500 anos da história pernambucana serão digitalizados

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Acervos centenários estão sendo digitalizados nas maiores bibliotecas do estado como forma de preservar a história e facilitar o acesso à população

 

Obras tão raras que só podem ser manuseadas por especialistas, um livro publicado apenas 50 anos depois do descobrimento do Brasil, alguns manuais de séculos passados, armazenados em caixas feitas à mão para não serem danificados. Tudo isso é guardado no acervo da Biblioteca Pública do Estado, Centro do Recife, e, graças a um processo de digitalização, deverá ser disponibilizado à população nos próximos anos. Outras instituições públicas e privadas também passam por processo semelhante, a fim de disseminar o conhecimento de forma gratuita ao público sem agredir as frágeis obras, sobreviventes a séculos de história.

Duas bibliotecas de Pernambuco correm contra o tempo para digitalizar, até 2017, seus acervos de obras raras. O desafio faz parte do projeto Memorial Digital, de 2015, que disponibiliza a 10 instituições do país, maquinário de digitalização, possível de permanecer em uso pelas instituições que cumprirem o prazo para ser utilizado nos demais livros da unidade. Na Biblioteca Pública, o desafio é de escanear quase 700 obras do século 19. Se digitalizadas a tempo, a instituição ganha o direito de usar o equipamento de outras coleções entre os 275 mil livros do local. “Estamos caminhando bem e vamos conseguir cumprir esse prazo”, afirma Andréa Batista, bibliotecária e chefe da unidade de atendimento ao usuário.

Livro mais antigo da biblioteca do Instituto Ricardo Brennand, , "Geografia", do italiano Claudio Tolomeu Alessandrino, 1564

Outra biblioteca contemplada foi a do Instituto Ricardo Brennand, na Zona Oeste do Recife. A digitalização de obras raras, como fotografias e cartões-postais, foi iniciada em 2011 por uma parceria com o Laboratório de Tecnologia e Informação da Universidade Federal de Pernambuco. Hoje, a computadorização de uma coleção com 340 livros sobre o Brasil holandês, tema mais popular da biblioteca, está em processo de finalização. Até o momento, 78,6 mil imagens já foram digitalizadas em todo o acervo. “Somos um grande referencial em Brasil holandês, temos publicações sobre a história do açúcar em Pernambuco e até mesmo grandes acervos de música de compositores pernambucanos”, lembra Aruza Holanda, responsável pela biblioteca.

Outro importante acervo pernambucano com parte das obras disponibilizadas na internet é o da Fundação Joaquim Nabuco, na Zona Norte do Recife. Mais de 5 mil arquivos como livros, cartões-postais, fotografias, cordéis e até mesmo rótulos de cigarros estão disponíveis para consulta pública. O número nem se aproxima da vastidão de obras da biblioteca, cerca de 120 mil títulos, mas permite que o público tenha noção da quantidade de registros históricos de Pernambuco, observando literaturas de cordel ou vendo coleções de fotografias do Carnaval do Estado ao longo dos anos.

Biblioteca Pública de Pernambuco: o tesouro não conhecido pelos recifenses

 

Segundo o Instituto Pró-Livro, 75% dos brasileiros nunca pisaram numa biblioteca e a Biblioteca Pública do Estado é um dos retratos dessa estatística. Localizado ao lado do Parque 13 de Maio, um dos mais movimentados da cidade, o local recebe apenas 6,5 mil visitantes por mês, número que vem caindo com o passar dos anos. “Antes vinham bem mais pessoas, muitas trocaram os livros pelo computador, mas elas não perceberam que, às vezes, é necessária uma mediação para fazer pesquisas. Aqui, temos pessoas para ajudar com isso”, afirma Hélio Monteiro, funcionário da biblioteca desde 2006.

Biblioteca Pública do Estado

milhões de reais é o valor estimado do acervo

  • Obras feitas por homens 60% 60%
  • Obras feitas por mulheres 40% 40%

A diminuição da intimidade do brasileiro com os livros no formato “tradicional” pode ser um dos motivos do distanciamento da população com as bibliotecas, mas o que muitos podem não saber é a gama de serviços oferecidos pelo espaço além dos livros. “O papel social da biblioteca no século 21 é muito diferente do desempenhado na década de 1980. Hoje, ela é um lugar não só para ler, mas com potencial de receber eventos culturais, de reunir pessoas”, afirma o professor do Centro de Informação da Universidade Federal de Pernambuco Diego Salcedo. Para ele, alguns incentivos, como promoção da marca da biblioteca, desde a promoção de jogos infantis até o uso de souvenires são opções que podem ser pensadas pelo local.

No espaço, podem ser encontrados computadores com internet disponíveis para utilização gratuita, uma gama de fotografias, literatura em cordel e até mesmo uma sessão dedicada apenas a livros em braille, um dos espaços que mais chama a atenção do público. A Bíblia em braile é o livro com mais páginas do acervo: são 39 volumes para apenas uma edição, já que todas as páginas não cabem em um livro só; também em braille, o livro Amanhecer, da saga Crepúsculo, tem 17 volumes, que podem ser emprestados por partes apenas com um rápido cadastro no local.

Lorena Barros

Lorena Barros

Repórter

Nando Chiappetta

Nando Chiappetta

Fotógrafo