a legenda, o vídeo e o áudio são de boa qualidade”, ressalta o analista.

Usuários em milhões

Brasil

América Latina

Mundo

Se jogue no sofá (em 5 sugestões)

5 séries

5 documentários

5 musicais

5 clássicos

Nada alcança a pirataria

O impacto do Netflix no chamado mercado ilegal, entretanto, ainda não é possível mensurar. Mas, ao menos, em curto ou médio prazo é praticamente impossível que o streaming se sobreponha. Mesmo barato, o serviço perde para o download “pirata”, que é grátis. E o Brasil é um dos países que mais alimentam esse “mercados” no mundo. De acordo com pesquisa divulgada em dezembro de 2014 pela revista norte-americana Variety, especializada em entretenimento, o país foi o líder em downloads ilegais das dez séries mais baixadas durante o ano, totalizando 28,4 milhões. “Aqueles fãs mais apressados, não esperam até que a série ou o filme chegue ao streaming e continuarão indo em busca do download”, aponta Carlos Ferraz. Além disso, o acervo do Netflix no Brasil, mesmo em expansão, ainda é restrito em comparação aos títulos disponíveis para os usuários norte-americanos, por exemplo. O acervo disponível nos Estados Unidos é quase três vezes maior que o brasileiro, de acordo com dados de setembro de 2014. “Para que entre aqui no Brasil, tem que disponibilizar a legenda e o idioma dublado, além disso algumas licenças permitem a exibição dos títulos em determinados países. O custo para igualar os acervos seria muito alto”, ressalta. No Canadá, a presença do Netflix ajudou na diminuição do mercado ilegal. Dados mostram que o número de torrents no país nos primeiros anos de funcionamento do Netflix caiu pela metade. A Netflix, no entanto, é ciente do tamanho da pirataria e tem se mostrado que uma mudança não virá de uma hora para a outra. Em entrevista concedida em junho, o CEO da companhia, Reed Hastings, tratou os downloads ilegais, inclusive, como os propulsores do crescimento registrado pela Netflix. Para ele, o torrent e os downloads como um todo, criaram nas pessoas o hábito de ter o filme que quer na hora que quiser e isso pode ser utilizado e otimizado pela empresa.

Uma locadora que só cresce. Sim, você leu “locadora”…

Mesmo com a possibilidade de baixar ou assistir online aos filmes e series, algumas pessoas ainda mantém vivo o hábito de frequentar videolocadoras. O professor universitário Eurico Noblat é um exemplo. Há 17 anos, ele é cliente da mesma locadora, a Loc Point, localizada no bairro do Rosarinho. “O serviço é feito de forma personalizada. Cada vez que vou na locadora, eles traçam o meu perfil”, ressalta. Personalizar o atendimento foi a estratégia adotada pelo Jurandir França. Ele conta que os quatro funcionários do local costumam assistir filmes para que possam fazer uma indicação abalizada aos clientes.
Além disso, ferramentas como o Whatsapp são utilizadas para informar sobre novos lançamentos e sugerir filmes que se adéquem ao gosto do cliente. Talvez por isso, a locadora, além de resistir à batalha contra a pirataria e à popularização dos downloads e da tv a cabo, consiga registrar crescimento. “Chegamos a um patamar que não estamos descendo mais, a cada semana são cerca de 10 novos clientes se inscrevendo”, relata. Os novos se juntam a um cadastro que já totaliza mais de 8 mil pessoas. “As pessoas vem em busca de filmes específicos que não encontram no Netflix e não sabe quando vai passar na TV a cabo, mas os lançamentos também tem boa saída”.
João Vitor Pascoal

João Vitor Pascoal

Repórter

João é estagiário do Diario, com passagem pela editoria de Política e atualmente escreve para a célula de dados do jornal. Usa o Netflix dos outros.
Rodrigo Silva

Rodrigo Silva

Fotógrafo